“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes” (Malaquias 3:10).
Quantos já não ouviram que o
segredo para ser próspero e se receber as bênçãos de Deus consiste no ato de se “ser fiel” nos
dízimos e nas ofertas, conforme preceituado no livro de Malaquias? Quantos que
por acreditar nessa tese estão por anos a fio a dar a décima parte (dízimo) do
suado salário e nunca viram se cumprir o que foi prometido? O que estaria errado se o que
acredita cumpre fidedignamente sua parte, a ponto de ser considerado um
“dizimista fiel” por parte de quem recebe os dízimos? Estaria Deus sendo infiel
falhando com sua promessa para com seus filhos? Afinal onde está o problema?
Com base na minha própria
vida, posso afirmar que o problema não está no ato da doação e muito menos em
Deus, mas sim na falta de conhecimento em relação ao assunto, tanto da parte que o ensina quanto daquele que o dá. Desde minha
conversão, em julho de 1987 aprendi - porque fui ensinado - que para ser abençoado
tinha de praticar esse principio e, por 25 anos fui fiel a esse ensino, às vezes dando
muito mais que a décima parte do que me vinha às mãos, mas nunca houve bênção
tal que eu precisasse construir um lugar a parte para guardar essas bênçãos. Também
conheço muitos outros, que há muito tempo são fiéis a essa doutrina, mas nunca
receberam aquilo que se promete na interpretação do texto em voga.
Em 26 anos de serviço ao
Senhor alcancei de Suas mãos muitas bênçãos, como: a ressurreição de minha
primeira filha, a cura de meu segundo filho qual três médicos o desenganaram,
um bom emprego mesmo não havendo concluído o segundo grau, casa própria; minha
cura do diabetes, que segundo a medicina não existe solução e muitas outras
bênçãos que não enumerarei neste espaço. Mas, nenhuma destas bênçãos acima
relacionadas se deveu ao ato de dizimar, mas sim primeiramente pela grande misericórdia de Deus e por outras atitudes, quais
aprendi na própria Palavra de Deus que, entre outros, é ser solidário com meu semelhante, qual é a verdadeira vontade Deus (Sl 41:1-3).
É certo que por eu haver
defendido muito tempo essa doutrina e hoje negá-la, sou considerado apóstata e
herege, onde alguns que se diziam meus irmãos se afastaram de mim e me têm como uma ameaça a igreja e
outros já me tem como um condenado ao inferno. Mas, tenho aprendido que não tenho o
direito de alterar a Palavra, indo além do que está escrito, mas sim batalhar
pela fé que uma vez foi dada aos santos (Judas 1:3).
Mas, voltando ao assunto, vamos
ver porque essa promessa não se cumpre na vida do “dizimista fiel”.
Primeiramente, precisamos
saber o que é dízimo (ou o que era) e o que de fato o texto de Malaquias 3:10 se refere:
O dizimo: (Trazei todos os
dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa...)
O dízimo consistia na décima parte
da colheita e nas primícias do rebanho, quais os judeus após a posse da terra
prometida, deveriam entregá-las para o sustento dos levitas e dos necessitados
de Israel, como órfãos, viúvas e estrangeiros (Deuteronômio
12:1-12). O dízimo jamais foi para a manutenção do templo ou para pagar
o salário do sacerdote, pois este sobrevivia do dízimo dos dízimos que era a
oferta alçada (Números 18:26). A manutenção do templo era das ofertas que os
hebreus entregavam para essa finalidade (Neemias
10:32). Ambos, dízimos e ofertas era entregues apenas uma vez ao ano,
onde na ocasião havia uma solenidade todo especial no ato da entrega destes (Deuteronômio 14:22; 26:1-15). Apenas os levitas
(da tribo de Levi) foram autorizados por Deus a receberem os dízimos das mãos
de seus irmãos. Os sacerdotes que também eram da tribo de Levi só recebiam a
décima parte de todos os dízimos das mãos dos levitas unicamente (Números 18:24-26) .
Casa do tesouro
Não era tesouraria como se
ensina, mas uma câmara no templo que foi construída para armazenar os dízimos (2Crônicas 31: 4-11). Os dízimos consistiam em
cereais e outros produtos, mas nunca em dinheiro, pois este não era aceito como
dízimo (Deuteronômio 14:22-29). Nesta câmara
não deveria faltar mantimento, que era os dízimos, pois estes eram para suprir
a necessidade, não do templo, mas daqueles que trabalhavam nele, como levitas,
cantores, porteiros e também dos necessitados (Neemias
10:39; 12:44-47). Os templos (casas de orações) onde a igreja congrega
não é casa do tesouro, pois dízimo não era dinheiro e isso não mudou. Pensar
desta forma é transformar as casas de orações em casas de negócios, como de fatos
vemos acontecer em nossos dias. Jesus condenou veementemente este ato por parte
dos sacerdotes que permitiram que tal profanação ocorresse no templo (Mateus 21:12,13; Marcos 11:15-17; Lucas 19:45,46; João
2:15).
Fazer prova de Deus: (...e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos...)
Nós crentes, povo da Nova Aliança firmada pelo sangue de Cristo, não devemos fazer
prova de Deus, pois esta ação demonstra falta de confiança em Deus (Hebreus 3:8-10). Fazer prova de Deus hoje, soa
como alguém que coloca Deus na parede exigindo que Ele cumpra a sua parte no
contrato. Apesar de estar assim escrito, devemos ter a consciência que Deus
estava tratando com um povo rebelde e contumaz que apesar de inúmeras vezes
contemplarem as obras de Deus os mesmos não o honraram como Deus, antes o
provocaram (Romanos 1:19-23; Hebreus 3:15-17).
E além do mais, este povo vivia pela lei e não pela fé (Romanos 9:31-33). Por falta de fé, parte deste povo pereceu e não
pode herdar as promessas que Deus lhes fez e mais tarde, todos eles foram
dispersos pelo mundo, deixando de existir como nação. Paulo diz que a lei não é
da fé (Gálatas 3:12) e a lei serviu de aio
(tutor) até que viesse a fé (Gálatas 3:23-25).
A igreja é um povo que foi chamado a viver, não pela lei, mas pela fé (Hebreus 10:38), pois sem esta é impossível agradar
a Deus (Hebreus 11:6). Somente os que não
têm fé põem Deus à prova, mas nós somos instados a dar graças a Deus em tudo,
independentemente das circunstâncias (1Tessalonicenses
5:18). O texto é bem claro quando diz que Deus pediu para fazer prova dele somente NISTO: Ele abriria as janelas do céu e não outra coisa. Leia abaixo o que isso significa.
Abrindo as janelas do céu: (..se
eu não vos abrir as janelas do céu... )
"Cerraram-se também
as fontes do abismo e as janelas dos céus, e a chuva dos céus deteve-se." (Gênesis 8:2).
Alguns por falta de entendimento criaram até um “slogan” que
diz: “As janelas do céu estão abertas
para o dizimista fiel”. Quando Deus prometeu que abriria as janelas dos
céus, Ele não estava prometendo casa, carro do ano e muito menos riquezas, como
alguns “profetas” insinuam. Ele simplesmente estava prometendo enviar a chuva
para regar a terra, pois, assim como a praga do gafanhoto devorador a retenção
da chuva também era uma maneira de punir os hebreus pela sua infidelidade (Levítico 26:3-5; 1Reis 17:1; 2Crônicas 7:13; Jeremias 3:2,3).
E, na verdade a chuva é um tesouro do céu que Deus nos envia: "O
SENHOR te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu
tempo, e para abençoar toda a obra das tuas mãos; e emprestarás a muitas
nações, porém tu não tomarás emprestado."
(Deuteronômio 28:12).
Uma bênção tal (...e
não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a
recolherdes... )
Que bênção maior para aquele povo,
senão a abundância da produção da lavoura em virtude da terra que foi regada
pela chuva? Essa foi a promessa que Deus fez, os campos produziriam em
abundância que no momento da colheita não haveria lugar para
recolher essas bênçãos.
"Então te dará
chuva sobre a tua semente, com que semeares a terra, como também pão da
novidade da terra; e esta será fértil e cheia; naquele dia o teu gado pastará
em largos pastos."
(Isaías 30:23).
Deus não precisa nos
abençoar por alguma obra que fazemos ou devemos fazer, pois, por termos aceitado seu plano redentor recebendo a Seu
filho como nosso Salvador, Ele já nos abençoou com toda a sorte de bênçãos nos lugares
celestiais (Efésios 1:3). Só precisamos agradecê-lo.
E você que é um
dizimista fiel (assim como pensei ser por 25 anos), mais nunca viu se cumprir
essa promessa na sua vida, não responsabilize a Deus por isso. A culpa é daqueles que por ignorância, quem sabe, interpretaram a Palavra fora de seu contexto e também de você mesmo por não
examinar as Escrituras, conforme os bereanos faziam para não serem enganados (Atos
17:11). Em toda a Bíblia há inúmeras passagens explicando com clareza o que era o dizimo, pra que servia e de quem era a responsabilidade de administrá-lo e reparti-lo. Infelizmente muitos só se prendem em Malaquias 3:8-10.
Estudemos a Palavra, pois esta é fiel e digna do toda aceitação (1Timóteo 4:9).
Em Cristo,
Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará