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segunda-feira, 3 de abril de 2017

A trágica morte de Coré, Datã, Abirão e os 250 líderes de Israel


"E a terra abriu a sua boca, e os tragou com as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a todos os seus bens." (Números 16 : 32).

INTRODUÇÃO

Muitos ensinam assim nas igrejas
A maneira como Coré, Datã e Abirão morreram é conhecida por todos os crentes. A terra se abriu e engoliu vivos esses homens com suas famílias e tudo o que lhes pertenciam. Esta tragédia sem igual na história do povo de Deus tem sido largamente usada no meio cristão como uma maneira de impor medo e, de certa forma terror nos crentes, com o intuito de estes não questionarem a atitude de alguns ministros que se autoproclamam “ungidos”. Isto porque, acreditam e ensinam que o motivo da morte desses homens com suas famílias, se deu pelo motivo de estes se oporem a liderança de Moisés e Arão. Teria de fato sido este o verdadeiro motivo pelo qual a ira de Deus veio de forma excepcional sobre estes homens exterminando-os com tudo o que tinham? O que ensina a bíblia?

QUEM ERA CORÉ

Coré, com o apoio de Datã e Abirão liderou um grupo de duzentos e cinquenta homens em oposição a liderança de Moisés e Arão. Coré era levita, do clã de Coate, um dos três filhos de Levi (Gênesis 46.11 ; Números 3.17). Os “coatitas” como eram assim chamados, eram os responsáveis pelas coisas santíssimas do santuário (Números 4.4). Como levita, Coré era ministro no santuário auxiliando os sacerdotes nos serviços do santuário. Sendo da tribo de Levi, Coré deveria auxiliar o sacerdote e isto deveria ser para ele uma honra, pois Deus escolheu os levitas para sí em lugar de todos os primogênitos em Israel. "E eu, eis que tenho tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo o primogênito, que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão meus." (Números 3.12). Mas Coré tinha desejo de poder e de dominar sobre o povo, assim como agem os nicolaítas na igreja atualmente. Isso foi a sua ruína e de seus companheiros.

O MOTIVO DA INSSURREIÇÃO DE CORÉ E SEU BANDO

É inegável que Coré e seus aliados tenham de fato se levantado contra a liderança de Moisés e Arão. Porém, não foi essa a única razão pela qual a ira de Deus se derramou contra aqueles homens matando-os de forma incomum, como veremos mais a frente. Coré que era o líder do grupo ambicionava a posição de sacerdote em Israel. Pelo tempo em que passaram no Egito, Coré aprendeu que ser sacerdote era promissor, pois naquela terra, os sacerdotes gozavam de prestígios políticos, sendo protegidos pelo faraó e também eram proprietários de grandes áreas de terra, o que lhes proporcionava grandes riquezas (Gênesis 47.22-26). O que Coré, não sabia é que em Israel, o papel dos sacerdotes seria totalmente diferente. No meio do povo de Deus o sacerdote deveria servir e não ser servido. Somente depois da tragédia que lhe custou a vida é que Deus determinou em Lei que os sacerdotes levitas não teriam nenhum tipo de beneficio material. "Disse também o SENHOR a Arão: Na sua terra herança nenhuma terás, e no meio deles, nenhuma parte terás; eu sou a tua parte e a tua herança no meio dos filhos de Israel."  (Números 18.20). Assim, Coré ambicionou o sacerdócio, intentando obter vantagens e prestigio como acontecia entre os sacerdotes no Egito. Ele não levou em consideração que a escolha de Moisés como líder e Arão seu irmão como sacerdote em Israel partiu do próprio Deus. Moisés e Arão não foram escolhidos por um conclave, um concílio ou eleição convencional. Por isso, murmurar contra esses homens, era o mesmo que murmurar contra o próprio Deus que os escolheu (Êxodo 16.7).

A ATITUDE DE MOISÉS.

Ao perceber a maléfica intenção de Coré, Moisés prostrou-se na presença de Deus, como sempre costumava fazer quando murmuravam contra ele (Números 16.4). Certamente orientado por Deus que sempre falava com ele, Moisés propôs a Coré e sua congregação aliada apresentarem-se perante Deus portando cada um incensários. Esta seria a maneira de Deus mostrar aqueles homens insubordinados quem era o escolhido de Deus (Números 16.6,7). Como um autentico líder, que se preocupa com seus liderados, Moisés não deixa de advertir Coré, sabendo do mal que ele estava atraindo para sí, sua família  e seus companheiros.

“Disse mais Moisés a Coré: Ouvi agora, filhos de Levi: Porventura pouco para vós é que o Deus de Israel vos tenha separado da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, e administrar o ministério do tabernáculo do SENHOR e estar perante a congregação para ministrar-lhe; E te fez chegar, e todos os teus irmãos, os filhos de Levi, contigo? ainda também procurais o sacerdócio?” (Números 16.8-10).

Ao desejar o sacerdócio, Coré estava de fato se levantando contra e Arão e também contra o Senhor, e não propriamente contra Moisés, o líder do povo de Israel. “Assim tu e todo o teu grupo estais contra o SENHOR; e Arão, quem é ele, que murmureis contra ele?” (Números 16.11). Arão como sacerdote ungido era o único que podia mediar as causas dos homens para com Deus, queimando incenso e oferecendo oblações e holocaustos sobre o altar. O sacerdote era o mesmo que príncipe no arraial dos santos. Qualquer falta de respeito contra o sacerdote, era uma afronta ao próprio Deus. "A Deus não amaldiçoarás, e o príncipe dentre o teu povo não maldirás." (Êxodo 22.28). Porém, conforme a ordem de Deus, somente Arão e posteriormente os seus descendentes diretos é que poderiam assumir o sacerdócio em Israel. “E vestirás a Arão as vestes santas, e o ungirás, e o santificarás, para que me administre o sacerdócio. Também farás chegar a seus filhos, e lhes vestirás as túnicas, E os ungirás como ungiste a seu pai, para que me administrem o sacerdócio, e a sua unção lhes será por sacerdócio perpétuo nas suas gerações” (Êxodo 40.13-15). Nenhum outro, embora fosse levita, mas não sendo da família de Arão poderia ser sacerdote. Por isso repito, levantar-se contra o sacerdote da linhagem de Arão, era o mesmo que opor-se a soberania de Deus.

De igual modo, assim como admoestou Coré, Moisés mandou chamar Datã e Abirão a sua presença para também aconselhá-los, mas estes não quiseram vir. E ainda protestaram contra Moisés, acusando-o de querer se fazer príncipe sobre eles (Números 16.13,14). Isto causou o furor de Moisés que orou ao Senhor pedindo que não recebesse a oferta de suas mãos (Números 16.15).

A MORTE DE CORÉ E SEU GRUPO.

Sabendo que não poderia mudar a opinião daqueles homens, Moisés pede para que eles se apresentem a porta do santuário trazendo incensários com incensos. Eles assim o fizeram. “Tomaram, pois, cada um o seu incensário, e neles puseram fogo, e neles deitaram incenso, e se puseram perante a porta da tenda da congregação com Moisés e Arão” (Números 16.18). Imediatamente a ira de Deus se manifestou e o Senhor disse a Moisés. “Apartai-vos do meio desta congregação, e os consumirei num momento” (Números 16.21). É importante frisar que não apenas Coré e seu grupo seriam exterminados, mas toda a congregação israelita. Isto mostra a gravidade dos fatos. Porém, Moisés e Arão humilharam-se diante da face de Deus e intercederam em favor da congregação de Israel. O Senhor então mandou que Moisés pedisse ao povo que se afastassem de perto da tenda de Coré, Datã e Abirão. Assim Moisés e Arão fizeram em obediência a Deus. Moisés então salientou que o que iria acontecer com aquelas famílias era um sinal que eles haviam irritado o Senhor (Números 16.28-30). Então, terra se abriu e vivos desceram ao abismo Coré, Datã, Abirão e tudo o que lhes pertencia. Em seguida, saiu fogo do altar e consumiu os duzentos e cinquentas homens de posição que se aliaram com Coré (Números 16.35).

O MOTIVO DA TRAGÉDIA

Se Coré e seu bando apenas tivessem questionado somente a liderança de Moisés e Arão, certamente eles sofreriam algum tipo de penalidade, como maneira de reparar seu erro. Talvez até morressem por alguma praga como aconteceu com alguns que também se rebelaram um dia após essa tragédia (Números 16.41-50). Talvez até mesmo fossem perdoados mediante a intercessão de Moisés que era homem mui manso e por muitas vezes pediu pelo povo. “Perdoa, pois, a iniqüidade deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia; e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egito até aqui. E disse o SENHOR: Conforme à tua palavra lhe perdoei” (Números 14.19,20). Mas este não foi o caso de Coré e seu bando. Eles foram mais além e irritaram o Senhor. Mas de que maneira eles irritaram o Senhor? Queimando incenso sem serem santificados ou consagrados para este fim. Apenas o sacerdote descendente de Arão deveria queimar incenso ao Senhor. Quem não fosse da família de Arão morreria por essa ousadia. "Mas a Arão e a seus filhos ordenarás que guardem o seu sacerdócio, e o estranho que se chegar morrerá."  (Números 3.10).
É bom lembrar que da mesma maneira procedeu também Uzias, rei de Judá, muito tempo mais tarde, quando se exaltou em seu coração, transgredindo contra o Senhor ao queimar incenso, não sendo ele sacerdote e nem descendente de Arão.

“Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra o SENHOR seu Deus, porque entrou no templo do SENHOR para queimar incenso no altar do incenso. Porém o sacerdote Azarias entrou após ele, e com ele oitenta sacerdotes do SENHOR, homens valentes.  E resistiram ao rei Uzias, e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso perante o SENHOR, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados para queimar incenso; sai do santuário, porque transgrediste; e não será isto para honra tua da parte do SENHOR Deus.  Então Uzias se indignou; e tinha o incensário na sua mão para queimar incenso. Indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu à testa perante os sacerdotes, na casa do SENHOR, junto ao altar do incenso” (2Crônicas 26.16-19).

E a recompensa do rei Uzias, foi vexatória adquirindo a pior enfermidade do seu tempo que era a lepra. E assim morreu o ungido rei de Judá.

CONCLUSÃO

Como vimos, Coré, Datã e Abirão não morreram por questionar a autoridade de Moisés e Arão, como tem sido ensinado. Ressalto que eles morreram de maneira excepcional por irritarem ao Senhor, queimando incenso, o que não lhes era permitido fazer, pois somente Arão e seus filhos foram ungidos para esse fim. Não é demais advertir que aqueles que utilizam esse fato ocorrido com Coré, Datã e Abirão, com o fim de se blindarem e não terem suas ações questionadas pelos fiéis; estes é que estão irritando a Deus, por deturparem Sua Palavra, ensinando o que não convém. Graças a Deus que vivemos o tempo da graça, senão muitos já teriam sido extirpados. Mas é conveniente lembrar que o julgamento começará pela casa de Deus que é a igreja (1Pedro 4.17); principalmente aos que ocupam a posição de mestres entre o povo do Senhor (Tiago 3.1). E também, no atual tempo da graça, inaugurada pelo sangue do Cordeiro de Deus, não existem sacerdotes ungidos e muito menos homens com autoridade para dominar sobre o rebanho de Deus (igreja), como foram Moisés e Arão sobre Israel. Todos nós, os que cremos, somos sacerdotes juntos com Cristo, nosso sumo sacerdote. E como sacerdotes, todos podemos queimar incenso a Deus, pois o incenso são as nossas orações (Apocalipse 5.8).

Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará.        
                                                                                                                                      

Fontes: Bíblia Sagrada Almeida Corrigida Fiel (ACF)