Páginas

sábado, 30 de novembro de 2013

O que é e o que faz um diácono




Quando eu fiz parte do ministério da Assembleia de Deus, presenciei uma cena um tanto fora do comum, quase que cômica, quando da escolha de novos obreiros para o quadro ministerial desta instituição. Um irmão novo convertido que eu e minha esposa havíamos conquistado para o Senhor foi separado para o diaconato. Este ao aceitar a Jesus na congregação que trabalhávamos como dirigente, dedicou-se ao trabalho de Deus e à oração incessante. Deus o dotou de dons espirituais e logo, começou a falar em outras línguas. Isso foi o suficiente para que o ministério o indicasse como candidato ao diaconato, sem atentarem para os requisitos necessários, quais Deus exige na sua Palavra (1Timóteo 3 : 8 - 13).

Ele, após ser consagrado veio até mim com uma expressão de espanto e dúvidas, me perguntando: - E agora irmão, o que eu faço? Fui consagrado a diácono e não sei o que é isso. O que é que vou fazer agora?

Eu o aconselhei a se acalmar e ficar tranqüilo, pois Deus o ajudaria a cumprir seu ministério. Antes de ser consagrado ou melhor, separado, ele já exercia esse ministério na congregação onde trabalhamos. Alí, voluntariamente ele saía colhendo doações entre os comerciantes para distribuir entre os necessitados sendo crentes ou não e cooperava comigo na obra que realizávamos.

Tal ocorrido me fez refletir sobre o critério de separação ao ministério, praticado por muitas igrejas. Iguais a este irmão, existem muitos que são separados e outros que até se orgulham dos títulos que galgam nas igrejas e querem estar acima dos demais membros, mas que não sabem pra que de fato foram separados, ou pra que estão ali e nem mesmo se preocupam com isso.

Neste pequeno estudo, vamos conhecer o que é um diácono e qual a finalidade de a igreja criar este ministério. De antemão quero dizer que a indicação de um membro ao diaconato precisa partir da igreja e não do ministério ou pastor. Ministério e pastores apenas precisam aprovar a escolha daquela.

O que é um diácono?

A palavra "diácono" vem de uma palavra grega (diakonos) . "Diácono" quer dizer "atendente" ou "servente". Deste termo deriva diakonia (ministério ou diaconato) e diakoneo (servir ou ministrar). O termo ainda se refere a escravos, empregados e obreiros voluntários

A razão da escolha.

Jesus não escolheu diáconos, assim como escolheu os apóstolos. O diaconato surgiu a partir de uma necessidade ministerial, quando a igreja já estava consolidada. O livro de Atos dos Apóstolos conta a história da igreja a partir de sua edificação que se deu em Jerusalém, no dia de Pentecostes. Igreja esta que nasceu e se fortaleceu na doutrina dos Apóstolos, que era a prática do amor fraternal, conforme os apóstolos haviam aprendido de seu Mestre e Senhor, durante o tempo em que foram seus discípulos (Atos 2 : 42 - 46).

Na prática dessa doutrina, todos os crentes viviam uma comunhão plena, onde todos compartilhavam o que possuíam, para que nada faltasse àqueles que nada tinham. Tal ação por parte dos irmãos, fez com que a Igreja caísse na graça do povo e, todos os dias Deus acrescentava à Igreja aqueles que seriam salvos (Atos 2 : 47).

Pessoas de várias classes, línguas e povos abraçaram a nova doutrina e, dessa forma a igreja cresceu em quantidade e qualidade. Contudo, esse crescimento trouxe alguns problemas, principalmente em relação aqueles que não eram judeus, como vemos:

"Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano." (Atos 6 : 1).

Conforme dito acima, a igreja vivia no seu primeiro amor, e, neste amor, ela seguia o ensino que foi legado pelo Senhor que era o amor incondicional ao próximo. A princípio os apóstolos administravam a contribuição dos irmãos repartindo com os necessitados para que ninguém tivesse falta de nada, como diz: "Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos."  (Atos 4 : 34). Mesmo com esse cuidado e com o crescimento da igreja, começaram a surgir problemas, como foi o caso das viúvas gregas. Cientes do problema, os apóstolos imediatamente, tomaram posição para solucioná-lo. Estes, reunindo a igreja expuseram a situação, bem como apontaram a solução para o mesmo.

E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra”. (Atos 6 : 1 - 4). 

Notemos que até então era responsabilidade dos apóstolos receberem e administrar a coleta dos irmãos em favor dos demais. Então, eles passam a igreja, coluna e apoio da verdade a responsabilidade de escolher e eleger homens aptos para que os auxiliassem no ministério cristão e assumissem esta responsabilidade.

O critério para a separação

Os Apóstolos tinham ciência de suas responsabilidades quanto à oração e ao ensino da Palavra, quais eram essenciais para edificação da igreja, portanto, não podiam desviar sua atenção para outras causas. Por isso, eles delegaram à igreja a responsabilidade de escolherem entre si, aqueles que assumiriam aquilo que eles denominaram de importante negócio.

Coube a igreja a responsabilidade de separar homens capacitados para exercerem tal responsabilidade e assim foram separados setes homens: Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia (Atos 6 : 5).

Em relação a escolha daqueles que seriam separados para o diaconato, os Apóstolos tomaram o cuidado de orientar a igreja, quanto ao critério exigido pelo Espírito Santo. Os diáconos deveriam ser portadores das seguintes qualidades (Atos 6 : 3):

a) Homens de boa reputação: Isto é, homens com bom testemunho na sociedade, honestos e não avarentos. O Apóstolo Paulo instruindo a Timóteo, quando da escolha destes, orientou o seguinte: “Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância;  Guardando o mistério da fé numa consciência pura”(1Timóteo 3 : 8 , 9). Estes não poderiam ser avarentos, pois teriam a responsabilidade de cuidar das finanças da igreja de forma a administrá-las em favor de todos aqueles que possuíam alguma necessidade. Existem hoje os que pensam que é tarefa do pastor cuidar das finanças da igreja, mas não é. Os diáconos é que receberam esse "importante negócio", pois os apóstolos não poderiam desviar sua atenção da oração e do ministério da Palavra.

b) Homens cheios do Espírito Santo. Algumas denominações evangélicas priorizam o fato de alguém ser batizado no Espírito Santo e principalmente de este falar em línguas estranhas, como requisito principal e essencial para o cargo. Não quero fazer apologia ao desprezo pela busca do batismo no Espírito Santo, pois sei ser este uma necessidade para o crente, mas, é preciso entender que existe diferença entre ser "cheio" e ser "batizado" com o Espírito Santo. João Batista não era batizado, contudo, era cheio do Espírito Santo desde o ventre materno e fez grandes obras para Deus. O próprio Jesus deu testemunho a favor dele, dizendo que dentre os nascidos de mulher não houve profeta maior que João (Lucas 7 : 28). Para ser um diácono é preciso obedecer aos critérios da Palavra e isto vai muito mais além do que simplesmente falar em línguas estranhas que também é um dom do Espírito Santo. 

c) Homens cheio de sabedoria: Não da sabedoria humana que se adquire nos seminários e faculdades, mas na busca do entendimento da Palavra, onde se descobre a vontade de Deus. Estevão foi um exemplo disso quando disputou com aqueles que queriam acusá-lo de blasfêmia: "E não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava." (Atos 6 : 10). Paulo orava para que os colossenses fossem cheios de sabedoria e inteligência espiritual: "Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus"  (Colossenses 1 : 9 , 10). A sabedoria é um dom divino e a falta deste na vida de muitos obreiros tem causado sérios transtornos, quando não escândalos no seio da igreja.

O conselho de Paulo

Ainda quanto a escolha para o diaconato, Paulo orienta quanto aos requisitos morais que estes devam possuir, onde o relacionamento familiar é o principal testemunho para a escolha destes. Paulo chega a aconselhar até mesmo quanto ao comportamento das esposas destes (I Timóteo 3 : 8 - 13).

8 Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância;
9  Guardando o mistério da fé numa consciência pura.
10  E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis.
11  Da mesma sorte as esposas sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo.
12  Os diáconos sejam maridos de uma só mulher, e governem bem a seus filhos e suas próprias casas.
13  Porque os que servirem bem como diáconos, adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus.

Uma boa posição e muita confiança na fé em Jesus Cristo”. Foi o que aconteceu com os diáconos Estevão e Filipe que se destacaram no ministério da Palavra e na fé. Estevão foi martirizado por defender a ortodoxia (pureza) da palavra (Atos 6 : 8 - 15; 7 : 1 - 60). Filipe se destacou por promover um avivamento em Samaria pelo ensino da Palavra e realização de milagres e maravilhas em Nome de Jesus (At 8; 5 - 40). Ele, inclusive chegou a alcançar a posição de evangelista, um dos dos ministeriais dado a igreja para sua edificação (Atos 21 : 8 ; Efésios 4 : 11).

O que faziam os diáconos.

Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas”. Por essa afirmação dos Apóstolos, alguns entendem que a função dos diáconos é somente servir a ceia aos irmãos, quando no ato desta. Não! É muito mais que isso. Servir a mesa no contexto bíblico neotestamentário era atender as necessidades dos menos favorecidos na igreja, como era o caso das viúvas, pois, tal ação é a identidade da verdadeira igreja de Cristo na terra. Tiago, o irmão do Senhor deixou o ensino que: "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo." (Tiago 1:27). 

O importante negócio de que os Apóstolos trataram, sobre o qual deveriam ser constituídos diáconos, era justamente isso. Não era somente cuidar das finanças da igreja, mas sobretudo procurar conhecer e atender a necessidade dos irmãos, para que os presbíteros pudessem se preocupar exclusivamente a oração e ao ministério da Palavra. O foco desse ministério jamais deveria ser desvirtuado para outros fins, mas é o que infelizmente vemos acontecer nos dias de hoje, quando o primeiro amor não mais se evidencia na vida da maioria dos crentes, inclusive líderes (Mateus 24: 12).

Existem muitos diáconos nas igrejas evangélicas, mas quase não existe ministério diaconal que é servir, seguindo o exemplo do maior diácono que existiu que é o próprio Senhor.


Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará