"O céu é o meu
trono, E a terra o estrado dos meus pés. Que casa me edificareis? diz o Senhor,
Ou qual é o lugar do meu repouso?" (Atos 7 : 49)
INTRODUÇÃO
Nas
últimas décadas o número de novos ministérios denominacionais conhecido como igrejas
tem multiplicado grandemente. Não obstante, também tem havido uma grande evasão
de crentes das mais variadas denominações religiosas, os quais são por estas chamados
de “desigrejados”. Uns tem saído dessas igrejas pelos mais variados motivos,
sendo o principal deles a decepção com as lideranças, enquanto que outros são meramente
excluídos, por representarem ameaça a essas instituições, em virtude do
conhecimento adquirido das Escrituras. Contudo, esse fenômeno chamado
“desigrejado” tem de certa forma, contribuído para o entendimento que é
possível servir a Deus e manter a comunhão sem a necessidade de se estar
afiliada a alguma organização religiosa. E isso também tem servido para quebrar
o mito de que os inúmeros templos levantados por essas denominações sejam
“casas de Deus”. Neste artigo estarei mostrando que o grande Deus, criador do
universo e de tudo o que nele existe, nunca desejou ficar confinado a um espaço
físico construído pelas mãos dos homens. Lugares estes chamados de templos que
são mistificados por aquele que os edificam como “casa de Deus”.
COSTUMES CANANEUS ADOTADOS PELOS
ISRAELITAS
A
ideia de construir uma casa para Deus surgiu primeiro no coração de Jacó quando
fez um voto ao Senhor (Gênesis 28.22). Porque Jacó prometeu isso, se ele
não conhecia ainda o Deus de seus pais Abraão e Isaque e muito menos havia
noticia de algum santuário feito para Deus? É simples! Jacó residia nas terras
de Canaã e que era habitada por povos que cultuavam falsos deuses, feitos pelas
mãos dos homens. E Jacó, mesmo sendo escolhido por Deus, não se desvencilhou
tão cedo desse costume pagão, onde até mesmo sua família, sob a influência do
paganismo cananeu, servia a deuses estranhos (Gênesis 35.2-4). Para o povo
cananeu era comum construírem templos para seus deuses, onde também lhes ofereciam
sacrifícios. Muito tempo depois, o desejo de construir uma casa para surgiu no
coração do grande monarca de Israel, quando percebeu que ele habitava numa
linda casa de cedro importado, enquanto a arca do Senhor habitava em tendas (1Crônicas 17.1).
Mas teria o grande Deus pedido que seu povo construísse uma habitação para Ele?
Quando
o Senhor tirou o seu povo Israel do Egito para introduzi-los em Canaã, deu a
seguinte ordem: "E
não andeis nos costumes das nações que eu expulso de diante de vós, porque
fizeram todas estas coisas; portanto fui enfadado deles." (Levítico 20.23).
Muito embora o Senhor tivesse feito tal pedido, vemos que Ele não foi obedecido.
Ao tomar posse da terra prometida, depois da morte de Josué, o povo de Israel
acabou por andar nos costumes cananeus, seguindo a outros deuses que o Senhor
havia terminantemente proibido e por isso sofreu a reprovação de Deus por
muitos anos até o cativeiro babilônico, onde foram curados da idolatria. Mas,
dois dos vários costumes cananeus prevaleceram em Israel, como veremos a
seguir, muito embora fosse contrária a vontade de Deus.
GOVERNO MONÁRQUICO, UM COSTUME CANANEU.
O
primeiro costume cananeu invejado pelos israelitas foi o sistema de governo
monárquico com a escolha de um rei. Todos os povos de Canaã possuíam um rei,
assim como em cada cidade hoje há um prefeito. Diferente de outras nações, Israel
não tinha rei, pois Deus era o soberano sobre seu povo. Mas Israel invejou os
cananeus e desejou também ter um rei. “E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos
não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós,
para que ele nos julgue, como o têm todas as nações” (1Samuel 8.5).
É claro que a má administração dos filhos de Samuel a frente do povo, contribuiu
para o surgimento desse desejo. Mas Samuel não se agradou da ideia e consultou
a Deus. No entanto, Ele atendeu o desejo do coração do povo, como diz: “E disse o
SENHOR a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm
rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles” (1Samuel 8.7). Assim, o costume cananeu de ter um
rei que dominasse sobre o povo foi introduzido no meio do povo escolhido de
Israel.
TEMPLOS RELIGIOSOS ERAM COSTUMES DOS
CANANEUS
O
segundo costume que prevaleceu em Israel e que também tem tido grande
influência entre os cristãos, foi a construção de templos. As escrituras
claramente mostram que Deus nunca desejou habitar em templos feitos pelas mãos
dos homens. Pela boca do profeta Isaias, o Senhor assim falou: "Assim diz
o SENHOR: O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés; que casa me
edificaríeis vós? E qual seria o lugar do meu descanso?" (Isaías 66.1). Essa foi a mesma palavra citada por
Estevão em sua defesa e que causou a indignação dos religiosos e que resultou
na sua morte por apedrejamento (Atos 7.48-60). Mas, se Deus nunca desejou isso, o
que dizer da construção do templo por Salomão e que foi o marco na vida do povo
judeu como o único local de adoração?
DEUS NÃO PEDIU A CONSTRUÇÃO DESSE
TEMPLO
Como
foi dito acima, o desejo de construir um templo para Deus surgiu no coração de
Daví. Quando Daví propôs fazer uma casa para Deus, recebeu de imediato a
aprovação do seu profeta e conselheiro Natã. “Disse o rei ao profeta Natã: Eis que eu
moro em casa de cedro, e a arca de Deus mora dentro de cortinas. E disse Natã
ao rei: Vai, e faze tudo quanto está no teu coração; porque o SENHOR é contigo” (2Samuel 7.2,3). Natã como profeta não teve o
cuidado de consultar ao Senhor e, para agradar ao rei Daví, logo apoiou sua
ideia e até disse que Deus seria com ele. Mas, na mesma noite o Senhor fala com
Natã expressando a sua real vontade. “Porém sucedeu naquela mesma noite, que a palavra do
SENHOR veio a Natã, dizendo: Vai, e dize a meu servo Davi: Assim diz o SENHOR:
Edificar-me-ás tu uma casa para minha habitação? Porque em casa nenhuma habitei
desde o dia em que fiz subir os filhos de Israel do Egito até ao dia de hoje;
mas andei em tenda e em tabernáculo” (2Samuel 7.4-6).
Pelos textos, vê-se claramente que Deus não desejou isso. O Senhor ainda diz
para Natã que Daví não construiria uma casa para Ele, mas sim, um de seus
descendentes. Qual seria esse descendente? Será que o Senhor estaria se
referindo a Salomão que substituiria Daví no trono de Isarel? Daví, como homem
pensou que sim (1Crônicas
28.15), e também o próprio Salomão achou que era ele (2Crônicas 6.8,9).
Mas, se analisarmos cuidadosamente o texto de 2Samuel 7.12-17, vamos entender que
o Senhor não estava falando de Salomão como o descendente de Daví que lhe edificaria
uma casa.
“12 Quando teus dias forem completos, e
vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a
tua descendência, o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino.
13 Este edificará uma casa ao meu nome, e
confirmarei o trono do seu reino para sempre.
14 Eu lhe serei por pai, e ele me será por
filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com
açoites de filhos de homens.
15 Mas a minha benignidade não se apartará
dele; como a tirei de Saul, a quem tirei de diante de ti.
16 Porém a tua casa e o teu reino serão
firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre.
17 Conforme a todas estas palavras, e
conforme a toda esta visão, assim falou Natã a Davi.” (2Samuel 7.12-17 ACF).
Observem
que em nenhum momento o onisciente Deus falou que o descendente de Daví que lhe
edificaria casa seria seu filho Salomão. No verso 13 o Senhor promete confirmar
o trono desse descendente para sempre. Ora, todos sabem que Salomão no apogeu
de seu reino pecou desobedecendo a Deus, se unindo a mulheres pagãs e se
entregou a idolatria provocando a ira do Senhor. Em sua indignação, Deus
promete rasgar o seu reino, como diz: “Assim disse o SENHOR a Salomão: Pois que houve isto em
ti, que não guardaste a minha aliança e os meus estatutos que te mandei,
certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo” (1Reis 11.11 ACF).
Por causa do pecado de Salomão que transgrediu contra o Senhor, o reino de
Israel foi dividido em duas tribos (Norte e Sul). Logo, Salomão não poderia ser
o descendente pelo qual Deus prometeu a Daví que seria o que lhe edificaria uma
habitação, cujo reino seria eterno.
CRISTO, O DESCENDENTE DE DAVI E NÃO
SALOMÃO
Quando
lemos a genealogia de Cristo, vemos que este veio da linhagem de Davi, passando
por Salomão “Livro
da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão... E Jessé gerou ao
rei Davi; e o rei Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias. E Salomão
gerou a Roboão; e Roboão gerou a Abias; e Abias gerou a Asa... De sorte que
todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e desde Davi
até a deportação para a Babilônia, catorze gerações; e desde a deportação para
a Babilônia até Cristo, catorze gerações”
(Mateus
1.1;6,7;17). Assim, a promessa de Deus a Daví dizia respeito a Jesus
e não a Salomão. Eis a razão pela qual Jesus era reconhecido entre os pobres,
necessitados e até estrangeiros como o “Filho de Daví” (Mateus 9.27;12.23;15.22).
A IMPORTANCIA DO TEMPLO DE SALOMÃO.
Deus
não pediu a construção desse templo para a sua habitação, no entanto Ele
consentiu sua construção e até aceitou que seu Nome alí habitasse por um motivo
especial, como segue:
O
segundo livro das Crônicas nos mostra Salomão terminando e consagrando essa
casa para Deus. Ao finalizar as obras de seu palácio e do templo, Salomão leva
para este o ouro, a prata e os objetos de valor que Daví seu pai havia
consagrado para aquela casa. Depois ele convoca os anciãos e os líderes tribais
para conduzirem a arca do concerto até o lugar para ela preparada no templo.
Uma grande festa acontece, onde um número incontável de bois e carneiros é
sacrificado (2Crônicas
5.1-6). Salomão faz um
discurso e lembra ao povo o desejo de seu pai Daví em construir aquele templo e
o motivo da não permissão de Deus, citando as Palavras que Natã, da parte de
Deus entregou a Daví que disse que a descendência dele é que lhe faria uma
habitação (2Crônicas
6.1-9). Salomão então sobe a plataforma que fez e ora a Deus. Na sua
oração, Salomão diz algo interessante, que nos faz entender o motivo de Deus
aceitar aquele templo como local de adoração. Leiamos uma parte dessa oração em
2Crônicas 7-18-21:
“Mas, na verdade,
habitará Deus com os homens na terra? Eis que os céus, e o céu dos céus, não te
podem conter, quanto menos esta casa que tenho edificado? Atende, pois, à
oração do teu servo, e à sua súplica, ó SENHOR meu Deus; para ouvires o clamor,
e a oração, que o teu servo faz perante ti.
Que os teus olhos estejam dia e noite abertos sobre este lugar, de que
disseste que ali porias o teu nome; para ouvires a oração que o teu servo orar
neste lugar. Ouve, pois, as súplicas do
teu servo, e do teu povo Israel, que fizerem neste lugar; e ouve tu do lugar da
tua habitação, desde os céus; ouve pois, e perdoa”.
A
oração de Salomão continua no restante do capítulo sete, e por várias vezes,
ele menciona os céus como o lugar da habitação de Deus e não aquele templo. Mas
é somente quando Salomão termina a oração é que Deus manda a sua glória em
forma de fogo que consumiu os holocaustos e encheu a casa de modo que nem mesmo
os sacerdotes puderam alí entrar (2Crônicas 7.1,2).
Passado
esse dia, a noite o Senhor aparece a Salomão e lhe fala o motivo de ter aceito
aquela casa que lhe foi consagrada. “E o SENHOR apareceu de noite a Salomão, e disse-lhe:
Ouvi a tua oração, e escolhi para mim este lugar para casa de sacrifício” (2Crônicas 7.12). Sim, aquela casa seria uma casa
de sacrifícios, pois, somente mediante esses holocaustos é que o povo recebia a
expiação de seus pecados. Por essa razão que o Senhor falou assim: “E se o meu
povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e
se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os
seus pecados, e sararei a sua terra. Agora estarão abertos os meus olhos e
atentos os meus ouvidos à oração deste lugar” (2Crônicas 7.14,15). Assim, todo
povo de Deus (hebreus) precisava ir aquele lugar levar seus sacrifícios, orar e
suplicar o favor de Deus. E isso durou até a vinda do Messias. Por isso, no
cumprimento da Lei, Jesus demonstrou zelo por esta casa ao expulsar os
cambistas que por permissão dos sacerdotes profanavam aquele lugar,
transformando-o em casa de negócios. Nesta oportunidade Jesus mostrou que Ele
era o verdadeiro templo da habitação de Deus, mas os religiosos não compreenderam
o ensinamento de Jesus, como muitos até hoje não compreendem. (João 2.19-21).
E por esta razão, os religiosos continuam construindo templos e os chamando de
casa de Deus, sendo que Deus não habita nesses lugares (Atos 7.48 ; 17.24). O único templo
aprovado por Deus foi o de Salomão, mas com a condição de Salomão e o povo permanecerem
fiel a Lei de Moisés, caso contrário, o Senhor lhes arrancaria daquela terra,
os lançaria fora de Sua presença e faria daquela casa um objeto de zombaria
para todos os povos (2Crônicas 7.12-22)
CONCLUSÃO
O
templo erguido por Salomão não foi a casa da habitação de Deus, conforme foi
prometida a Daví. Deus não habitou naquela casa, apenas se fazia presente e
respondia as orações, quando invocado naquele lugar, visto ele estar edificado
em Jerusalém, cidade que Deus escolheu para fazer habitar o Seu Nome. (Deuteronômio 12.11). E como vimos, aquele templo
era uma casa de sacrifícios. Mas na instituição da Nova Aliança por Cristo, que
cumpriu todas as exigências da lei, como sacrifícios, holocaustos e oblações, o
templo perdeu sua utilidade. Por isto, Jesus predisse que dele não ficaria desta
casa pedra sobre pedra que não fosse derribada (Mateus 24.2). E isso aconteceu no
ano 70 dC, e desde então nenhum outro mais foi erguido. Se Deus de fato
habitasse alí, jamais permitiria que ele fosse profanado ou destruído.
No
próximo artigo, falarei da Casa de Deus levantada pelo descendente de Daví –
Jesus.
Em
cristo,
Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará