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quinta-feira, 4 de abril de 2019

A Oferta da Viúva Pobre



Em Marcos 12 e Lucas 21 está registrada a história de uma pobre viúva que foi ao templo de Jerusalém e depositou no gazofilácio como oferta todo o seu sustento, duas pequenas moedas. Esse notório fato tem servido de inspiração para muitos defensores da teologia da prosperidade, que usam o ocorrido como meio de incentivar os crentes a agirem como aquela pobre viúva a darem seu “tudo” para a “obra do Senhor”. Alguns até vão mais além, alegando que a viúva deu o maior dizimo em relação aos outros, por dar tudo o que tinha. Ora, dizimo é apenas a décima parte (10%) e não tudo. Pela justiça divina, viúvas, assim como órfãos e estrangeiros (gentios) não davam dízimos, mas deveriam ser por eles sustentados (Deut. 14.28,29 ; 26.12-15). Neste pequeno artigo quero mostrar por dentro das Escrituras o motivo pelo qual aquela pobre mulher deu como oferta todo o seu o seu sustento e Jesus não pode fazer nada para impedi-la.

JESUS VEIO PARA CUMPRIR A LEI (Mateus 5.17-19)

Desde seu nascimento até sua morte, Jesus viveu no cumprimento da Lei. Paulo diz: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gálatas 4.4,5). Cristo viveu e ministrou na vigência da antiga aliança e no regime da lei dada a Moisés. Ele veio para cumprir a Lei (Mateus 5.17). E, antes da Sua morte, onde seu sangue foi derramado para remissão da humanidade, era necessário todo hebreu ir uma vez ao templo e levar uma oferta pela expiação dos seus pecados, assim como obedecer a todos os ritos e cerimoniais da lei. Então, até a morte expiatória de Cristo no madeiro prevaleceram os ritos mosaicos fixados na Lei, como a oferta que a viúva deu. É importante salientar que aquela oferta não era voluntária e nem poderia ser com qualquer valor, mas como a Lei dada por Moisés pedia. Repito que aquela oferta era obrigatória a todos os hebreus, pois servia como resgate das vidas e expiação dos pecados.

A LEI DE MOISÉS

Anualmente havia uma contagem dos hebreus e, todos os de 20 anos para cima deveriam obrigatoriamente dar uma oferta com um valor determinado que fosse o equivalente a 6 gramas de prata (meio siclo). Por essa oferta levada uma vez ao ano ao santuário, o ofertante tinha seus pecados expiados, isto é, a ira de Deus sobre ele era aplacada temporiamente, devendo o rito ser repetido no ano seguinte. E o dinheiro advindo dessa oferta era para aplicação na manutenção do santuário, que na época que foi instituída por Moisés era o tabernáculo e que tempos mais tarde foi substituído pelo templo erguido por Salomão e que durou até o ano 70eC. Neste tempo, o templo foi derrubado pelas tropas romanas e desde então, nunca mais foi reerguido.

Segue a orientação de Moisés, para recolher essa oferta:

Êxodo 30.11-16:
11  Falou mais o SENHOR a Moisés dizendo:
12  Quando fizeres a contagem dos filhos de Israel, conforme a sua soma, cada um deles dará ao SENHOR o resgate da sua alma, quando os contares; para que não haja entre eles praga alguma, quando os contares.
13  Todo aquele que passar pelo arrolamento dará isto: a metade de um siclo, segundo o siclo do santuário (este siclo é de vinte geras); a metade de um siclo é a oferta ao SENHOR.
14  Qualquer que passar pelo arrolamento, de vinte anos para cima, dará a oferta alçada ao SENHOR.
15  O rico não dará mais, e o pobre não dará menos da metade do siclo, quando derem a oferta alçada ao SENHOR, para fazer expiação por vossas almas.
16  E tomarás o dinheiro das expiações dos filhos de Israel, e o darás ao serviço da tenda da congregação; e será para memória aos filhos de Israel diante do SENHOR, para fazer expiação por vossas almas.

Assim, ninguém estava isento dessa contribuição, nem mesmo as viúvas.

A OFERTA DA VIÚVA POBRE

No tempo de Cristo, uma viúva foi ao templo e levou sua oferta na caixa dos tesouros que era conhecido como gazofilácio. Não confundir essa caixa dos tesouros com a casa do tesouro que era um armazém no templo para estocar mantimentos para levitas, órfãos, viúvas e estrangeiros. O gazofilácio era uma espécie de cofre que era uma caixa com um furo na tampa superior, por onde se colocava o dinheiro. Na época que Moisés instituiu essa lei, não existia o gazofilácio e o dinheiro era entregue diretamente nas mãos dos sacerdotes. E o gazofilácio foi inventado na época de Joás, rei de Judá, por uma necessidade de reparar o templo. Isto porque os sacerdotes foram negligentes quanto ao cuidado que deveriam ter para com a manutenção do santuário. Joás era garoto quando assumiu o reino e tinha como seu conselheiro o sumo sacerdote Joiada. Ao ver o templo em estado deplorável, Joás pediu que os sacerdotes recolhessem a oferta que Moisés havia designado em Lei, conforme dito acima.
“E disse Joás aos sacerdotes: Todo o dinheiro das coisas santas que se trouxer à casa do SENHOR, a saber, o dinheiro daquele que passa o arrolamento, o dinheiro de cada uma das pessoas, segundo a sua avaliação, e todo o dinheiro que trouxer cada um voluntariamente para a casa do SENHOR,  Os sacerdotes o recebam, cada um dos seus conhecidos; e eles mesmos reparem as fendas da casa, toda a fenda que se achar nela” (2Reis 12.4,5).

Assim foi feito. Porém, mais uma vez os sacerdotes foram omissos quanto a responsabilidade e passaram-se 16 anos e nenhum serviço no templo foi feito. Então, o rei Joás que já estava com 30 anos e viu que nada tinha sido feito, inquiriu novamente dos sacerdotes o motivo pelo qual isso não tinha acontecido. 

“Então o rei Joás chamou o sacerdote Joiada e os mais sacerdotes, e lhes disse: Por que não reparais as fendas da casa? Agora, pois, não tomeis mais dinheiro de vossos conhecidos, mas entregai-o para o reparo das fendas da casa. E consentiram os sacerdotes em não tomarem mais dinheiro do povo, e em não repararem as fendas da casa. ” (2Reis 12.7,8).

Foi ai que o sumo sacerdote Joiada teve a ideia de criar o gazofilácio que era uma caixa, semelhante a um cofre e o colocou perto do altar que ficava na entrada do templo:

“Porém o sacerdote Joiada tomou um cofre e fez um buraco na tampa; e a pôs ao pé do altar, à mão direita dos que entravam na casa do SENHOR; e os sacerdotes que guardavam a entrada da porta punham ali todo o dinheiro que se trazia à casa do SENHOR.  Sucedeu que, vendo eles que já havia muito dinheiro no cofre, o escrivão do rei subia com o sumo sacerdote, e contavam e ensacavam o dinheiro que se achava na casa do SENHOR” (2Reis 12.9,10).

Esse dinheiro não era para outra finalidade, senão fazer a manutenção no templo que naquela época era chamada de a casa do Senhor, que deveria ser entregue nas mãos de profissionais e especialistas da época.

“E o dinheiro, depois de pesado, davam nas mãos dos que faziam a obra, que tinham a seu cargo a casa do SENHOR e eles o distribuíam aos carpinteiros e aos edificadores que reparavam a casa do SENHOR. Como também aos pedreiros e aos cabouqueiros; e para se comprar madeira e pedras de cantaria para repararem as fendas da casa do SENHOR, e para tudo quanto era necessário para reparar a casa” (2Reis 12.11,12).

E foi nessa caixa que a viúva deu todo o seu sustento e não podia fazer diferente, pois a Lei assim a obrigava. Jesus viu e, embora sendo justo e sabendo que alí estava todo o seu sustento, nada fez para impedi-la, pois Ele estava no cumprimento da Lei e ainda não tinha morrido para resgate de nossas almas e expiação dos nossos pecados. Mas graças a Deus Ele morreu e, na cruz, pagou toda a dívida que Moisés estabeleceu em lei.

“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz” (Colossenses 2.14).

Na graça não devemos mais nada, pois todo o preço já foi pago. Por isso, utilizar o exemplo da pobre viúva como exemplo a ser repetido ou seguido na graça, ou mesmo cobrar alguma coisa como meio de agradar a Deus e receber suas bênçãos, é tentar anular o sacrifício de Cristo e atrair sobre sí e sobre o povo as maldições prescritas na Lei.

"Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde." (Gálatas 2.21).

Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Sta. Bárbara do Pará