Em Marcos 12 e Lucas 21 está
registrada a história de uma pobre viúva que foi ao templo de Jerusalém e
depositou no gazofilácio como oferta todo o seu sustento, duas pequenas moedas.
Esse notório fato tem servido de inspiração para muitos defensores da teologia
da prosperidade, que usam o ocorrido como meio de incentivar os crentes a
agirem como aquela pobre viúva a darem seu “tudo” para a “obra do Senhor”.
Alguns até vão mais além, alegando que a viúva deu o maior dizimo em relação
aos outros, por dar tudo o que tinha. Ora, dizimo é apenas a décima parte (10%)
e não tudo. Pela justiça divina, viúvas, assim como órfãos e estrangeiros
(gentios) não davam dízimos, mas deveriam ser por eles sustentados (Deut. 14.28,29
; 26.12-15). Neste pequeno artigo quero mostrar por dentro das
Escrituras o motivo pelo qual aquela pobre mulher deu como oferta todo o seu o
seu sustento e Jesus não pode fazer nada para impedi-la.
JESUS VEIO PARA
CUMPRIR A LEI (Mateus 5.17-19)
Desde seu nascimento até sua morte,
Jesus viveu no cumprimento da Lei. Paulo diz: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus
enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, Para remir os que
estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gálatas 4.4,5).
Cristo viveu e ministrou na vigência da antiga aliança e no regime da lei dada
a Moisés. Ele veio para cumprir a Lei (Mateus 5.17). E, antes da Sua morte, onde seu
sangue foi derramado para remissão da humanidade, era necessário todo hebreu ir
uma vez ao templo e levar uma oferta pela expiação dos seus pecados, assim como
obedecer a todos os ritos e cerimoniais da lei. Então, até a morte expiatória
de Cristo no madeiro prevaleceram os ritos mosaicos fixados na Lei, como a
oferta que a viúva deu. É importante salientar que aquela oferta não era voluntária
e nem poderia ser com qualquer valor, mas como a Lei dada por Moisés pedia.
Repito que aquela oferta era obrigatória a todos os hebreus, pois servia como
resgate das vidas e expiação dos pecados.
A LEI DE MOISÉS
Anualmente havia uma contagem dos
hebreus e, todos os de 20 anos para cima deveriam obrigatoriamente dar uma
oferta com um valor determinado que fosse o equivalente a 6 gramas de prata
(meio siclo). Por essa oferta levada uma vez ao ano ao santuário, o ofertante
tinha seus pecados expiados, isto é, a ira de Deus sobre ele era aplacada
temporiamente, devendo o rito ser repetido no ano seguinte. E o dinheiro
advindo dessa oferta era para aplicação na manutenção do santuário, que na
época que foi instituída por Moisés era o tabernáculo e que tempos mais tarde
foi substituído pelo templo erguido por Salomão e que durou até o ano 70eC.
Neste tempo, o templo foi derrubado pelas tropas romanas e desde então, nunca
mais foi reerguido.
Segue a orientação de Moisés, para
recolher essa oferta:
Êxodo 30.11-16:
11 Falou mais o SENHOR a Moisés dizendo:
12 Quando fizeres a contagem dos filhos de
Israel, conforme a sua soma, cada um deles dará ao SENHOR o resgate da sua
alma, quando os contares; para que não haja entre eles praga alguma, quando os
contares.
13 Todo aquele que passar pelo arrolamento dará
isto: a metade de um siclo, segundo o siclo do santuário (este siclo é de vinte
geras); a metade de um siclo é a oferta ao SENHOR.
14 Qualquer que passar pelo arrolamento, de
vinte anos para cima, dará a oferta alçada ao SENHOR.
15 O rico não dará mais, e o pobre não dará
menos da metade do siclo, quando derem a oferta alçada ao SENHOR, para fazer
expiação por vossas almas.
16 E tomarás o dinheiro das expiações dos filhos
de Israel, e o darás ao serviço da tenda da congregação; e será para memória
aos filhos de Israel diante do SENHOR, para fazer expiação por vossas almas.
Assim, ninguém estava isento dessa
contribuição, nem mesmo as viúvas.
A OFERTA DA VIÚVA
POBRE
No tempo de Cristo, uma viúva foi ao
templo e levou sua oferta na caixa dos tesouros que era conhecido como
gazofilácio. Não confundir essa caixa dos tesouros com a casa do tesouro que
era um armazém no templo para estocar mantimentos para levitas, órfãos, viúvas
e estrangeiros. O gazofilácio era uma espécie de cofre que era uma caixa com um
furo na tampa superior, por onde se colocava o dinheiro. Na época que Moisés instituiu
essa lei, não existia o gazofilácio e o dinheiro era entregue diretamente nas
mãos dos sacerdotes. E o gazofilácio foi inventado na época de Joás, rei de
Judá, por uma necessidade de reparar o templo. Isto porque os sacerdotes foram
negligentes quanto ao cuidado que deveriam ter para com a manutenção do
santuário. Joás era garoto quando assumiu o reino e tinha como seu conselheiro
o sumo sacerdote Joiada. Ao ver o templo em estado deplorável, Joás pediu que
os sacerdotes recolhessem a oferta que Moisés havia designado em Lei, conforme
dito acima.
“E
disse Joás aos sacerdotes: Todo o dinheiro das coisas santas que se trouxer à
casa do SENHOR, a saber, o dinheiro daquele que passa o arrolamento, o dinheiro
de cada uma das pessoas, segundo a sua avaliação, e todo o dinheiro que trouxer
cada um voluntariamente para a casa do SENHOR,
Os sacerdotes o recebam, cada um dos seus conhecidos; e eles mesmos
reparem as fendas da casa, toda a fenda que se achar nela” (2Reis 12.4,5).
Assim foi feito. Porém, mais uma vez
os sacerdotes foram omissos quanto a responsabilidade e passaram-se 16 anos e
nenhum serviço no templo foi feito. Então, o rei Joás que já estava com 30 anos
e viu que nada tinha sido feito, inquiriu novamente dos sacerdotes o motivo
pelo qual isso não tinha acontecido.
“Então
o rei Joás chamou o sacerdote Joiada e os mais sacerdotes, e lhes disse: Por
que não reparais as fendas da casa? Agora, pois, não tomeis mais dinheiro de
vossos conhecidos, mas entregai-o para o reparo das fendas da casa. E
consentiram os sacerdotes em não tomarem mais dinheiro do povo, e em não
repararem as fendas da casa. ” (2Reis 12.7,8).
Foi ai que o sumo sacerdote Joiada
teve a ideia de criar o gazofilácio que era uma caixa, semelhante a um cofre e
o colocou perto do altar que ficava na entrada do templo:
“Porém
o sacerdote Joiada tomou um cofre e fez um buraco na tampa; e a pôs ao pé do
altar, à mão direita dos que entravam na casa do SENHOR; e os sacerdotes que
guardavam a entrada da porta punham ali todo o dinheiro que se trazia à casa do
SENHOR. Sucedeu que, vendo eles que já
havia muito dinheiro no cofre, o escrivão do rei subia com o sumo sacerdote, e
contavam e ensacavam o dinheiro que se achava na casa do SENHOR” (2Reis 12.9,10).
Esse dinheiro não era para outra
finalidade, senão fazer a manutenção no templo que naquela época era chamada de
a casa do Senhor, que deveria ser entregue nas mãos de profissionais e
especialistas da época.
“E o dinheiro,
depois de pesado, davam nas mãos dos que faziam a obra, que tinham a seu cargo
a casa do SENHOR e eles o distribuíam aos carpinteiros e aos edificadores que
reparavam a casa do SENHOR. Como também aos pedreiros e aos cabouqueiros; e
para se comprar madeira e pedras de cantaria para repararem as fendas da casa
do SENHOR, e para tudo quanto era necessário para reparar a casa” (2Reis 12.11,12).
E foi nessa caixa que a viúva deu todo
o seu sustento e não podia fazer diferente, pois a Lei assim a obrigava. Jesus
viu e, embora sendo justo e sabendo que alí estava todo o seu sustento, nada
fez para impedi-la, pois Ele estava no cumprimento da Lei e ainda não tinha
morrido para resgate de nossas almas e expiação dos nossos pecados. Mas graças
a Deus Ele morreu e, na cruz, pagou toda a dívida que Moisés estabeleceu em
lei.
“Havendo
riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma
maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz” (Colossenses
2.14).
Na graça não devemos mais nada, pois
todo o preço já foi pago. Por isso, utilizar o exemplo da pobre viúva como
exemplo a ser repetido ou seguido na graça, ou mesmo cobrar alguma coisa como
meio de agradar a Deus e receber suas bênçãos, é tentar anular o sacrifício de
Cristo e atrair sobre sí e sobre
o povo as maldições prescritas na Lei.
"Não
aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que
Cristo morreu debalde." (Gálatas 2.21).
Em Cristo,
Reginaldo Barbosa
Sta. Bárbara do Pará