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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Timóteo e Tito eram pastores?




O estudo das lições da escola dominical deste trimestre que tem como tema: A Igreja e seu testemunho – As ordenanças de Cristo nas Cartas Pastorais; tem chamado a minha atenção para alguns assuntos nelas abordados. Entre eles está a questão que envolve Timóteo e Tito que nas lições são tratados como jovens pastores.  Qual seria a razão para isso? Seria a responsabilidade que Paulo lhes outorga como: combater as heresias, zelar pela sã doutrina, ensinar a Palavra e até mesmo o cuidado de separar e aconselhar futuros obreiros, bem como a igreja no seu todo?  Seriam Timóteo e Tito pastores de fato, ou eles eram portadores de algum outro dom ministerial concedido pelo Espírito Santo para a edificação da igreja?

Vamos analisar as Escrituras e saber o que ela nos informa a respeito desses servos de Deus e qual ou quais ministérios desenvolveram na obra de Deus.

Começarei com Timóteo.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       
                                                                                   
Sobre Timóteo, as Escrituras Sagradas nos informam que ele era filho de uma judia por nome Eunice que havia se convertido ao evangelho (2Timóteo 1 : 5). Ele era filho de pai grego, mas a bíblia não dá maiores detalhes sobre seu pai (Atos 16 : 1). Como fora criado com sua mãe e avó que eram judias, Timóteo, apesar de ser fruto de um relacionamento misto condenado pela lei dos judeus, adotou a cidadania da mãe, isto é, Timóteo era judeu. Como todo judeu piedoso, Timóteo foi instruído nas Escrituras por sua avó Lóide e sua mãe Eunice, cuja instrução foi de grande valia no ministério que ele assumiu (2Timóteo 3 : 14 - 16). Convém salientar que as sagradas letras mencionadas por Paulo eram os escritos veterotestamentários onde consta a lei que foi dada aos judeus, pois o novo testamento ainda estava sendo escrito.
       
Seu nome em grego: Τιμόθεος - Timótheos, que significa "honrando a Deus" ou "honrado por Deus.                                                      
                                                      
A bíblia não diz como e em quais circunstâncias Eunice, sua mãe, Lóide, sua vó e o próprio Timóteo abraçaram a fé cristã, mas com certeza eles foram evangelizados por Paulo e Barnabé, pois o livro de Atos nos informa que, após a reunião que houve em Jerusalém, Paulo decide com Barnabé visitar os irmãos nas cidades onde eles já haviam anunciado o evangelho anteriormente (Atos 15 : 36). E, ao chegar em Listra e Derbe, ouve que Timóteo  era um discípulo que gozava de um bom testemunho de toda aquela comunidade (Atos 16 : 2). Justamente, por causa desse testemunho dos de fora, Paulo o escolhe para ser seu companheiro na obra missionária. E, o testemunho dos de fora foi um dos critérios que Paulo mostrou a Timóteo como necessário àquele que deseja o espiscopado (1Timóteo 3 : 7). Paulo escolhe Timóteo para que o acompanhe em suas missões e, por Timóteo ser judeu, Paulo circuncida-o, para não causar escândalo ao evangelho e nem aos demais judeus, conforme registra Lucas em Atos 16: 1- 3:

“1  E chegou a Derbe e Listra. E eis que estava ali um certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia que era crente, mas de pai grego; 2  Do qual davam bom testemunho os irmãos que estavam em Listra e em Icônio. 3  Paulo quis que este fosse com ele; e tomando-o, o circuncidou, por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego”.

Timóteo foi um companheiro fiel, servindo a Paulo com outros que o acompanhava como Silas e Erasto. A princípio a missão deles era distribuir nas comunidades por onde o evangelho foi anunciado a decisão que foi tomada pelos presbíteros na reunião que houve em Jerusalém em relação aos gentios que abraçavam a fé cristã, conforme está em Atos 15: 28 , 29:

“28  Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: 29  Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá”. 

É importante salientar que a igreja no seu principio era formada por povos de culturas diferentes, judeus e gentios. Os judeus são o povo que observa a lei e os gentios eram os que não tinham a lei (Atos 21 ; 20 ; Romanos 2 : 14). Muito embora os judeus abraçassem a fé em Jesus, isto não os desobrigava de continuarem seguindo a lei que a eles foi entregue por Moisés. Por essa razão que Paulo como um judeu fazia votos (Atos 18 : 18); frequentava o templo (Atos 21 : 26); e as sinagogas (Atos 9 : 20); observava costumeiramente o sábado (Atos 16 : 13), saudava com o beijo que é o ósculo santo (Romanos 16 : 16 ; 1Corintios 16 : 20),  e até precisou circuncidar Timóteo (Atos 16 : 2), muito embora houvesse ensinado que a circuncisão nada é (1Corintios 7 : 19 ; Gálatas 5 : 6). E também Paulo era portador de duas culturas, pois era judeu e romano (Romanos 11 : 1 ; Filipenses 3 : 5 ; Atos 22 : 25 – 29). Pode assim se dizer que Paulo era judeu e gentio. E, por essa razão Deus o escolhe e o separa para o ministério da incircuncisão que são os gentios que não tem compromisso com a lei, assim como escolhe a Pedro para o ministério da circuncisão que são os judeus comprometidos com a lei (Gálatas 2 : 7).

E, como os judeus estão comprometidos com a lei e a cultura judaica, Paulo, pelo Espírito Santo escolhe Timóteo que era judeu e dessa forma passa a instruí-lo naquilo que deveria ensinar aos judeus que faziam parte da igreja. Isso explica o fato de Paulo orientar Timóteo quanto a questão da lei (1Timóteo 1 : 5 – 10); e do comportamento das mulheres na igreja (1Timóteo 2 : 11 – 15). O conselho de Paulo a Timóteo não permitindo que as mulheres falassem ou ensinassem nas igrejas era um cuidado para que a graça do evangelho não fosse vituperada, pois, sendo mulheres judias, poderiam ensinar às outras mulheres que não são judias os costumes da lei, assim como os judaizantes fizeram nas igrejas da Galácia, levando os irmãos retrocederem na fé (Gálatas 5 : 12). Esse era o cuidado de Paulo, que os gentios não recebessem mais encargo algum, conforme foi decidido na reunião em Jerusalém (Atos 15 : 28).

Quanto as demais ações de Timóteo, o livro de Atos registra algumas delas auxiliando Paulo em suas viagens missionárias. Mas, teria sido Timóteo um jovem pastor como atualmente se pensa? Não! Alguns defendem essa ideia pelo fato de Paulo tê-lo enviado a Éfeso para cuidar da igreja, para confrontar as heresias e ensinar a sã doutrina. Esse pensamento resulta da errônea ideia que muitos têm que atualmente somente o pastor de uma igreja é o responsável por administrar, separar obreiros, ensinar e zelar pela sã doutrina. Mas, o que muitos ignoram é que a igreja não era governada por pastores. A igreja foi inicialmente organizada e dirigida pelos doze apóstolos (Atos 4 : 33 , 34 ; 6 : 2 – 4) e posteriormente pelos presbíteros (Atos 15 : 6 ; 1Timóteo 5 : 17 ; 1Pedro 5 : 1 – 4). Os presbíteros eram homens experientes, idôneos e responsáveis a quem cabia a tarefa de apascentar e alimentar o rebanho com a ministração da Palavra. Pedro e João não se consideravam pastores, mas presbíteros (1Pedro 5 : 1 ; 1João 1 : 1 ; 3João 1 : 1). Eles galgavam tão grande responsabilidade que Tiago orienta a igreja chamar os presbíteros para que estes ungissem os enfermos com óleo (Tiago 5 : 14).

Os presbíteros acima de tudo eram anciãos (homens idosos). Timóteo também não poderia ser presbítero, pois era um jovem (1Timóteo 4 : 12). Timóteo não era pastor, pois era solteiro e isso iria de encontro ao que Paulo pediu para ele ensinar: “Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher... (1Timóteo 3 : 2); “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis” (1Timóteo 4 : 12). Convém ressaltar que o episcopado é formado pela posição de pastor, bispo e presbítero. Não são cargos e nem ofícios, mas ministérios distintos e exercidos por uma única pessoa. São posições conquistadas de acordo com a responsabilidade, a experiência e sobretudo a idade. Por isso que os presbíteros (na bíblia) têm maior responsabilidade que pastores e bispos diante do rebanho e não podem ser jovens estando abaixo dos sessenta anos. É como na vida militar onde o soldado que com o tempo e dedicação se torna sargento, depois tenente, coronel e etc.

Mas, qual era o ministério de Timóteo?

Na obra missionária, Timóteo foi um servo fiel e companheiro muito útil. Paulo nunca se intitulou pastor, mas se considerava um cooperador de Deus (1Corintios 3 : 9 ; 2Corintios 1 : 24). Em relação a Timóteo, Paulo o considera como um cooperador na obra da evangelização (Romanos 16 : 21, e 1Tessalonicenses 3 : 2). Mas é na segunda carta que Paulo escreveu a Timóteo que encontramos o ministério que Timóteo exercia. "Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um EVANGELISTA, cumpre o teu ministério." (2Timóteo 4 : 5). Evangelista, este era o ministério que Timóteo exercia. O ministério de evangelista era um dos dons ministeriais dados a igreja para sua edificação (Efésios 4 : 11). Timóteo recebeu esse ministério por profecia e imposição de mãos da parte do prebistério (1Timóteo 1 : 18 ; 4 : 14). Tal ação nos ensina que todo ministério eclesiástico é um dom concedido pelo Espírito Santo, dado àqueles que possuem as características exigidas por Ele para exercê-las em Sua igreja (1Timóteo 1 : 1 – 13). Não devem ser separados e escolhidos por critérios humanos ou pela vontade e conveniência de um grupo de homens realizado nos conclaves.

E quanto a Tito?

Bem pouco a Bíblia tem a nos informar sobre esse servo. Mas, diferente de Timóteo que era judeu, Tito era grego, isto é, era um gentio. Por essa razão, Paulo não precisou circuncidá-lo, conforme fez com Timóteo, como diz: "Mas nem ainda Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se;" (Gálatas 2 : 3). A primeira menção ao nome de Tito encontramo-lo na segunda carta de Paulo aos Coríntios que diz: "Não tive descanso no meu espírito, porque não achei ali meu irmão Tito; mas, despedindo-me deles, parti para a Macedônia." (2Coríntios 2 : 13). E a segunda referencia a ele, está no capítulo 7 do mesmo livro que fala: "Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito." (2Coríntios 7 : 6). Ambos os textos sugerem que Paulo nutria uma grande amizade por este servo e que ele era uma pessoa extrovertida e alegre. A presença de Tito era um bálsamo na vida de Paulo que mais uma vez testifica isso: "Por isso fomos consolados pela vossa consolação, e muito mais nos alegramos pela alegria de Tito, porque o seu espírito foi recreado por vós todos. Porque, se nalguma coisa me gloriei de vós para com ele, não fiquei envergonhado; mas, como vos dissemos tudo com verdade, também a nossa glória para com Tito se achou verdadeira." (2Coríntios 7 : 13).

Paulo tinha uma grande confiança na pessoa de Tito, que ao tratar a respeito da coleta das contribuições das igrejas para ajudar os irmãos necessitados, o responsabilizou para administrar essa nobre causa: "De maneira que exortamos a Tito que, assim como antes tinha começado, assim também acabasse esta graça entre vós." (2Coríntios 8 : 6). De uma maneira responsável e transparente nas contribuições dos irmãos, Paulo dá testemunho de Tito, mostrando que ele era um homem honesto e que em momento algum haveria de se aproveitar da situação para se beneficiar pessoalmente, como o faziam os obreiros fraudulentos.

"Mas, graças a Deus, que pôs a mesma solicitude por vós no coração de Tito. Pois aceitou a exortação, e muito diligente partiu voluntariamente para vós;.. E não só isto, mas foi também escolhido pelas igrejas para companheiro da nossa viagem, nesta graça que por nós é ministrada para glória do mesmo SENHOR, e prontidão do vosso ânimo;  Evitando isto, que alguém nos vitupere por esta abundância, que por nós é ministrada;  Pois zelamos do que é honesto, não só diante do Senhor, mas também diante dos homens "  (2Coríntios 8 : 16 , 17 ; 19 - 21).

Na administração das contribuições, Paulo considera a Tito como um cooperador para benefício da igreja: "Quanto a Tito, é meu companheiro, e cooperador para convosco; quanto a nossos irmãos, são embaixadores das igrejas e glória de Cristo."  (2Coríntios 8 : 23).

Diante dos falsos obreiros que acusavam a Paulo e seus companheiros perante a igreja de Corinto de se aproveitarem dos irmãos, mais uma vez ele dá testemunho da honestidade de Tito: "Roguei a Tito, e enviei com ele um irmão. Porventura Tito se aproveitou de vós? Não andamos porventura no mesmo espírito, sobre as mesmas pisadas?" (2Coríntios 12 : 18). Tito possuía as credenciais de um verdadeiro obreiro e a virtude de não ser ganancioso “Porque convém que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância” (Tito 2 : 7).

Testemunhando de sua conversão e missão aos crentes da Galácia, mais uma vez Paulo faz menção da companhia de Tito na obra missionária: "Depois, passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também comigo Tito." (Gálatas 2 : 1).

Por ser uma pessoa de extrema confiança de Paulo, este, ao escrever-lhe a epístola o responsabiliza a estabelecer presbíteros nas igrejas que eram levantadas nas cidades de Creta (Tito 1 : 2). Paulo dá a Tito as mesmas recomendações a respeito do cuidado na escolha daqueles que assumiriam o episcopado (Tito 1 : 6 – 9). E, por ser um gentio, Tito deveria cuidar dessa parte da igreja a ponto de evitar que os irmãos também gentios se deixassem enganar pelos judeus e que fossem influenciados por sua cultura como a circuncisão e, que não se deixassem ser iludidos pelas fábulas judaicas (Tito 1 : 10 – 14). Entre vários conselhos, Paulo o orienta a falar aquilo que convém a sã doutrina (Tito 2 : 1), isto porque a mensagem da graça salvadora pela fé em Cristo sofria constantes ataques por parte dos judaizantes que insistiam em acrescentar a fé, as obras da lei que foram por Cristo cumpridas na cruz. Tito deveria pregar a mensagem da graça salvadora que se manifestou e nisso, exortar e até repreender com toda autoridade e doutrina (Tito 2 : 11 – 15). E, na defesa da mensagem da salvação pela graça em Jesus, Tito deveria evitar entrar em questões loucas, genealogias, contendas e principalmente nos debates acerca da Lei (Tito 3 : 9).

Finalizando, Paulo exorta a Tito a orientar os irmãos a aplicarem-se às boas obras naquilo que era necessário e produzir frutos (Tito 3 : 14). Além destas informações, nada mais temos a respeito de Tito e nem quanto a sua vida particular, se era casado, solteiro, jovem ou ancião. Também não sabemos qual ministério eclesiástico Tito exercia, mas com certeza não era pastor, como mostrei acima que a igreja não era dirigida por pastores, mas por apóstolos e presbíteros. Faz-se necessário saber que pastor do original grego poimén e significa “aquele que guia” (Hebreus 13 : 7 ; 17). Bispo do original grego epyscopos e quer dizer: “supervisor ou superintendente” (Atos 20 : 28 ; Filipenses 1 ; 1). Presbítero do original grego presbyteros (ancião) “aquele que apascenta” (1Pedro 5 : 1).

Somente sabemos que Tito era um cooperador do evangelho com a autoridade de exortar, doutrinar e escolher presbíteros para cuidarem do rebanho do Senhor (Tito 2 ; 6 – 15).

Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará