“Da mesma maneira Eu te digo que tu és Pedro, e
sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não
prevalecerão contra ela” (Mateus 16.18).
Jesus falou que edificaria a sua igreja. Prometeu e cumpriu
quando enviou o Consolador, o Espírito Santo para guiá-la em toda a verdade e
justiça (João 16.13). Não, não foi sobre
Pedro que Jesus edificou a Sua igreja como alguns interpretam, mas sobre a pedra
angular que foi pelos homens rejeitada e que é o próprio Cristo (Salmos 118.22 ; Isaias 28.16). E o próprio Pedro
dá testemunho dizendo que a Pedra é Jesus: “Este
Jesus é ‘a pedra que foi rejeitada por vós, os construtores, a qual foi posta
como pedra angular” (Atos 4.11). Sim, foi sobre esta Pedra que
Jesus edificou a Sua Igreja. E a igreja de Jesus não é uma religião, nem uma
denominação ou mesmo um prédio feito pelas mãos dos homens, mas um organismo
vivo, um edifício espiritual formado de pedras vivas que são pessoas (1Pedro 2.5). O propósito de Jesus para com sua
igreja é que ela como um corpo fosse una e indivisível. No primeiro sinal de
divisão, quando os crentes começaram a mostrar predileção em relação a alguns
apóstolos, coube a Paulo, o apóstolo enviado aos gentios derrubar por terra tal
ideia (1Cor 1.12,13). Mas, dormindo
os homens (Mateus 13.25); isto é,
morrendo os apóstolos, veio o inimigo e semeou o joio no meio da seara (igreja)
e então, no decorrer do tempo veio a divisão e os homens passaram a formar
ministérios particulares, cada um com suas doutrinas peculiares.
Porém a igreja que Cristo edificou continua um corpo santo e
único. Ela é formada por todos aqueles que independente de etnia, raça, cor ou
nação, foram comprados pelo Seu sangue derramado no madeiro (Apocalipse 22.14). Enquanto aguarda o glorioso
retorno de Seu Mestre, a igreja continua sua marcha, não obstante as
perseguições impostas pelos agentes do reino das trevas, pois ela não é desse
mundo (João 17.16). Sua luta neste
mundo não é contra a carne e sangue, e sim contra principados e potestades,
contra os dominadores deste sistema mundial em trevas, contra as forças
espirituais do mal nas regiões celestiais. (Efésios
6.12).
Mas Jesus disse que em relação a sua igreja, as portas do
inferno não prevaleceriam contra ela. O que seria as portas do inferno? Teria o
Senhor dito isso mesmo? Não! O que Jesus afirmou de fato foi que as portas do
HADES não prevaleceriam contra a sua igreja. E o HADES não é o INFERNO! As
muitas versões de bíblias hoje existentes têm causado todo esse problema de
interpretação e levando alguns até a afirmarem que a bíblia é um livro cheio de
contradições e fantasias. Nas versões mais antigas encontramos o termo “hades”,
onde nas traduções modernas foi mudado para “inferno”. Mas, qual a diferença
entre HADES e INFERNO?
Vamos tentar entender o que é o inferno. A palavra inferno é
de origem latina “infernum” e significa “profundezas ou lugares
baixos”. É um termo que originariamente não se encontra nas Escrituras, mas
que é utilizado para designar o estado final da punição dos ímpios que é o “fogo
eterno ou lago de fogo”, onde, segundo Jesus, o diabo com seus anjos e todos os
que cometeram maldades e não se arrependeram de suas ações serão lançados. É o
estado de separação eterna de Deus, o fim de tudo o que é mal. (Mateus 25.41 ;
2Tessalonicenses 1.9). Neste caso, no inferno (fogo eterno ou lago
de fogo) ainda não tem ninguém, pois ainda não aconteceu o juízo final. Quando
acontecer, até mesmo HADES será lançado nele (Apocalipse 20.13,14).
Um ponto importante a se observar é que a utilização da
palavra "inferno", com o tempo ficou associada à ideia de tormento
eterno. Isto aconteceu por falta de coerência na tradução desta palavra de
origem hebraica que trouxe confusão na mente dos leitores. Alguns eruditos
mencionaram essa confusão nas seguintes declarações:
“Muita confusão e compreensão errada foram causadas
pelo fato dos primitivos tradutores da Bíblia terem traduzido persistentemente
o termo hebraico Sheol e os termos gregos Hades e Geena pela palavra
"inferno". A simples transliteração destas palavras por parte dos
tradutores das edições revisadas da Bíblia não bastou para eliminar
apreciavelmente esta confusão e equívoco”.
E o que é o HADES? Do grego ᾅδης (haides) que significa “Habitação
dos mortos”. Na bíblia de Jerusalém encontramos o termo “Mansão dos mortos”. O
HADES é uma equivalência do termo hebraico שאול (SHEOL) que assim passou a ser
chamado, depois que a Septuaginta traduziu a bíblia hebraica para o grego entre
os séculos I e III depois de Cristo. Num sentido geral, o hades pode designar a
sepultura e/ou sepulcro, assim como no Antigo Testamento o termo “sheol”
representa. O Apóstolo Pedro ao se referir sobre o sepultamento de Jesus em
Atos 2.22-31, cita o salmo 16.10, onde Daví diz: “porque
tu não me abandonarás no sepulcro, nem permitirás que o teu Santo sofra decomposição” (Atos 2.27KJA).
As versões mais modernas de bíblias tem substituído o termo sepulcro/sepultura
(hades) por inferno e decomposição por corrupção. Neste último caso, não há
diferença entre os termos.
Então, o que Jesus quis dizer com “as portas do Hades” não prevalecerá
contra a sua igreja?
Muitos pregadores têm usado em seus sermões esta palavra dita
por Jesus, substituindo “hades” por “inferno”, associando-as as perseguições. Eles
ensinam que a igreja, embora passe por lutas, privações e perseguições, sempre se
manterá vitoriosa sobre estes fatos. Porém, não foi isso que Jesus quis dizer. Não!
Jesus nunca ensinou isso. Fosse assim, os primeiros cristãos não seriam
torturados pelos inimigos da fé cristã, e muito menos mortos pelo Nome de Jesus,
como a história registra. As portas do Hades não prevalecer sobre a igreja de
Jesus, significa que ainda que os crentes que a formam venham ser perseguidos e
a descer a sepultura pelo processo da morte (pois todos temos de morrer), eles
não ficarão ali para sempre, pois haverão de se levantar de lá, pela
ressurreição. Assim como o hades (mundo dos mortos/sepultura) não pode conter
nele o dono da vida, assim, os que nele creem e entregaram-lhe sua vida,
haverão também de sair de lá. É este o significado de “as portas do Hades” não
prevalecer contra a Igreja de Cristo. Paulo, o apóstolo enviado aos gentios,
escreveu: “Ora, Deus, que também ressuscitou o
Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder” (1Corintios 6.14).
O profeta Isaias já havia falado sobre isso muito tempo antes: “Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão;
despertai e exultai, vós que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó Deus, será
como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos” (Isaias 26.19).
Enquanto vivermos neste mundo como igreja, devemos estar
cientes que pelo amor a Cristo somos entregues a morte todo o dia, e nada, nem
mesmo a morte pode nos separar do amor de Deus, pois sobre tudo isso somos mais
que vencedores (Romanos 8.36).
Santa Bárbara do Pará