Quem ou
o que eram os nicolaítas?
Quais obras realizavam ou que doutrina eles ensinavam que
levou o Senhor a dizer abertamente que odiava as mesmas? Eles existiram somente
na era apostólica ou estão ainda entre nós? A bíblia não nos fornece detalhes
sobre eles. As duas únicas passagens que falam sobre os nicolaítas
encontramo-la no livro das revelações – o Apocalipse.
Para revelar o futuro da humanidade, o Senhor se manifesta
a João na ilha de Patmos e lhe revela as coisas que deveriam acontecer nos
últimos dias. No livro que encerra o cânone sagrado, o Senhor manifesta o
cuidado que tem sobre a Igreja que Ele resgatou com seu sangue, ordenando a João
escrever sete cartas aos anjos das sete igrejas que estão na Ásia. Nas cartas
endereçadas aos anjos dessas igrejas, Jesus elogia as virtudes destes ao mesmo
tempo em que os admoesta sobre suas faltas, chamando-os ao arrependimento e
abandono de práticas que poderão comprometer suas entradas no reino dos céus.
Em duas destas cartas - Éfeso
e Pérgamo – chama-nos a
atenção o repúdio do Senhor quanto as obras e doutrina dos nicolaítas. Jesus
elogia o anjo da igreja de Éfeso dizendo: "Tens, porém, isto: que ODEIAS as obras dos nicolaítas,
as quais EU também ODEIO." (Apocalipse 2:6). Mas repreende o da igreja de Pérgamo dizendo: "Assim
tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que EU ODEIO." (Apocalipse 2:15). A
diferença entre os anjos das duas igrejas era que o da igreja de Éfeso, à semelhança de Jesus, também odiava e não compartilhava das ações dos nicolaítas. Já o da
igreja de Pérgamo relaxou quanto a esse cuidado, deixando a igreja a vontade
com alguns deles. Podemos entender que havia uma certa tolerância desta igreja
quanto aos nicolaítas,
permitindo a ação deles no seio desta. Afinal, quem eram esses?
Historiadores como Jerônimo, Epifânio, Teodoreto, Irineu,
Hipólito e Clemente de Alexandria afirmam serem estes seguidores de Nicolau,
prosélito de Antioquia que foi separado para o diaconato na igreja primitiva (Atos 6:5). Deduzem estes que Nicolau havia se desviado do caminho,
pervertendo-se e tornando-se herege, de onde surgiram os nicolaítas. Porém, não há
fundamento histórico e nem bíblico para se fundamentar essa tese.
Para poder se formular algo em relação a eles é necessário
que primeiramente conheçamos o significado etimológico da palavra, bem como ser
essencial estudarmos cuidadosamente o conteúdo da carta endereçada
particularmente aos anjos de cada uma destas igrejas, atentando para o contexto
bíblico-histórico, para assim chegarmos a um entendimento concreto sobre quem
ou o que eram os nicolaítas.
Sentido Etimológico: Em
hebraico: Nicolau=Vitorioso
sobre o povo. Em Grego Nikolaos: adjetivo formado da junção de duas
palavras que é "Nikao" cujo significado é: "conquistar" e "laíta" que é uma derivação de "laikos", que vem de "laos" que significa: "os "leigos", o povo, a massa ou a plebe.
Em resumo, etimologicamente Nicolaíta é: AQUELE QUE DOMINA SOBRE O POVO.
Partindo desse conhecimento, fica mais
fácil entendermos quem eram e o que ensinavam os nicolaítas.
A igreja de Éfeso (Apocalipse 2:1-11).
Após se apresentar ao anjo dessa igreja, o Senhor diz conhecer usas obras, seu
trabalho e sua paciência e, que por assim proceder, ele não poderia sofrer os
maus (Verso 2).
Em seguida, o elogia pela sua cautela e vigilância quanto àqueles que usurpavam
para si o título de apóstolos, desmascarando-os pelas suas mentiras. É
justamente a partir daí que passamos a ter uma imagem do que seriam os nicolaítas. Pelo contexto,
vemos que estes eram homens que se autodenominavam apóstolos sem terem sido
escolhidos ou elegidos pelo Senhor e que também não possuíam o fruto do
Espírito e caráter cristão, virtude necessária para quem tem uma chamada divina
(Gálatas
5 : 22; Efésios 5 : 9). Estes ainda usavam de mentiras,
querendo, com certeza, tirar proveito da igreja do Senhor. A bíblia ainda hoje
fornece os meios para a igreja atual detectar quem tem ou não uma chamada para
o exercício episcopal. É só observar se o tal se enquadra no requisito exigido
pelo Espírito Santo no que concerne ao exercício ministerial, principalmente se
este tem sua família como exemplo a ser seguido. (1Timóteo 3 : 1 - 11).
Contexto histórico da igreja de Éfeso
A igreja de Éfeso teve como seu primeiro pastor o apóstolo Paulo, pois foi ele
quem plantou a igreja nesta cidade. No capítulo 20 do livro de Atos, vemos Paulo
se preocupar com a integridade dessa igreja. Ele estava na Macedônia e
preparava-se para retornar, trazendo a coleta que os irmãos macedônios
arrecadaram para ajudar os irmãos que passavam necessidade em Jerusalém. Ele
sabia que ao chegar a Jerusalém seria preso e não mais veria os irmãos (Atos 20 : 25). No caminho para Jerusalém, Paulo precisou passar pela
Ásia para dar as últimas instruções aquela igreja. Ali chegando aportou em
Mileto, e, de lá mandou chamar os presbíteros (anciãos) que governavam a igreja
de Éfeso e, entre muitos testemunhos, exortações e conselhos, Paulo dá as
seguintes admoestações às lideranças da igreja: “Olhai,
pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu
bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio
sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de
vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se
levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos
após si” (Atos 20 : 28 - 30).
Paulo tinha o Espírito Santo e este lhe revelava o que
aconteceria, tanto a sua pessoa como a igreja, por isso, Paulo fez questão de
alertar às lideranças da igreja de Éfeso quanto a entrada dos lobos
(nicolaítas), que na sua ausência, iriam querer tirar proveito das ovelhas, não
poupando o rebanho. Estes eram crentes de dentro da própria igreja que
perverteriam os ensinos de Paulo e que se autodenominariam apóstolos querendo
atrair a confiança da igreja, para assumir o primado nesta. Paulo relatou aos
irmãos de Éfeso a sua constante preocupação com eles e que durante o tempo em
que foi pastor ali por três anos, não cessou noite e dia, de admoestar com
lágrimas a cada um deles (Atos 20 : 31).
Paulo sabia o quanto a igreja é preciosa para Deus, pois custou um alto preço e
ele mesmo levava sobre o seu corpo as marcas de Cristo que por amor a igreja
adquiriu (Gálatas
6 : 17). Portanto, era inconcebível que outros,
que nada sofreram ou fizeram pela igreja, viessem a seu bel-prazer dominá-la e
subjugá-la.
Agora, na sua última visita aquela comunidade, Paulo
encomenda os irmãos a Deus e à Palavra de Sua graça, lembrando que durante o
tempo em que foi pastor dessa igreja, em momento algum se fez valer de sua
chamada para tirar proveito dos irmãos quando diz: “De
ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestuário. Sim, vós mesmos sabeis
que para o que me era necessário a mim, e aos que estão comigo, estas mãos me
serviram. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário
auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais
bem-aventurada coisa é dar do que receber” (Atos 20 : 33 - 35).
Sim, a igreja de Éfeso foi bem doutrinada quanto ao realizar
a obra do Senhor, recebendo todo o conselho de Deus que lhe foi repassado pelo
seu amado pastor (Atos 20 : 27).
Vemos que essa igreja guardou o conselho de seu pastor até o momento em que
Cristo se revelou a ela no Apocalipse. O próprio Senhor elogia o anjo da igreja
efésia, quando disse que ele pôs a prova aqueles que diziam serem apóstolos,
desmascarando a mentira deles. É certo que por causa disso, ele sofreu
perseguições, pois lutar pela defesa da verdade consiste em angariar inimigos (Gálatas 4 : 16). Mas ele perseverou na paciência e continuou trabalhando
pelo Seu Nome (Apocalipse 2 : 2 , 3).
Um grande exemplo para ser imitado pelas lideranças de igrejas da atualidade.
Algo semelhante também aconteceu nos tempos do apóstolo João
antes de ele ser enviado a Patmos. Alí, Diótrefes, um membro da igreja cobiçava
a liderança. Ele a todo o custo queria o primado, isto é, queria ser o primeiro
e estar acima dos demais membros. Conhecedor que João não concordava com tal
arrogância, não permitia que este fosse recebido na igreja, como se esta fosse
sua propriedade particular. “Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre
eles o primado, não nos
recebe”. (3João 1 : 8).
Temos aqui um nítido exemplo de nicolaísmo,
pois Diótrefes, movido de tal sentimento de poder, falava palavras maliciosas
contra os servos Deus, e, além de não receber os irmãos que com certeza não
apoiavam suas idéias, impedia aqueles que queriam recebê-los, chegando ao ponto
de expulsá-los da igreja (Verso 10). A doutrina dos nicolaítas não achou guarida na igreja de
Éfeso, mas, infelizmente, encontrou apoio na igreja de Pérgamo.
Ao anjo da igreja de Pérgamo (Apocalipse 2:12-17).
Jesus se apresenta como aquele que tem a aguda espada de
dois fios (Sua Palavra fiel), tece elogios pela sua obra, resignação e fé, mas
mostra também a sua falha que é tolerar aqueles que seguem a doutrina de Balaão
e também os que seguem a doutrina dos nicolaítas que Ele odeia. Alguns defendem que os nicolaítas seriam os mesmos que seguem a doutrina
de Balaão, qual seria a difusão da imoralidade dentro da igreja de Deus. Não
são! Mas a doutrina ensinada por Balaão que tem base na avareza é tolerada
pelos nicolaítas. Pedro em
sua segunda epístola se refere a eles como aqueles que deixaram
o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que
amou o prêmio da injustiça (2Pedro 2 : 12 -
15). Judas, o irmão do Senhor alude às
obras destes, quando se refere aqueles que entraram pelo caminho de Caim, foram levados pelo
engano de Balaão e pereceram na contradição de Coré, sendo manchas nas nossas
festas de amor, banqueteando conosco, mas apascentando-se a si mesmos sem temor (Judas 1 : 10 , 11).
Jesus conclama o anjo da igreja de Pérgamo a se arrepender dessa falha, pois se
isso não acontecer, Ele mesmo virá e batalhará contra ele com a espada da Sua
boca.
O pedido da mãe dos filhos de Zebedeu
Em Mateus 20: 21 a 28 temos uma situação, onde a mãe dos filhos
de Zebedeu faz um pedido ao Mestre que despertou a indignação dos demais
discípulos. Ela pediu que seus dois filhos (Tiago e João) se assentassem ao
lado do Senhor, um a esquerda e outro a direita quando da instauração do Seu
reino. Após Jesus falar que não competia a Ele essa decisão, mas ao Pai, Ele
mostra a realidade que deve prevalecer entre os seguidores do Messias: “Então Jesus,
chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios
SÃO ESTES DOMINADOS, e que os grandes EXERCEM AUTORIDADE sobre eles. NÃO SERÁ
ASSIM ENTRE VÓS; mas todo aquele que quiser entre vós FAZER-SE GRANDE seja
vosso serviçal; E, qualquer que entre vós quiser ser O PRIMEIRO, seja vosso
servo; Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e
para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20 : 25 - 28).
Jesus deixa transparecer que Sua vontade em relação a Sua
igreja é que esta jamais fosse dominada por quem quer que seja e Ele nos ensina
pelo seu próprio exemplo que todos somos iguais perante Ele e que somente Ele é
o cabeça e Senhor da igreja. Nele, todos fomos feitos sacerdotes, sendo Ele
próprio o nosso Sumo-Sacerdote para sempre (1Pedro 2 : 9 ; Hebreus 8 : 1).
Ainda em Mateus 23: 8-11,
o amado Mestre reforça esse ensino: “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o
vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra
chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos
chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre
vós será vosso servo”.
O apóstolo Pedro ao aconselhar aqueles que, igualmente a
ele, seriam chamados a cuidar do rebanho do Senhor, diz: “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou
também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante
da glória que se há de revelar: APASCENTAI
o rebanho de Deus, que está entre vós, TENDO CUIDADO DELE, NÃO POR FORÇA, mas
voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como TENDO
DOMÍNIO SOBRE A HERANÇA DE DEUS, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando
aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória”. (1Pedro 5 : 1 - 4). Observem que mesmo sendo escolhido pelo próprio
Cristo para liderar os crentes judeus, Pedro não usurpou para si este título, preferindo ser chamado de
presbítero. E presbítero não é cargo ou título episcopal como se ensina em muitas igrejas, mas a idade madura de um homem. O apóstolo João também se considerava um presbítero, visto ele já ser uma pessoa idosa, um ancião (2João 1 : 1 ;
3João 1 ; 1). Em outra ocasião, quando Pedro e João
foram questionados a respeito da cura do coxo na porta do templo, chamada
Formosa, atribuíram os devidos créditos a quem de direito – Jesus – que é digno de toda a glória e honra
e poder (At
4 : 8 - 16).
Jesus constituiu homens dando-lhes dons ministeriais para
que estes apascentem Sua igreja, conduzindo-a na verdade e em amor para que ela cresça em tudo
naquele que é a cabeça, Cristo (Efésios 4 : 11 -
16). Assim sendo, ninguém tem o direito
de exercer o domínio sobre a herança de Cristo, que é a Sua igreja resgatada
por Seu sangue. Somos preciosos para Deus e Seu Filho. Por causa disso é que
vemos Jesus manifestar repúdio e ódio pelas obras e doutrinas dos nicolaítas. Isto nos faz
refletir no cuidado que Ele tem para conosco que somos Sua igreja, por quem Ele
deu Sua própria vida.
Que os líderes da igreja de hoje possam seguir o exemplo do
anjo da igreja em Éfeso e procure, pela revelação da Palavra discernir os nicolaítas quais se encontram infiltrados no meio
dos verdadeiros homens de Deus. Que também a igreja refute suas doutrinas e
obras, ainda que por causa disso, venha a sofrer afrontas, sabendo que todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão
perseguições (2Timóteo 3 : 12). Nosso conforto e recompensa estão reservados nos céus,
onde uma coroa de justiça aguarda aqueles que combatem o bom combate e amam a
Cristo e Sua vinda, e não se deixam corromper pelo sistema religioso alienado
da verdade que quer manchar a noiva do Cordeiro (2Timóteo 4 : 7 , 8).
Que fiquemos na vocação em que fomos chamados (1Corintios 7 : 20) e tenhamos o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus.
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também
em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual
a Deus” (Filipenses 2 : 5 , 6).
Em Cristo,
Reginaldo
Barbosa
Santa Bárbara do Pará