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sábado, 6 de julho de 2013

DÍZIMO - Uma obrigação ou uma questão de fé?


O dízimo é uma obrigação ou uma questão de fé? 

É impressionante a desinformação que muitos crentes ainda têm sobre essa doutrina. Neste blog já escrevi alguns artigos sobre este tema, usando textos e contextos, mas mesmo assim recebo questionamentos, até mesmo de pastores que me escrevem, tentando convencer-me que o dízimo é uma doutrina em vigor que não deve ser encarado como obrigação, mas como uma questão de fé. Outros ainda me acusam de herege e me perguntam sobre como as igrejas pagarão suas contas de água, luz, telefone e outras despesas; ou ainda como se manterão missionários e se expandirá a obra de evangelização sem o dízimo.

Diante de tais questionamentos, sinto-me no dever de esclarecer ainda mais sobre algo que por muitos anos me foi encoberto, assim como ainda o é para muitos. É claro que por tomar uma posição contrária a essa doutrina, fiz-me inimigos de muitos, perdendo meus privilégios como obreiro na denominação que ainda freqüento. Mas, diante do que a Bíblia claramente ensina sobre esse tema, eu digo a mesma coisa que Pedro e os apóstolos disseram às autoridades eclesiásticas que queriam proibi-los de ensinar a verdade do evangelho: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.” (Atos 5:29).

DÍZIMO NA BÍBLIA ERA ALIMENTO E NUNCA FOI DINHEIRO.

Em toda a bíblia há 34 referencias direta ao dízimo, sendo 25 no Antigo Testamento e apenas 09 no Novo Testamento. Nenhuma dessas referencias mostra que o dizimo em algum momento foi entregue em dinheiro pelos judeus, povo a quem foi dada as leis, inclusive a do dízimo. O dizimo bíblico sempre foi alimento, mas alguns tentam justificar o pagamento em dinheiro na atualidade, alegando que os judeus eram pobres, cuja economia advinha da agropecuária, por isso davam dízimos do fruto da terra e do rebanho. Mas vejamos o que Deus promete a Abraão em relação aos judeus: "Então disse a Abrão: Sabes, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos, Mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza." (Gênesis 15:13,14). O que Deus prometeu a Abrão cumpriu-se quando tirou os hebreus do Egito para levá-los a terra que manava leite e mel. “E eu darei graça a este povo aos olhos dos egípcios; e acontecerá que, quando sairdes, não saireis vazios, Porque cada mulher pedirá à sua vizinha e à sua hóspeda jóias de prata, e jóias de ouro, e vestes, as quais poreis sobre vossos filhos e sobre vossas filhas; e despojareis os egípcios”(Êxodo 3:21,22). 

Como vimos, os judeus saíram do Egito ricos, pois Deus proveu riquezas pra eles, mas dessas riquezas não exigiu dízimos. Também, na caminhada de Israel do Egito à terra prometida durante 40 anos nenhum dizimo foi exigido do povo. Somente após eles tomarem posse da terra prometida e a partir do momento que a terra produzisse seus frutos era que os judeus haveriam de entregá-los (Deuteronômio 26;1,2).

Ao estabelecer a lei dos dízimos para Israel, o Senhor determinou que tudo fosse observado, conforme os preceitos que Ele entregou a Moisés. Em relação a entrega do dízimo, Deus estabeleceu regras a serem obedecidas. Assim sendo, o dízimo não poderia ser entregue em qualquer lugar, mas no lugar que o próprio Deus escolheria para ali fazer habitar o Seu Nome (Deuteronômio 12:11; 14;23). Esse lugar a principio foi Siló, onde o tabernáculo descansou por alguns anos até ser transferido para o monte Gibeom. Mais tarde seria Jerusalém, onde foi construído o templo por Salomão e posteriormente a casa do tesouro que eram câmaras ou depósitos de mantimentos anexos ao templo construídas por Ezequias (2Crônicas 31;11,12; Neemias 10:37-39; 13:9; Malaquias 3:10). 

O dízimo deveria ser levado a esse lugar uma vez ao ano, sendo que se algum judeu habitasse longe desse lugar e o mesmo ficasse impossibilitado pela distância de levar o dízimo, tal deveria vendê-lo e, com o dinheiro da venda prosseguir viagem até o local determinado pelo Senhor. Lá chegando, este deveria com aquele dinheiro comprar tudo o que sua alma desejasse e depois comê-lo, não esquecendo de dar a parte do levita a quem Deus tinha autorizado a receber os dízimos por eles não haverem recebido herança na terra prometida (Deuteronômio 14:22-27). Também, a cada três anos havia um dizimo especial, onde o judeu o ajuntaria na sua própria casa e lá iria o levita, o estrangeiro, a viúva e o órfão que habitassem nas proximidades. Ali, estes comeriam esse dizimo até se fartarem e, por essa ação viria a bênção de Deus sobre a vida do dizimista, que seria abençoado em toda a obra de suas mãos (Deuteronômio 14: 28,29). Observe que a promessa de prosperidade em relação ao dizimo estava condicionada ao ato de se repartir este e saciar a fome dos levitas com o necessitado e não no ato da entrega como defendem os proponentes da falsa teologia da prosperidade.

Deus ainda pediu que após a entrega dos dízimos o dizimista fizesse uma oração, onde em suas próprias palavras o dizimista confirmaria que fez tudo o que o Senhor pediu que se fizesse (Deuteronômio 26:2-15). O dizimista não poderia fazer o que bem entendesse com o dizimo, pois após determinar as regras, Deus admoesta os dizimistas a cumprirem fidedignamente seu mandamento: “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás” (Deuteronômio 12:32)... Neste dia, o SENHOR teu Deus te manda cumprir estes estatutos e juízos; guarda-os pois, e cumpre-os com todo o teu coração e com toda a tua alma (Deuteronômio 26:11).

Deus ordenou que seu mandamento em relação ao dízimo fosse cumprido à risca, não acrescentando ou diminuindo nada do que ele mandou. Por isso, os judeus nunca deram dízimos em dinheiro, porque Deus não aceitava, apesar de eles terem bastante dinheiro, pois Deus os tinha abençoado em tudo (Deuteronômio 2:6,7). Até mesmo no tempo de Jesus não se dava dizimo em dinheiro, pois vemos os fariseus dando-o em hortelã, endro, cominho, arruda e todas as hortaliças (Mateus 23:23; Lucas 11:42). Convém salientar que nestes textos Jesus em momento algum está ensinado a prática do dizimo na Nova Aliança, até por que o Novo Testamento só iniciou após a morte de Jesus (Hebreus 9:16,17). JESUS estava repreendendo os fariseus legalistas que tentavam se justificar diante de Deus pela prática do dízimo, mas esqueciam o que era mais importante para Deus como: exercerem a justiça, usarem de misericórdia e terem fé. E ainda, Jesus estava no cumprimento da lei, sob a qual ele nasceu para cumprir (Mateus 5;17: Gálatas 4:4), por isso, não poderia ser contra a prática dos fariseus dizimarem. O dizimo bíblico acabou na cruz, onde Cristo, pela Sua morte pagou toda a nossa dívida (Colossenses 2:14), isentando Sua igreja das obrigações da lei.

O DIZIMO NA NOVA ALIANÇA SE CONVERTEU EM DINHEIRO?


É o que a maioria das igrejas defendem, ensinam e cobram até com ameaça de maldição para os que não pagam. O dizimo não vigorou na Nova Aliança, assim como a circuncisão, o sábado, sacrifícios de animais para expiação dos pecados e as demais leis dadas ao povo judeu por Moisés que foram apenas sombra da realidade que é a graça. 

Mas, da forma como o dizimo é ensinado atualmente, parece que ele foi a única lei do antigo testamento que milagrosamente resistiu a cruz, onde, pela carne de Cristo rasgada foram abolidos as leis dos mandamentos (Efésios 2;15). Muitos insistem em dizer que o dízimo se faz necessário atualmente por causa das construções de templos e despesas oriundas destes, como; pagamentos de taxas de energia, água, telefone e até mesmo o salário de pastores. Porém, a Bíblia ensina que o dízimo nunca foi para custear construção do templo ou sua manutenção e muito menos para pagar salário de sacerdote. O dizimo era exclusivamente para atender a necessidade alimentícia do levita e dos necessitados. Somente os levitas tinham de Deus autorização para receberem os dízimos do povo. O sacerdote que presidia sobre os levitas recebia apenas a décima parte de todos os dízimos – o dízimo dos dízimos (Números 18:21-24).

Alguns ensinam também que sem os dízimos não tem como a obra missionária e de evangelização avançarem e alcançarem outros povos. Mas, quando olhamos para o ensino de Jesus concernente aos crentes levarem a mensagem das boas novas, vemo-lo ensinando os discípulos a agirem exatamente o contrário daquilo que os pregadores modernos ensinam: “Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos; Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai. Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; Nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordão; porque digno é o operário do seu alimento (Mateus 10:5-10). Veja também o evangelho de Lucas capítulo 10.

A obediência às ordens do Mestre foi o suficiente para o evangelho sair de Jerusalém, passando pela Judéia e Samaria, cruzando as fronteiras e chegando até nós os confins da terra (Atos 1:8). Se Ele ordenou assim, porque não obedecer?

Outro questionamento é: E, quanto ao salário do obreiro, do que eles vão se manter se Jesus ordenou que aqueles que pregam o evangelho que vivam do evangelho? Quando Paulo aludiu a esta questão ele se referiu as palavras do próprio Cristo, conforme está em Mateus 10:10 que disse: “porque digno é o operário do seu alimento”. Mas no evangelho de Lucas 10:7, Cristo claramente afirma:  "E ficai na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem, pois digno é o obreiro de seu salário. Não andeis de casa em casa". Notemos que o salário do obreiro, conforme as palavras do Mestre que os comissiona, se refere a consideração daquele que é beneficiado pela palavra para com o pregador, que deve ser motivado a espontaneamente repartir dos seus bens com aquele que o instrui (Gálatas 6:6), conforme propuser em seu coração, não fazendo por constrangimento, mas por amor (2Corintios 9:7). É importante ressaltar que em 1Corintios 9, Paulo não está ensinando que o obreiro deva ser sustentado conforme eram os sacerdotes do antigo concerto, como muitos entendem e reivindicam. 

O apóstolo Pedro ao se referir sobre a sabedoria que foi dada a Paulo e da forma como ele ensinava discernindo a lei da graça, reconheceu que havia pontos difíceis de entender, mas que nisso os os indoutos e inconstantes torciam, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição (2Pedro 3:16). A primeira carta aos Corintios foi uma delas e que até hoje se deturpam seus ensinos, pois, Paulo estava admoestando os coríntios que estavam sustentando obreiros fraudulentos que os haviam enganado neste particular, onde ele, mostra pelo seu exemplo de dedicação a obra de Deus, que poderia sim ser sustentado pela igreja nesses moldes, mas que preferiu não sê-lo, para não escandalizar o evangelho. Se OUTROS participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, NÓS? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo (1Corintios 9:12).

Agora, se o obreiro se dedicar integralmente ao serviço de Deus, fazendo a obra pelo qual foi chamado, visitando, aconselhando, intercedendo, amando e resgatando aqueles que se afastaram do redil, certamente que seu trabalho será reconhecido pela igreja, sem que ele precise tá cobrando isto, pois a Palavra assim ordena: "Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina;" (1Timóteo 5:17). Sendo o papel da igreja reconhecer o trabalho do obreiro, este jamais deva cobrar por seus serviços ou estabelecer seu próprio salário, muito menos usando o argumento do dízimo para esse fim. E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui” (Gálatas 6:6).

Outros chegam a dizer que o dizimo não é obrigatório para o cristão, pois este é uma questão de fé e que aquele que o dá precisa fazê-lo por FÉ. Ora, existe uma tremenda contradição nesta afirmação, pois, se o crente tem de dar dez por cento de seu salário (ao que chamam de dízimo), não podendo ser mais nem menos e ainda corre o risco de ser amaldiçoado se não o fizer, logo, isto é uma obrigação e não opção. E ainda, o dizimo era obra da lei e a lei não é da fé (Gálatas 3:12). Então, como pode ser este uma questão de fé?

Não sou contra a contribuição na igreja, pois eu mesmo sou um contribuinte. Mas que a igreja seja doutrinada e ensinada que a contribuição deva ser nos moldes que o Novo Testamento que foi firmado no sangue de Cristo nos ensina que, esta deva ser por prontidão de vontade com aquilo que temos: “Porque, se há prontidão de vontade, será aceita segundo o que qualquer tem, e não segundo o que não tem”. (2Corintios 8:12), e também com aquilo que propusermos no coração, fazendo com alegria, para que seja aceita por Deus: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2Corintios 9:7).

Concluo enfatizando mais uma vez que o dizimo não existe na Nova Aliança. Nem por obrigação e muito menos por fé, pois se esta lei ainda estivesse em vigor, deveria ela ser aplicada pelo principio que foi estabelecido por Deus que era o sustento daqueles que nada receberam como os levitas e dos que nada tinham como os órfãos, viúvas e estrangeiros. Deus chegou a pedir para os judeus não acrescentar e nem diminuir aquilo que Ele determinou em relação ao dízimo (Deuteronômio 12:22). E por que razão o mudariamos?


Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará