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sábado, 10 de setembro de 2016

A Contribuição no Novo Testamento e seu objetivo


"Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria." (2Coríntios 9 . 7).

O Novo Testamento não ensina sobre o dever do crente dizimar e nem ofertar. Fomos acostumados a chamar a contribuição de oferta, assim como chamamos de dízimo aos 10% das rendas que fomos ensinados a dar nas igrejas. Em estudos anteriores, enfatizo que o ato de dizimar era um rito inerente a Lei mosaica que teve seu cabal cumprimento na cruz, onde Jesus, com sua morte pagou todas as nossas dívidas que a Lei e o pecado exigiam, inclusive a morte (Romanos 6. 23 ;Colossenses 2 . 14). E quanto a oferta, o Novo Testamento também não ensina sobre o crente ofertar. Nas poucas vezes que encontramos o termo oferta nos escritos do Novo Testamento, algumas delas são aludindo aos ritos praticados quando o Antigo Testamento ainda vigorava (Mateus 2. 11 ; 8 . 4 ; 15 . 5 ; Lucas 2 . 24 ; 21 . 1 – 4); enquanto que outras estão referindo-se a Cristo, a verdadeira oferta (Romanos 15 . 16 ; Efésios 5 . 2 ; Hebreus 5 . 3 ; 10 . 5 – 8). O ato de ofertar, bem como a própria oferta na bíblia estava relacionado a sacrifícios e, diferente do dízimo, onde os necessitados estavam isentos de praticar, a oferta era obrigatória a todos os hebreus, como ordenava a Lei. Como exemplo disso, temos a ação da viúva pobre que no cumprimento da Lei, depositou no gazofilácio do templo as duas únicas moedas que eram todo o seu sustento (Lucas 21 . 1 – 4). Jesus sabia que a pobre viúva dependia daquelas moedas, e mesmo sendo justo, não a impediu de fazer aquele rito, pois Ele mesmo estava no cumprimento da Lei (Mateus 5 . 17). Porém, cumprindo a Lei na Sua morte, Cristo desobrigou-nos de todo os ritos desta. "Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, Mas corpo me preparaste;" (Hebreus 10 . 5).

A FINALIDADE DA CONTRIBUIÇÃO NO NOVO TESTAMENTO

Mas, se o Novo Testamento não ensina a dizimar e nem a ofertar, ensina o que? Ensina a contribuir! Mas o contribuir na Nova Aliança não é por força de lei, nem por obrigação como era a oferta levítica e muito menos pela imposição de porcentagem como era o dizimo. Muitos teólogos tentam associar a contribuição na graça com o ato de ofertar e dizimar como era na Lei. Isto como uma manobra para incentivar os cristãos a investirem em construção de templos e suas manutenções, e também a pagar os salários daqueles que ministram nesses. Mas Paulo, o imitador de Cristo e apóstolo dos gentios, ensina que a contribuição na graça deve ser um ato voluntário, levando em conta a boa vontade do doador, que deva fazê-lo com alegria e por amor, visando prioritariamente o bem estar do irmão mais necessitado (2Corintios 9 : 7 – 12).

Não encontramos no Novo Testamento a menor referência que ensine que a contribuição na graça seja para edificar templos ou manter seus clérigos. Todos os versos que falam sobre a contribuição, apontam para o exercício da piedade que é a prática do amor fraternal em obediência aos mandamentos que o Senhor legou à Sua igreja. Amor esse que se constituía na doutrina que à igreja era repassada pelos apóstolos. "E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações." (Atos 2 : 42).

A CONTRIBUIÇÃO NA IGREJA PRIMITIVA

A partir do momento em que a igreja do Senhor foi consolidada como está registrado no livro de Atos dos Apóstolos, vemos que os crentes que a formava, eram ensinados pelos seus líderes a repartir do que tinham com os que não tinham. No início da igreja as arrecadações eram administradas pelos apóstolos. Todos os que tinham o desejo de contribuir com a obra de Deus, tendo suas propriedades as vendiam e levavam o produto da venda aos pés dos apóstolos. Mas convém dizer que a obra de Deus eram as vidas humanas e o destino dessas contribuições eram os mais necessitados. "Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha." (Atos 4. 34 , 35). Dessa forma, a igreja vivenciava o que o Senhor havia ensinado que era a prática do amor a Deus e ao próximo. “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister.” (Atos 2 . 44 , 45).

Mas, com o crescimento da igreja, os problemas foram aparecendo. E o primeiro problema foi a acepção de pessoas condenada na bíblia. A distribuição de mantimentos que eram adquiridos pelas contribuições da igreja, deveriam ser distribuídos de maneira igual com todos os que tinham necessidade. Mas, os crentes judeus passaram a priorizar o atendimento ao seu próprio povo e passaram a desprezar os gentios, no caso as viúvas gregas. Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano” (Atos 6 . 1). A partir desse problema, surgiu a necessidade de se constituir na igreja o ministério diaconal. Os apóstolos então entraram num consenso que não deviam abandonar a responsabilidade de ensinar a Palavra de Deus para servirem as mesas. Servir as mesas era repartir o mantimento com o produto das arrecadações da igreja, com os necessitados. Assim, eles delegam à igreja a responsabilidade de escolher do meio dela, sete homens qualificados para que fossem constituídos sobre este importante negócio.Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio” (Atos 6 . 3). Os diáconos então passaram a administrar os recursos arrecadados pela igreja, enquanto os líderes (apóstolos) dedicavam-se ao ministério da oração e da palavra (Atos 6 . 4). Muito se fala atualmente em voltar ao modelo da igreja primitiva. Mas nenhum líder quer abrir mão da administração das finanças, como os apóstolos fizeram. E os diáconos nas igrejas possuem apenas os títulos eclesiásticos, mas não o ministério diaconal.

A igreja em seu início vivia na prática o maior mandamento que Jesus nos deixou e isso agradava sobremaneira o coração de Deus. A igreja praticava de fato o primeiro amor, de sorte que, agindo assim, ela caia na graça do povo e Deus acrescentava todos os dias a ela, aqueles que deveriam ser salvos (Atos 2 . 47). É bem certo que naquele tempo o templo ainda estava em pé e muitos crentes que eram judeus ainda o frequentavam conforme o seu costume. “E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração” (Atos 2. 46). Atente o leitor que crentes gentios não entravam no templo, visto a lei dos judeus não o permitir para que aquele lugar não fosse profanado (Atos 24 . 6). Por isso, a comunhão do corpo de Cristo no partir do pão era feita nas casas dos irmãos, onde todos tinham a liberdade de servir ao Senhor com alegria e singeleza de coração. Porém, enfatizo: as contribuições da igreja não eram para a manutenção do templo que ainda existia, pois para isso, havia uma oferta específica na Lei para esse fim, que deveria ser obedecida pelos judeus enquanto o templo existisse (2Reis 12 . 4). Creio que os crentes judeus a obedeciam, no entanto quanto a contribuição levantada pela igreja, estas eram levadas aos pés dos apóstolos que as repartiam segundo as necessidades de cada um (Atos 4 . 3 4 -  37).

É certo que o Espírito Santo avisou que nos últimos dias, homens avarentos e gananciosos considerariam essa piedade como fonte de lucro e tirariam proveito disso, como atualmente se vê (1Timóteo 6 . 3 – 5).

A COLETA(CONTRIBUIÇÃO)DAS IGREJAS GENTIAS NA MACEDÔNIA E ACAIA

Depois do evento ocorrido em Atos dos Apóstolos que foi registrado por Lucas, vamos encontrar o apóstolo dos gentios tratando sobre esse assunto em suas cartas. Ao escrever aos crentes de Roma, Paulo manifesta o desejo de ir vê-los quando partisse para a Espanha (Romanos 15 . 24). Porém, Paulo vê como prioridade ir a Jerusalém a fim de ministrar aos irmãos, isto porque, os crentes gentios da Macedônia e da Acaia haviam achado por bem levantar uma coleta para ajudar os irmãos pobres de Jerusalém (Romanos 15 . 25 , 26). A decisão de Paulo a ir a estes lugares foi relatado por Lucas em Atos 19 . 21: “E, cumpridas estas coisas, Paulo propôs, em espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia, dizendo: Depois que houver estado ali, importa-me ver também Roma”.

Jerusalém, lugar onde a Igreja do Senhor nasceu passava por uma grande crise econômica e financeira. Muitos irmãos da igreja em Jerusalém estavam passando por grandes necessidades e as igrejas gentias o na Macedônia (Filipos, Tessalônica e Beréia) e na Acaia (Corinto) propuseram levantar uma contribuição e enviar a Jerusalém a fim de suprir a necessidade daqueles irmãos. A atitude das igrejas gentias em relação a igreja em Jerusalém era um sentimento de fraternidade e de gratidão a Deus, pelo fato de haverem alcançado a salvação que havia saído dos judeus (João 4 . 22). Paulo é enfático em relação ao objetivo daquela contribuição, quando diz que era para os pobres e não para outra causa. “Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém. Isto lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais.” (Romanos 15 . 26 , 27). Paulo deixou claro aos crentes de Roma que só poderia ir vê-los depois que ele mesmo fosse a Jerusalém administrar a contribuição aos irmãos (Romanos 15 . 28).

A COLETA (CONTRIBUIÇÃO) DOS CRENTES CORÍNTIOS (ACAIA).

Nas duas cartas que escreveu aos crentes de Corinto, Paulo ensina claramente sobre a virtude de contribuir com a obra do Senhor. Mas, o que seria a obra do Senhor no contexto neotestamentário? Vamos entender lendo com cuidado as cartas paulinas.

NA PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS

No último capítulo da primeira carta aos Coríntios, Paulo fala sobre a coleta que se deve fazer aos santos, que no caso, eram os pobres de Jerusalém, como vimos acima. Lendo cuidadosamente a primeira carta aos Coríntios, observamos que o capítulo 16 inicia no último verso do capítulo 15 que diz: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” (1Corintios 15 . 58). Com certeza, houve um equívoco daqueles que dividiram as escrituras, pois sabemos que as escrituras sagradas num todo, não foi escrita em capítulos e versículos. Essa divisão foi feita posteriormente para ajudar na leitura da mesma. Quem dividiu a bíblia em capítulos foi o clérigo inglês Stephen Langton no início do século 13 EC. Tempos depois se tornou arcebispo de Cantuária. Ele fez isso, quando era professor na Universidade de Paris, na França. Cerca de 300 anos depois, na metade do século 16, o renomado impressor e erudito francês, Robert Estienne, tornou as coisas ainda mais fáceis ao dividir os capítulos em versículos numerados. Assim, podemos constatar que alguns versos ficaram de fora do contexto de determinados assuntos tratados na bíblia, como as cartas paulinas. Por isso que o capítulo 16 de primeira Coríntios, onde Paulo fala sobre a coleta para os santos tem seu inicio  no verso 58 do capítulo 15, visto ele tratar no capítulo 16 da obra de Deus. Confira Romanos 14 . 15 a 20, onde Paulo demonstra um cuidado com a vida humana como sendo a verdadeira a obra de Deus.

Falando sobre este assunto tão importante para a igreja, que é a contribuição para a obra do Senhor, Paulo deixa entendido que as coletas ou contribuições, não eram recolhidas a cada culto, como se faz atualmente em todas as igrejas, inclusive a católica romana. Há pastores que dizem nas igrejas (já ouvi isso): “culto que não se colhe dízimos e ofertas, não é culto completo”. Mas aqui Paulo ordena que as contribuições devessem ser recolhidas no primeiro dia da semana, onde cada crente deveria por de parte o que pudesse ajuntar, e de conformidade com sua prosperidade, para que não se fizessem as coletas quando ele chegasse (1Corintios 16 . 2). E estas coletas não eram feitas durante o culto. Paulo foi pessoalmente a Macedônia receber essa bênção, para enviá-la a Jerusalém. Essa contribuição ele confiaria a homens honestos, quais a igreja de Corinto deveria avalia-los e aprova-los a fim de levar essa graça até Jerusalém. “Então, quando estiver entre vós, enviarei com carta de recomendação os homens que aprovardes para levarem a vossa contribuição para Jerusalém” (1Corintios 16 . 3 KJA). Observe que no tocante a administração dos recursos dos irmãos, Paulo delegava à Igreja, coluna e apoio da verdade, o direito de escolher os homens certos para cuidarem dessa benção, assim como os apóstolos responsabilizaram a igreja na escolha dos diáconos. Infelizmente, na atualidade a igreja não tem essa voz. Pelo contrário, ela sequer pode questionar a aplicação dos recursos arrecadados. Os poucos que ainda ousam fazer são considerados rebeldes e alguns até são excluídos das instituições.

NA SEGUNDA CARTA AOS CORÍNTIOS

Nesta carta, Paulo continua tratando do mesmo assunto e chega a ocupar dois capítulos inteiros (8 e 9). É certo que muitos crentes e até teólogos tentam associar os escritos de Paulo ao ato de ofertar e dizimar, querendo levar o povo a crer nessa doutrina. Vamos ver se isso procede.

No capítulo 8, Paulo traz novamente a lembrança o que os macedônios fizeram. “Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia” (2Corintios 8 . 1). Do verso primeiro ao quinto, Paulo elogia o trabalho dos macedônios que mesmo sendo pobres, doaram-se a Deus e aos irmãos, com alegria e riqueza de generosidade. E mais uma vez deixa bem claro que essas coletas não eram para outros fins, senão para o auxilio dos santos. “Porquanto posso dar testemunho de que contribuíram de livre vontade na medida de seus bens, e até mesmo acima disso! Pois nos solicitaram com muita insistência, o privilégio de participar da assistência em favor dos Santos” (2Corintios 8 . 3 , 4 KJA). Diferente das igrejas da Macedônia que eram pobres, as igrejas da Acaia eram ricas e prósperas. As igrejas da Macedônia, inclusive, chegaram até a suprir a necessidade de Paulo, para ele não ser pesado aos coríntios.  “Porque os irmãos que vieram da Macedônia supriram a minha necessidade; e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei” (2Corintios 11 . 9). E quando esteve preso, recebeu ajuda da igreja em Filipos (Filipenses 4 . 15).

A partir do verso seis até o vinte e quatro, Paulo dá exortações e aconselhamentos aos coríntios, mencionando a Tito, seu cooperador que foi quem ele enviou aquela igreja, a fim de ajudá-la no ministério de arrecadação de recursos. “De tal maneira que pedimos a Tito que, assim como já havia começado, semelhantemente completasse essa expressão de graça da vossa parte... Agradecemos a Deus por ter colocado no coração de Tito a mesma dedicação por vós; pois Tito não apenas aceitou a nossa solicitação, mas já partiu para vos visitar, com muito entusiasmo e por iniciativa própria” (2Corintios 8 . 6 ; 16 , 17).

Neste capítulo, Paulo ensina claramente que a contribuição deva ser motivada pelo amor ao próximo e por prontidão de vontade, isto é, com disposição de servir a Deus na pessoa do semelhante (versos 7 a 10).No entanto essa contribuição não deva ser de forma irresponsável, onde o crente possa se sacrificar como algumas igrejas ensinam. “Agora, porém, completai também o já começado, para que, assim como houve a prontidão de vontade, haja também o cumprimento, segundo o que tendes. Porque, se há prontidão de vontade, será aceita segundo o que qualquer tem, e não segundo o que não tem” (2Corintios 8 . 11 , 12). É bem certo que os macedônios deram além do que tinham, mas isso foi um ato voluntário da parte deles e que Paulo usou como exemplo para motivar os coríntios a exercerem o mesmo sentimento de amor e piedade. Mas aos crentes coríntios Paulo aconselha-os a contribuir de conformidade com o que eles têm e não com o que não tem, mostrando que a contribuição na igreja deve ser para atender um principio de igualdade entre os irmãos. “Mas, não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão, Mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade; como está escrito: O que muito colheu não teve de mais; e o que pouco, não teve de menos.” (2Corintios 8 . 13 , 15).

Ao falar sobre o principio de igualdade, Paulo faz referência ao episódio que aconteceu no deserto quando Deus enviou o maná pela primeira vez. Deus havia ordenado os hebreus a colherem diariamente a medida de um ômer por cabeça, para que todos igualmente fossem alimentados. Mas uns hebreus gananciosos colheram além da medida, enquanto que outros colheram de menos. Porém, quando o maná foi medido com o ômer, àquele que recolheu de mais não lhe sobrou e àquele que recolheu de menos não lhe faltou (Êxodo 16 . 15 – 18). Com isso, Deus mostrou que "Dois pesos diferentes e duas espécies de medida são abominação ao SENHOR, tanto um como outro." (Provérbios 20 . 10). Deus deseja a igualdade no meio do seu povo e a contribuição na igreja deva seguir esse princípio divino. Mas esta igualdade não é vista nas igrejas, pois apenas uns poucos são beneficiados em detrimento do sacrifício de muitos. E vale lembrar que esses que atualmente são beneficiados pela contribuição da igreja moderna não são os pobres e necessitados, pois até esses são explorados no pouco que tem.

No restante dos versos que é do 16 ao 24, Paulo mais uma vez demonstra um cuidado com aqueles que administrariam essa contribuição, ou seja, com aqueles que levariam a contribuição ao seu destino. Como vimos, Tito foi um deles por ser honesto, desprendido de avareza e de extrema confiança de Paulo. “Evitando isto, que alguém nos vitupere por esta abundância, que por nós é ministrada;Pois zelamos do que é honesto, não só diante do Senhor, mas também diante dos homens” (2Corintios 8 . 20 , 21). Hoje, alguns até evitam prestar contas à igreja daquilo que ela mesma contribui.

A LEI DA SEMEADURA

“E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará” (2Corintios 9 . 6).


Muitos utilizam esse texto que fala da lei da semeadura, de forma isolada e distorcida, como maneira de levar os crentes a semearem em “terrenos estranhos”, como: contas de igrejas ou de seus fundadores; programas radiofônicos e/ou televisivos; edificação e manutenções de prédios (templos) e até para pagar viagens de pastores à terra de Israel. Mas não foi esse o ensino de Paulo às igrejas. O principio da semeadura para uma boa colheita é semear no terreno certo que é a vida do irmão necessitado. Esta é a verdadeira obra de Deus. Quem sabe Paulo se utilizou do ensino de Salomão que também falou sobre esse principio no antigo pacto: “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás. Reparte com sete, e ainda até com oito, porque não sabes que mal haverá sobre a terra”. (Eclesiastes 11 . 1 , 2). Muitos são ensinados a contribuir nas instituições, objetivando um retorno imediato. Mas, o retorno será “depois de muitos dias”, como diz as escrituras ou no tempo que Deus achar conveniente. Quem semeia segundo o ensino dos homens, não pense que receberá alguma coisa de Deus.
 
Dos versos 7 ao 14 desta epístola, constatamos a grande verdade que a contribuição levantada pela igreja, em momento algum foi para algum tipo de obra humana e sua manutenção. Era exclusivamente destinada a atender a necessidade dos pobres, como diz: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; Conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre. Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça;” (2Corintios 9 : 7 – 10). Ao dizer: “Conforme está escrito”, Paulo fez uso do Salmo 112 que mostra as qualidades do homem que teme a Deus e pratica a justiça, dispondo de seus bens para ajudar o necessitado e sendo por isso abençoado grandemente por Deus com sua família.

Mas alguém pode perguntar: Como vamos manter os templos com suas despesas? Jesus não mandou a sua igreja construir templos, pois este foi um costume do judaísmo. E quanto ao sustento do obreiro na nova aliança? O sustento do obreiro segue um principio, no qual já escrevi sobre ele. Acesse aqui:
http://crentefeliz.blogspot.com/2015/10/digno-e-obreiro-de-seu-salario-mas-qual.html

Finalizo afirmando que a contribuição nada tem a ver com dízimos e ofertas. Porém, assim como o dízimo na lei era um principio de Justiça, Misericórdia e Fé, principalmente em favor da causa dos necessitados (Mateus 23 . 23); assim é também a contribuição. Na igreja primitiva homens íntegros, honestos eram escolhidos para administrarem a contribuição da igreja no seu objetivo. Mas e hoje?

"Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?" (Gálatas 4 : 16).

Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará
                                                                                                                                                
Fontes: Bíblia Sagrada Almeida Corrigida Fiel ao texto original (ACF)
                Bíblia King James Atualizada.

sábado, 6 de agosto de 2016

O Dízimo no Novo Testamento



INTRODUÇÃO

Neste blog muito já escrevi a respeito da doutrina do dizimo, da maneira como é ensinado na bíblia.  Já escrevi sobre o dízimo de Abrão e o dizimo de Jacó que foram antes da Lei, bem como do dízimo na Lei que Deus deu como herança aos Levitas e um direito dos necessitados, conforme a última publicação. Neste post dissertarei sobre o dízimo no Novo Testamento. Mas o Novo Testamento fala sobre o dizimo? Sim, fala! Fala aludindo a exemplos que ocorriam na velha dispensação quando o dizimo valia na Lei, mas não ensina que aqueles que vivem sob a Lei de Cristo, na dispensação da Graça na Nova Aliança, devam dizimar como os hebreus faziam conforme a Lei ordenava.

REFERENCIAS DE DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO

O dízimo é mencionado apenas nove (9) vezes em o Novo Testamento, sendo uma vez (1) no evangelho de Mateus (Mateus 23 : 23); duas (2) vezes no evangelho de Lucas (Lucas 11 : 42 e 18 : 12) e seis (6) vezes na carta escrita aos Hebreus (Hebreus 7 : 2 - 9). Porém, as devidas referências em momento algum deixam transparecer a menor ideia que os cristãos devam praticar essa doutrina veterotestamentária.

É bem certo que atualmente existem teólogos que ensinam que o dízimo está inserido indiretamente em outras partes do Novo Testamento, como no livro de Atos (Atos 4 : 37 ; 5 : 1 – 3) e nas cartas de Paulo aos Coríntios (1Corintios 9 : 7 – 14 ; 16 ; 1 , 2 ; 2Corintios 8 : 11 , 12) e alguns outros. Porém, essas referências, principalmente as de 2 Coríntios, se referem às contribuições espontâneas e não a dízimos. No caso de 1Coríntios 9 : 7 – 14, Paulo faz alusão às ofertas levíticas que eram levadas ao altar para sustento dos que ministravam sobre ele que eram os sacerdotes, filhos de Arão e não aos dízimos, pois estes na Lei eram dos levitas e dos necessitados.

O DÍZIMO NOS EVANGELHOS

Há os que defendem a legalidade dos dízimos no Novo Testamento, tendo como base o que Jesus falou nos evangelhos de Mateus e Lucas. Porém, uma coisa é necessária saber que apesar de Mateus e Lucas, assim como Marcos e João constarem no cânon do Novo Testamento, este na verdade só teve início após o cumprimento da Lei por Cristo que se deu por sua morte na cruz. O escritor aos Hebreus nos fala disso: “Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador. Porque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?” (Hebreus 9 : 16 , 17). Isto nos faz entender que o Novo Testamento só passou a valer quando Jesus morreu e derramou seu sangue para o selar (1Coríntios 11 ; 25). A morte de Jesus foi necessária, pois, assim como o antigo Testamento que era transitório foi selado com sangue de animais que morreram (Hebreus 9 ; 19), o Novo que é superior e eterno foi selado com o sangue de Jesus, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.

Então, quando Jesus exerceu o seu ministério aqui neste mundo como homem, a Lei e a lição do Antigo Testamento ainda vigorava. E cumprir a toda a Lei fazia parte de seu ministério terreno. (Mateus 5 : 17 – 19).. O principal texto no evangelho que muitos teólogos se utilizam para defender a prática do dizimo na Nova Aliança é a de Mateus 23 : 23, que também repete em Lucas 12 : 42. Porém, quando Jesus censurou a práticas dos legalistas fariseus dizimarem, ensinou-nos uma grande lição que muitos ainda não enxergaram.


"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas."  (Mateus 23 : 23)

A primeira lição que Jesus ensina é a que muitos não querem aceitar atualmente. É a lição que o dízimo é uma obra da Lei. Quando Jesus diz: “...e desprezais o mais importante da lei..”, deixa bem claro que o dizimo também era da Lei, pois o Juízo, a Misericórdia e Fé que eram o mais importante da Lei, era a base do ato de dizimar. E, sendo o dízimo uma obra da Lei, qualquer crente que tenta se justificar perante Deus pela sua prática no tempo da graça, se põe em baixo de maldição. E ainda, todo aquele que tenta se justificar pelo rito do dízimo ou alguma outra obra da Lei, precisa saber que fica na obrigação de obedecer toda a Lei nos seus 613 preceitos, como disse Paulo: "Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las."  (Gálatas 3 : 10). E Tiago, o irmão do Senhor acrescenta: "Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos." (Tiago 2 : 10).

A segunda lição dada por Jesus é que o rito de dar o dízimo não tinha valor algum, se não fosse feito observando o princípio da prática da Justiça, e da Misericórdia e da Fé. Estes três na Lei eram mais importantes do que o simples ato de dizimar. Por isso Jesus ordena aos fariseus: “...deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas”. No cumprimento da Lei, Jesus pediu que os fariseus continuassem observando o preceito do rito mosaico do dízimo, mas que priorizassem o que na Lei era o mais importante.

A terceira lição é sobre os princípios imutáveis que eram exercidos no ato de dar o dizimo, como: o Juízo, a Misericórdia e a . São princípios imutáveis, pois eram importantes na Lei e continuam sendo na dispensação da Graça. Convém dizer que toda a Lei do Antigo Testamento era fundamentada nesses princípios, assim como é o Novo.  Em relação ao ato de dar o dizimo na Lei, o Juízo, a Misericórdia e a Fé deveriam ser a base deste rito, assim como o amor precisa ser a base de todos os nossos atos para com o próximo (1Corintios 13 : 1 – 13). Como expliquei no artigo anterior, o dízimo era uma herança que Deus deu aos levitas e um direito atribuído aos pobres e necessitados, como órfãos, viúvas e estrangeiros. Tirar deles esta bênção dada por Deus ocasionava em perverter o Juízo e a Justiça e culminava em roubar a Deus e atrair maldição (Malaquias 3 : 8 – 10) .

Deus sempre teve um cuidado especial pelos pobres e necessitados. Em relação a eles, o Senhor instrui Moisés a ensinar que na Lei, a cada três anos o dízimo era para ser dado a eles e aos levitas também. E após o dizimista cumprir toda a obrigação exigida, Moisés declara as Palavras de Deus sobre o principio do juízo no ato de dar o dizimo: “Neste dia, o SENHOR teu Deus te manda cumprir estes estatutos e juízos; guarda-os pois, e cumpre-os com todo o teu coração e com toda a tua alma (Deuteronômio 26 : 16). Os hebreus não deviam apenas dar o dízimo como uma obrigação e um ritual, mas, sobretudo, atentar para o cuidado de praticar por ela a justiça divina em relação àqueles a quem Deus ordenou entrega-lo. Jeremias também fala sobre isso: "Assim diz o SENHOR: Exercei o juízo e a justiça, e livrai o espoliado da mão do opressor; e não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar." (Jeremias 22 : 3).

Os dízimos estabelecidos por Deus eram um ato de sua soberana justiça, mas que deveria ser praticada pelo seu povo Israel. Nunca era em dinheiro, mas em produtos da terra e do rebanho que era para ser comido pelos levitas e necessitados, como: os dízimos do grão, do mosto (vinho), do azeite, e os primogênitos das vacas e das ovelhas (Deuteronômio 14 : 23). Mas os fariseus davam apenas hortelã, endro e cominho. Por assim dizer, eles davam como dízimo apenas o tempero da comida. Por isso, Jesus censura o ato dos fariseus dizimarem sem atentarem para o principio inserido no rito do dízimo que consistia no Juízo (justiça), Misericórdia e Fé. Como já foi dito anteriormente, no cumprimento da Lei, Jesus exorta-os a atentarem primeiro para o que era mais importante (Justiça, Misericórdia e Fé), sem, contudo, deixarem de continuar na obrigação de dar os dízimos, pois esta era uma Lei que por eles deveria ser obedecida como Deus a instituiu, sem aumentar ou diminuir (Deuteronômio 12 : 32).

Os que insistem em dizer que neste episódio Jesus aprovou a prática do dízimo aos cristãos, precisam entender que Ele não estava falando com crentes, mas com judeus que tinham compromisso com a Lei de Moisés. À Sua Igreja o Senhor exortou-a a seguir os princípios imutáveis, como: a) cumprir Sua justiça. "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus." (Mateus 5 : 20); b) a exercer a misericórdia: "Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo."  (Efésios 4 : 32); e, c) viver pela fé: “Mas o justo viverá da fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele”. (Hebreus 10 : 38); pois sem fé é impossível agradar a Deus (Hebreus 11 ; 6).

Os dízimos cobrados atualmente nas igrejas não têm respaldo bíblico e tampouco são acompanhados dos princípios de Justiça, Misericórdia e Fé, pois não são destinados para o fim o qual Deus estabeleceu em Sua Palavra.

A PARÁBOLA DO FARISEU E DO PUBLICANO

Em Lucas 18, Jesus conta uma parábola, usando o exemplo de um publicano e um fariseu. Na parábola em questão o objetivo da lição era mostrar a importância da humildade em contraste com a arrogância e presunção do religioso que se julga santo mediante as obras que faz. Jesus diz que ambos, o pecador publicano e o religioso fariseu subiram ao templo para orar. Naquele tempo os judeus ainda entendiam que o local ideal para orar era o templo, onde Deus ouviria as orações (1Reis 8 : 29). Mas Jesus ensinou que o melhor lugar para orar é o quarto a portas fechadas (Mateus 6 : 6). Ao chegar alí o fariseu foi logo entrando no templo e se auto justificando mediante suas obras, dizendo: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Lucas 18 : 11 , 12). Mas o publicano pecador ficou de longe e sequer entrou no templo e lá fora mesmo reconheceu sua pobreza de espírito e voltou justificado.

Diferente dos fariseus de Mateus 23 : 23, que davam somente o tempero dos dízimos, este fariseu da parábola parecia que era o melhor de todos, pois além de não pecar, ainda jejuava duas vezes por semana e dava os dízimos de tudo quanto possuía. E é com base nesse “tudo” praticado pelo personagem da parábola que Jesus usou para classificar a arrogância e a presunção religiosa, é que os defensores do dizimo entendem que os crentes também têm de dar o dizimo de tudo. Mas estes esquecem ou não entenderam o que Jesus ensinou, que o pecador publicano é que foi justificado por se humilhar diante de Deus e não o fariseu dizimista fiel. Quiçá o publicano por ser pecador nem dízimos pagava, mas foi justificado por sua fé unicamente e não pelo que fazia, pois pelas obras da Lei como o dízimo ninguém será justificado, como bem ensinou o apóstolo dos gentios: “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada” (Gálatas 2 ; 16).

DAR A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR E A DEUS O QUE É DE DEUS.

Outro texto citado pelos defensores do dizimo na Nova Aliança é sobre o que Jesus disse em Mateus, Marcos e Lucas a respeito dos impostos.

"Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus."  (Lucas 20 : 25).

Estaria Jesus ensinando nessa passagem a obrigatoriedade dos dízimos na Nova Aliança? De Jeito nenhum! O texto mostra os principais dos sacerdotes armando uma cilada para apanhar Jesus em contradição contra o estado e assim, criar um ambiente propício para o prenderem e entrega-lo às autoridades romanas (Lucas 20 : 19 , 20). Espias foram enviados pelos principais dos sacerdotes, os quais se fingindo de justo lançaram a pergunta: “É-nos lícito dar tributo a César ou não?” (Lucas 20 : 22). Jesus sabendo que eles o tentavam, pediu uma moeda romana que de um lado havia a efigie de César em alto relevo e do outro a inscrição em latim que dizia: “Ti Caesar Divi Aug F Aug.” Que significa: “Tibério César, filho do divino Augusto”. Jesus apresentou-a ao povo e fez a pergunta: “De quem tem a imagem e a inscrição?” (verso 24). Logo o povo respondeu: De César. Diante da resposta, Jesus concluiu: "Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus." (Lucas 20 : 25). Jesus quis ensinar que a moeda romana, com a efigie e a inscrição honrando a César, foi criada por César e, portanto pertence a César. E sabemos que nesse texto Jesus estava ensinando o povo a cumprir com seus deveres para com o estado representado por César. E os “césares” eram uma dinastia de imperadores romanos que se auto divinizavam e assim, queriam ser honrados como deuses na terra. Por isso, Jesus ordenou dar-lhe o que lhe pertencia que era o dinheiro, mas dar a Deus o que a Ele pertence.

O QUE PERTENCE A DEUS?

Forçando uma interpretação, muitos dizem que a Deus, pertencem todos os dízimos (10%) dos ganhos que devem ser pagos às igrejas. Em momento algum Jesus quis dizer isso, pois Ele, como o filho de Deus sabe que ao Pai é devida a honra, a glória, o louvor, o poder para toda a eternidade. Foi exatamente isso que Jesus ordenou os principais dos sacerdotes darem a Deus, como antes profetizou Malaquias: “Agora, ó sacerdotes, este mandamento é para vós. Se não ouvirdes e se não propuserdes, no vosso coração, dar honra ao meu nome, diz o SENHOR dos Exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e também já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o coração” (Malaquias 2 : 1 , 2).

E ainda, na Lei os dízimos não eram em dinheiro, como já foi dito. E nesse tempo a Lei ainda vigorava e Jesus a estava cumprindo e não podia violá-la. Como então ordenaria dar dízimo em dinheiro a Deus se a Lei não permitia assim?

O DÍZIMO NO LIVRO DE HEBREUS

E por fim, muitos citam Hebreus 7 como estando este livro corroborando a prática do dízimo na Nova Aliança. Mas o livro de Hebreus, cujo autor desconhecemos, foi escrito por alguém que era erudito na Lei e que recebeu de Deus a revelação da Graça salvadora. Ele sabia muito bem a grande diferença entre a Lei e a Graça (suponho ser Paulo).

A carta aos Hebreus é assim denominada, pois foi escrita para o povo hebreu que se convertia a fé cristã. Povo esse que por muitas gerações viveu sob o jugo da Lei e era difícil entender deu uma hora pra outra a plenitude da graça e da liberdade que Cristo garantiu. Por isso, nesse livro o autor procura mostrar a superioridade de um Novo Concerto efetuado por Cristo que na cruz aboliu todos os ritos que a Lei exigia. E é importante salientar que o dízimo fazia parte de um rito mosaico anual que envolvia festas religiosas, muita comida e até bebidas embriagantes (Deuteronômio 14 : 22 - 26). E relativamente a esses ritos da Lei que na graça ficaram sem valor, Paulo escreveu: “Portanto, ninguém tem o direito de vos julgar pelo que comeis, ou pelo que bebeis, ou ainda com relação a alguma festa religiosa, celebração das luas novas ou dos dias de sábado” (Colossenses 2 : 16). Temos que entender que a Lei foi por Cristo cumprida e não abolida (Mateus 5 : 17). A Lei está em vigor para o povo judeu, mas os ritos cerimoniais que faziam parte da Lei e da lição que encerrava o antigo testamento foram todos abolidos: “Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido” (2Corintios 3 : 14).

O DIZIMO DE ABRAÃO A MELQUISEDEQUE COMO MODELO

Outro meio de justificar os dízimos no Novo Testamento é alegando que Melquisedeque antes da Lei recebeu dízimos de Abraão e ele era uma representação de Jesus. Concordo com isso! E continuam no entendimento que por Jesus haver sido constituído sumo-sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, também devemos dar-lhes os dízimos como Abraão o fez ao rei de Salém. Mas Abraão não deu dízimos de suas riquezas, mas de despojos que ele resgatou de uma guerra onde matou quatros reis (Hebreus 7 : 1); e o restante que deveria ficar com ele, entregou-os ao seu legítimo dono, o rei de Sodoma (Gênesis 14 : 22 – 24). E Jesus quando aqui esteve não cobrou dízimos e nem ensinou que num futuro quando assumisse o sumo-sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque, devêssemos lhe pagar dízimos.

O escritor aos Hebreus se esforça por mostrar que Jesus sendo eterno, é antes de Levi; assim, antes de Levi existir, o Pai o constituiu sumo-sacerdote das nossas almas segundo a ordem de Melquisedeque (Salmos 110 : 4 ; Hebreus 6 : 20). Segundo a ordem de Melquisedeque significa dizer que Jesus foi sacerdote, seguindo a escolha soberana de Deus, pois os judeus não reconheciam nenhum sacerdote que não viesse da tribo de Levi, como foi determinado na Lei (Números 3 : 6 – 10). Jesus não era levita, mas da tribo de Judá (Mateus 2 : 6 ; Hebreus 7 : 14). Os judeus tinham a consciência que os dízimos na Lei como rito, eram inerentes ao ofício levita que ofereciam sacrifícios no altar em favor dos homens. Por causa do serviço que os levitas executavam, recebiam dos judeus todos os dízimos como recompensa pelo trabalho (Números 18 : 21). Mas, mas quando Jesus assumiu o sumo-sacerdócio eterno, seguindo o modelo de Melquisedeque, mudou essa Lei. “Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei” (Hebreus 7 : 12). Quando diz que Jesus mudou a Lei, não diz toda a Lei nos seus 613 preceitos, mas a Lei inerente aos sacrifícios levíticos, uma vez que Ele próprio se ofereceu como sacrifício perfeito e insubstituível (Hebreus 10 : 10 – 14).

E no tempo em que a carta aos Hebreus foi escrita os levitas ainda exerciam seu ministério, pois o templo ainda estava de pé. E por ministrarem, ainda recebiam dízimos. Por isso diz: “E aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive” (Hebreus 7 : 8). Esse verso, inclusive é deturpado, quando dizem que “aqui certamente tomam dízimos homens que morrem” , o escritor esteja se referindo ao ministério dos pastores que devem receber dízimos dos crentes; enquanto que “ali, porém, aquele de quem se testifica que vive”, se refira a Jesus. Mas o escritor está falando dos levitas “aqui” e de Melquisedeque “ali”. Porém, com a destruição do templo no ano 70 eC, os levitas encerraram definitivamente seu ministério, pois não existe mais santuário para ministrarem sacrifícios. Ainda que os levitas continuassem ministrando no tempo da graça, nós gentios não teríamos compromisso com eles. "Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo." (Hebreus 13 : 10).

Por isso, na Nova Aliança não se sacrificam animais, pois Cristo na sua morte aboliu todos esses ritos (Efésios 2 : 15). E os ministros do Novo Testamento, sejam presbíteros, evangelistas, pastores ou bispos não são levitas e muito menos sacerdotes que possam exigir dízimos do povo. Jesus mudou essa Lei (Hebreus 7 : 12). Mas essa mudança na Lei, não significa que Ele tenha mudado o dízimo que era mantimento para dinheiro.

QUEM INTRODUZIU O DÍZIMO EM DINHEIRO NA NOVA ALIANÇA?

Como enfatizei, o dizimo não era dinheiro. Dinheiro existia, mas não era aceito como dizimo (Deuteronômio 14 : 22 – 27). Quando Deus legalizou o dizimo como mandamento pediu que nada do que Ele mandou fosse mudado (Deuteronômio 12 : 32). Mas vemos que isso foi mudado. E quem mudou?  Quem primeiramente tentou fazer essa mudança foram os sacerdotes no templo na época de Cristo. Os dízimos e as ofertas que eram levados ao templo em animais e cereais, eram postos no pátio deste para serem cambiados, isto é, trocados por dinheiro. Mas Jesus não aprovou isso e expulsou dalí aqueles que assim faziam, pois haviam transformado o templo em covil de ladrões e salteadores. Os sacerdotes estavam repetindo o feito do tempo de Malaquias quando Deus foi roubado nos dízimos e nas ofertas. E quando eles viram o prejuízo que o Senhor lhes causara a soltar os animais postos para a venda, derrubar as mesas e espalhar o dinheiro pelo chão, ficaram enfurecidos e procuravam matá-lo por fazer isso (Lucas 19 : 45 – 47). Qualquer semelhança hoje não é mera coincidência.

Nos escritos dos chamados pais apostólicos ou pais da igreja e dos apologistas não aparece nada relacionado a dízimos. Irineu de Lião considerou o dizimar uma lei judaica que não se requer dos cristãos, porque os cristãos receberam em Cristo a liberdade, e devem como consequência dar sua contribuição sem constrangimento externo (Haer 4,18,2). Orígenes considerava que o dízimo era algo que deveria ser ultrapassado, de longe, pelos cristãos nas suas contribuições (In Num. Hom. 11).

Rei Católico Carlos Magno - Criador do Dízimo em dinheiro
Porém, quem definitivamente fez essa mudança, impondo essa obrigação aos cristãos foi a Igreja Católica Romana no sec. VII da era cristã. Essa igreja inicialmente introduziu a prática do dízimo, como maneira de sustentar seus clérigos. Pra isso, ela usou passagens do Novo Testamento, tais como: Mateus 10 : 1 0 ; Lucas 10 : 7 e 1Corintios 9 ; 3 – 4 e outras, mas isso numa ação voluntaria por parte dos fiéis.  Como não conseguiu o sucesso desejado, precisou recorrer ao poder da lei civil, para impor aquilo que a instrução não conseguiu levar a efeito. Então, entra em ação o famoso decreto do rei católico Carlos Magno (785 dC). O decreto do rei obrigou a todos os fieis tributarem 10% de suas rendas para o sustento da igreja e seus clérigos, quer gostassem ou não.

Assim, essa igreja mudou a doutrina do dizimo de Deus, impondo no seu lugar a que ela mesma criou. Ela não apenas mudou a lei do dizimo que era MANTIMENTO, como também introduziu o costume de construir templos em honra às suas divindades, como criou o modelo de hierarquia para ministrar nesses (modelo de hierarquia também adotado pelas igrejas evangélicas). E para manter seus templos, bem como seus ministros, seria necessário cobrar dízimo em dinheiro dos fiéis e, como o povo não tinha acesso às escrituras, foi fácil modificar as Escrituras e introduzir essa tradição que a maioria das igrejas evangélicas e protestantes aceitam como Divina, mas não é.

CONCLUSÃO

O Novo Testamento em parte alguma ensina sobre a prática de dar e/ou pagar dízimos. Ensina sim, com vastas referências o contribuir e seus propósitos. No próximo artigo falarei sobre a Contribuição no Novo testamento. Mas como vimos, o dizimo é bíblico, mas não é cristão. Foi praticado antes da Lei, incorporado na Lei, mas não sobreviveu na Graça, porque Cristo cumpriu a Lei. O dízimo atual é uma herança que a igreja católica romana legou as demais igrejas, mesmo depois da Reforma no Sec. XV. Todos os que dão a décima parte de seus rendimentos às instituições religiosas pensando estar obedecendo a uma doutrina bíblica, estão na verdade obedecendo ao ensinamento de uma igreja que eles mesmos condenam. Mas estão a beber do mesmo cálice (Apocalipse 17 : 4). O testemunho que mostra que o dizimo atual não é uma doutrina divina, é a dissenção, a divisão e exclusão de pessoas das igrejas que ele proporciona. Por ele, alguns enriquecem em detrimento da ignorância de outros.

O dizimo bíblico era um principio de Justiça, Misericórdia e Fé (Mateus 23 : 23). Mas o dizimo atual imposto pela religião é a medida aferidora que delimita quem tem valor e quem não tem; quem é bandido e quem é o mocinho; quem presta e quem não presta e, que vai para o céu e quem vai para o inferno.

"Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?" (Gálatas 4 : 16).

Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará

Fontes: Bíblia Sagrada Almeida Corrigida Fiel ao texto original (ACF)
                      Dicionário Internacional de Teologia.