Páginas

sábado, 6 de agosto de 2016

O Dízimo no Novo Testamento



INTRODUÇÃO

Neste blog muito já escrevi a respeito da doutrina do dizimo, da maneira como é ensinado na bíblia.  Já escrevi sobre o dízimo de Abrão e o dizimo de Jacó que foram antes da Lei, bem como do dízimo na Lei que Deus deu como herança aos Levitas e um direito dos necessitados, conforme a última publicação. Neste post dissertarei sobre o dízimo no Novo Testamento. Mas o Novo Testamento fala sobre o dizimo? Sim, fala! Fala aludindo a exemplos que ocorriam na velha dispensação quando o dizimo valia na Lei, mas não ensina que aqueles que vivem sob a Lei de Cristo, na dispensação da Graça na Nova Aliança, devam dizimar como os hebreus faziam conforme a Lei ordenava.

REFERENCIAS DE DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO

O dízimo é mencionado apenas nove (9) vezes em o Novo Testamento, sendo uma vez (1) no evangelho de Mateus (Mateus 23 : 23); duas (2) vezes no evangelho de Lucas (Lucas 11 : 42 e 18 : 12) e seis (6) vezes na carta escrita aos Hebreus (Hebreus 7 : 2 - 9). Porém, as devidas referências em momento algum deixam transparecer a menor ideia que os cristãos devam praticar essa doutrina veterotestamentária.

É bem certo que atualmente existem teólogos que ensinam que o dízimo está inserido indiretamente em outras partes do Novo Testamento, como no livro de Atos (Atos 4 : 37 ; 5 : 1 – 3) e nas cartas de Paulo aos Coríntios (1Corintios 9 : 7 – 14 ; 16 ; 1 , 2 ; 2Corintios 8 : 11 , 12) e alguns outros. Porém, essas referências, principalmente as de 2 Coríntios, se referem às contribuições espontâneas e não a dízimos. No caso de 1Coríntios 9 : 7 – 14, Paulo faz alusão às ofertas levíticas que eram levadas ao altar para sustento dos que ministravam sobre ele que eram os sacerdotes, filhos de Arão e não aos dízimos, pois estes na Lei eram dos levitas e dos necessitados.

O DÍZIMO NOS EVANGELHOS

Há os que defendem a legalidade dos dízimos no Novo Testamento, tendo como base o que Jesus falou nos evangelhos de Mateus e Lucas. Porém, uma coisa é necessária saber que apesar de Mateus e Lucas, assim como Marcos e João constarem no cânon do Novo Testamento, este na verdade só teve início após o cumprimento da Lei por Cristo que se deu por sua morte na cruz. O escritor aos Hebreus nos fala disso: “Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador. Porque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?” (Hebreus 9 : 16 , 17). Isto nos faz entender que o Novo Testamento só passou a valer quando Jesus morreu e derramou seu sangue para o selar (1Coríntios 11 ; 25). A morte de Jesus foi necessária, pois, assim como o antigo Testamento que era transitório foi selado com sangue de animais que morreram (Hebreus 9 ; 19), o Novo que é superior e eterno foi selado com o sangue de Jesus, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.

Então, quando Jesus exerceu o seu ministério aqui neste mundo como homem, a Lei e a lição do Antigo Testamento ainda vigorava. E cumprir a toda a Lei fazia parte de seu ministério terreno. (Mateus 5 : 17 – 19).. O principal texto no evangelho que muitos teólogos se utilizam para defender a prática do dizimo na Nova Aliança é a de Mateus 23 : 23, que também repete em Lucas 12 : 42. Porém, quando Jesus censurou a práticas dos legalistas fariseus dizimarem, ensinou-nos uma grande lição que muitos ainda não enxergaram.


"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas."  (Mateus 23 : 23)

A primeira lição que Jesus ensina é a que muitos não querem aceitar atualmente. É a lição que o dízimo é uma obra da Lei. Quando Jesus diz: “...e desprezais o mais importante da lei..”, deixa bem claro que o dizimo também era da Lei, pois o Juízo, a Misericórdia e Fé que eram o mais importante da Lei, era a base do ato de dizimar. E, sendo o dízimo uma obra da Lei, qualquer crente que tenta se justificar perante Deus pela sua prática no tempo da graça, se põe em baixo de maldição. E ainda, todo aquele que tenta se justificar pelo rito do dízimo ou alguma outra obra da Lei, precisa saber que fica na obrigação de obedecer toda a Lei nos seus 613 preceitos, como disse Paulo: "Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las."  (Gálatas 3 : 10). E Tiago, o irmão do Senhor acrescenta: "Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos." (Tiago 2 : 10).

A segunda lição dada por Jesus é que o rito de dar o dízimo não tinha valor algum, se não fosse feito observando o princípio da prática da Justiça, e da Misericórdia e da Fé. Estes três na Lei eram mais importantes do que o simples ato de dizimar. Por isso Jesus ordena aos fariseus: “...deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas”. No cumprimento da Lei, Jesus pediu que os fariseus continuassem observando o preceito do rito mosaico do dízimo, mas que priorizassem o que na Lei era o mais importante.

A terceira lição é sobre os princípios imutáveis que eram exercidos no ato de dar o dizimo, como: o Juízo, a Misericórdia e a . São princípios imutáveis, pois eram importantes na Lei e continuam sendo na dispensação da Graça. Convém dizer que toda a Lei do Antigo Testamento era fundamentada nesses princípios, assim como é o Novo.  Em relação ao ato de dar o dizimo na Lei, o Juízo, a Misericórdia e a Fé deveriam ser a base deste rito, assim como o amor precisa ser a base de todos os nossos atos para com o próximo (1Corintios 13 : 1 – 13). Como expliquei no artigo anterior, o dízimo era uma herança que Deus deu aos levitas e um direito atribuído aos pobres e necessitados, como órfãos, viúvas e estrangeiros. Tirar deles esta bênção dada por Deus ocasionava em perverter o Juízo e a Justiça e culminava em roubar a Deus e atrair maldição (Malaquias 3 : 8 – 10) .

Deus sempre teve um cuidado especial pelos pobres e necessitados. Em relação a eles, o Senhor instrui Moisés a ensinar que na Lei, a cada três anos o dízimo era para ser dado a eles e aos levitas também. E após o dizimista cumprir toda a obrigação exigida, Moisés declara as Palavras de Deus sobre o principio do juízo no ato de dar o dizimo: “Neste dia, o SENHOR teu Deus te manda cumprir estes estatutos e juízos; guarda-os pois, e cumpre-os com todo o teu coração e com toda a tua alma (Deuteronômio 26 : 16). Os hebreus não deviam apenas dar o dízimo como uma obrigação e um ritual, mas, sobretudo, atentar para o cuidado de praticar por ela a justiça divina em relação àqueles a quem Deus ordenou entrega-lo. Jeremias também fala sobre isso: "Assim diz o SENHOR: Exercei o juízo e a justiça, e livrai o espoliado da mão do opressor; e não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar." (Jeremias 22 : 3).

Os dízimos estabelecidos por Deus eram um ato de sua soberana justiça, mas que deveria ser praticada pelo seu povo Israel. Nunca era em dinheiro, mas em produtos da terra e do rebanho que era para ser comido pelos levitas e necessitados, como: os dízimos do grão, do mosto (vinho), do azeite, e os primogênitos das vacas e das ovelhas (Deuteronômio 14 : 23). Mas os fariseus davam apenas hortelã, endro e cominho. Por assim dizer, eles davam como dízimo apenas o tempero da comida. Por isso, Jesus censura o ato dos fariseus dizimarem sem atentarem para o principio inserido no rito do dízimo que consistia no Juízo (justiça), Misericórdia e Fé. Como já foi dito anteriormente, no cumprimento da Lei, Jesus exorta-os a atentarem primeiro para o que era mais importante (Justiça, Misericórdia e Fé), sem, contudo, deixarem de continuar na obrigação de dar os dízimos, pois esta era uma Lei que por eles deveria ser obedecida como Deus a instituiu, sem aumentar ou diminuir (Deuteronômio 12 : 32).

Os que insistem em dizer que neste episódio Jesus aprovou a prática do dízimo aos cristãos, precisam entender que Ele não estava falando com crentes, mas com judeus que tinham compromisso com a Lei de Moisés. À Sua Igreja o Senhor exortou-a a seguir os princípios imutáveis, como: a) cumprir Sua justiça. "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus." (Mateus 5 : 20); b) a exercer a misericórdia: "Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo."  (Efésios 4 : 32); e, c) viver pela fé: “Mas o justo viverá da fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele”. (Hebreus 10 : 38); pois sem fé é impossível agradar a Deus (Hebreus 11 ; 6).

Os dízimos cobrados atualmente nas igrejas não têm respaldo bíblico e tampouco são acompanhados dos princípios de Justiça, Misericórdia e Fé, pois não são destinados para o fim o qual Deus estabeleceu em Sua Palavra.

A PARÁBOLA DO FARISEU E DO PUBLICANO

Em Lucas 18, Jesus conta uma parábola, usando o exemplo de um publicano e um fariseu. Na parábola em questão o objetivo da lição era mostrar a importância da humildade em contraste com a arrogância e presunção do religioso que se julga santo mediante as obras que faz. Jesus diz que ambos, o pecador publicano e o religioso fariseu subiram ao templo para orar. Naquele tempo os judeus ainda entendiam que o local ideal para orar era o templo, onde Deus ouviria as orações (1Reis 8 : 29). Mas Jesus ensinou que o melhor lugar para orar é o quarto a portas fechadas (Mateus 6 : 6). Ao chegar alí o fariseu foi logo entrando no templo e se auto justificando mediante suas obras, dizendo: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Lucas 18 : 11 , 12). Mas o publicano pecador ficou de longe e sequer entrou no templo e lá fora mesmo reconheceu sua pobreza de espírito e voltou justificado.

Diferente dos fariseus de Mateus 23 : 23, que davam somente o tempero dos dízimos, este fariseu da parábola parecia que era o melhor de todos, pois além de não pecar, ainda jejuava duas vezes por semana e dava os dízimos de tudo quanto possuía. E é com base nesse “tudo” praticado pelo personagem da parábola que Jesus usou para classificar a arrogância e a presunção religiosa, é que os defensores do dizimo entendem que os crentes também têm de dar o dizimo de tudo. Mas estes esquecem ou não entenderam o que Jesus ensinou, que o pecador publicano é que foi justificado por se humilhar diante de Deus e não o fariseu dizimista fiel. Quiçá o publicano por ser pecador nem dízimos pagava, mas foi justificado por sua fé unicamente e não pelo que fazia, pois pelas obras da Lei como o dízimo ninguém será justificado, como bem ensinou o apóstolo dos gentios: “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada” (Gálatas 2 ; 16).

DAR A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR E A DEUS O QUE É DE DEUS.

Outro texto citado pelos defensores do dizimo na Nova Aliança é sobre o que Jesus disse em Mateus, Marcos e Lucas a respeito dos impostos.

"Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus."  (Lucas 20 : 25).

Estaria Jesus ensinando nessa passagem a obrigatoriedade dos dízimos na Nova Aliança? De Jeito nenhum! O texto mostra os principais dos sacerdotes armando uma cilada para apanhar Jesus em contradição contra o estado e assim, criar um ambiente propício para o prenderem e entrega-lo às autoridades romanas (Lucas 20 : 19 , 20). Espias foram enviados pelos principais dos sacerdotes, os quais se fingindo de justo lançaram a pergunta: “É-nos lícito dar tributo a César ou não?” (Lucas 20 : 22). Jesus sabendo que eles o tentavam, pediu uma moeda romana que de um lado havia a efigie de César em alto relevo e do outro a inscrição em latim que dizia: “Ti Caesar Divi Aug F Aug.” Que significa: “Tibério César, filho do divino Augusto”. Jesus apresentou-a ao povo e fez a pergunta: “De quem tem a imagem e a inscrição?” (verso 24). Logo o povo respondeu: De César. Diante da resposta, Jesus concluiu: "Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus." (Lucas 20 : 25). Jesus quis ensinar que a moeda romana, com a efigie e a inscrição honrando a César, foi criada por César e, portanto pertence a César. E sabemos que nesse texto Jesus estava ensinando o povo a cumprir com seus deveres para com o estado representado por César. E os “césares” eram uma dinastia de imperadores romanos que se auto divinizavam e assim, queriam ser honrados como deuses na terra. Por isso, Jesus ordenou dar-lhe o que lhe pertencia que era o dinheiro, mas dar a Deus o que a Ele pertence.

O QUE PERTENCE A DEUS?

Forçando uma interpretação, muitos dizem que a Deus, pertencem todos os dízimos (10%) dos ganhos que devem ser pagos às igrejas. Em momento algum Jesus quis dizer isso, pois Ele, como o filho de Deus sabe que ao Pai é devida a honra, a glória, o louvor, o poder para toda a eternidade. Foi exatamente isso que Jesus ordenou os principais dos sacerdotes darem a Deus, como antes profetizou Malaquias: “Agora, ó sacerdotes, este mandamento é para vós. Se não ouvirdes e se não propuserdes, no vosso coração, dar honra ao meu nome, diz o SENHOR dos Exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e também já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o coração” (Malaquias 2 : 1 , 2).

E ainda, na Lei os dízimos não eram em dinheiro, como já foi dito. E nesse tempo a Lei ainda vigorava e Jesus a estava cumprindo e não podia violá-la. Como então ordenaria dar dízimo em dinheiro a Deus se a Lei não permitia assim?

O DÍZIMO NO LIVRO DE HEBREUS

E por fim, muitos citam Hebreus 7 como estando este livro corroborando a prática do dízimo na Nova Aliança. Mas o livro de Hebreus, cujo autor desconhecemos, foi escrito por alguém que era erudito na Lei e que recebeu de Deus a revelação da Graça salvadora. Ele sabia muito bem a grande diferença entre a Lei e a Graça (suponho ser Paulo).

A carta aos Hebreus é assim denominada, pois foi escrita para o povo hebreu que se convertia a fé cristã. Povo esse que por muitas gerações viveu sob o jugo da Lei e era difícil entender deu uma hora pra outra a plenitude da graça e da liberdade que Cristo garantiu. Por isso, nesse livro o autor procura mostrar a superioridade de um Novo Concerto efetuado por Cristo que na cruz aboliu todos os ritos que a Lei exigia. E é importante salientar que o dízimo fazia parte de um rito mosaico anual que envolvia festas religiosas, muita comida e até bebidas embriagantes (Deuteronômio 14 : 22 - 26). E relativamente a esses ritos da Lei que na graça ficaram sem valor, Paulo escreveu: “Portanto, ninguém tem o direito de vos julgar pelo que comeis, ou pelo que bebeis, ou ainda com relação a alguma festa religiosa, celebração das luas novas ou dos dias de sábado” (Colossenses 2 : 16). Temos que entender que a Lei foi por Cristo cumprida e não abolida (Mateus 5 : 17). A Lei está em vigor para o povo judeu, mas os ritos cerimoniais que faziam parte da Lei e da lição que encerrava o antigo testamento foram todos abolidos: “Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido” (2Corintios 3 : 14).

O DIZIMO DE ABRAÃO A MELQUISEDEQUE COMO MODELO

Outro meio de justificar os dízimos no Novo Testamento é alegando que Melquisedeque antes da Lei recebeu dízimos de Abraão e ele era uma representação de Jesus. Concordo com isso! E continuam no entendimento que por Jesus haver sido constituído sumo-sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, também devemos dar-lhes os dízimos como Abraão o fez ao rei de Salém. Mas Abraão não deu dízimos de suas riquezas, mas de despojos que ele resgatou de uma guerra onde matou quatros reis (Hebreus 7 : 1); e o restante que deveria ficar com ele, entregou-os ao seu legítimo dono, o rei de Sodoma (Gênesis 14 : 22 – 24). E Jesus quando aqui esteve não cobrou dízimos e nem ensinou que num futuro quando assumisse o sumo-sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque, devêssemos lhe pagar dízimos.

O escritor aos Hebreus se esforça por mostrar que Jesus sendo eterno, é antes de Levi; assim, antes de Levi existir, o Pai o constituiu sumo-sacerdote das nossas almas segundo a ordem de Melquisedeque (Salmos 110 : 4 ; Hebreus 6 : 20). Segundo a ordem de Melquisedeque significa dizer que Jesus foi sacerdote, seguindo a escolha soberana de Deus, pois os judeus não reconheciam nenhum sacerdote que não viesse da tribo de Levi, como foi determinado na Lei (Números 3 : 6 – 10). Jesus não era levita, mas da tribo de Judá (Mateus 2 : 6 ; Hebreus 7 : 14). Os judeus tinham a consciência que os dízimos na Lei como rito, eram inerentes ao ofício levita que ofereciam sacrifícios no altar em favor dos homens. Por causa do serviço que os levitas executavam, recebiam dos judeus todos os dízimos como recompensa pelo trabalho (Números 18 : 21). Mas, mas quando Jesus assumiu o sumo-sacerdócio eterno, seguindo o modelo de Melquisedeque, mudou essa Lei. “Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei” (Hebreus 7 : 12). Quando diz que Jesus mudou a Lei, não diz toda a Lei nos seus 613 preceitos, mas a Lei inerente aos sacrifícios levíticos, uma vez que Ele próprio se ofereceu como sacrifício perfeito e insubstituível (Hebreus 10 : 10 – 14).

E no tempo em que a carta aos Hebreus foi escrita os levitas ainda exerciam seu ministério, pois o templo ainda estava de pé. E por ministrarem, ainda recebiam dízimos. Por isso diz: “E aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive” (Hebreus 7 : 8). Esse verso, inclusive é deturpado, quando dizem que “aqui certamente tomam dízimos homens que morrem” , o escritor esteja se referindo ao ministério dos pastores que devem receber dízimos dos crentes; enquanto que “ali, porém, aquele de quem se testifica que vive”, se refira a Jesus. Mas o escritor está falando dos levitas “aqui” e de Melquisedeque “ali”. Porém, com a destruição do templo no ano 70 eC, os levitas encerraram definitivamente seu ministério, pois não existe mais santuário para ministrarem sacrifícios. Ainda que os levitas continuassem ministrando no tempo da graça, nós gentios não teríamos compromisso com eles. "Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo." (Hebreus 13 : 10).

Por isso, na Nova Aliança não se sacrificam animais, pois Cristo na sua morte aboliu todos esses ritos (Efésios 2 : 15). E os ministros do Novo Testamento, sejam presbíteros, evangelistas, pastores ou bispos não são levitas e muito menos sacerdotes que possam exigir dízimos do povo. Jesus mudou essa Lei (Hebreus 7 : 12). Mas essa mudança na Lei, não significa que Ele tenha mudado o dízimo que era mantimento para dinheiro.

QUEM INTRODUZIU O DÍZIMO EM DINHEIRO NA NOVA ALIANÇA?

Como enfatizei, o dizimo não era dinheiro. Dinheiro existia, mas não era aceito como dizimo (Deuteronômio 14 : 22 – 27). Quando Deus legalizou o dizimo como mandamento pediu que nada do que Ele mandou fosse mudado (Deuteronômio 12 : 32). Mas vemos que isso foi mudado. E quem mudou?  Quem primeiramente tentou fazer essa mudança foram os sacerdotes no templo na época de Cristo. Os dízimos e as ofertas que eram levados ao templo em animais e cereais, eram postos no pátio deste para serem cambiados, isto é, trocados por dinheiro. Mas Jesus não aprovou isso e expulsou dalí aqueles que assim faziam, pois haviam transformado o templo em covil de ladrões e salteadores. Os sacerdotes estavam repetindo o feito do tempo de Malaquias quando Deus foi roubado nos dízimos e nas ofertas. E quando eles viram o prejuízo que o Senhor lhes causara a soltar os animais postos para a venda, derrubar as mesas e espalhar o dinheiro pelo chão, ficaram enfurecidos e procuravam matá-lo por fazer isso (Lucas 19 : 45 – 47). Qualquer semelhança hoje não é mera coincidência.

Nos escritos dos chamados pais apostólicos ou pais da igreja e dos apologistas não aparece nada relacionado a dízimos. Irineu de Lião considerou o dizimar uma lei judaica que não se requer dos cristãos, porque os cristãos receberam em Cristo a liberdade, e devem como consequência dar sua contribuição sem constrangimento externo (Haer 4,18,2). Orígenes considerava que o dízimo era algo que deveria ser ultrapassado, de longe, pelos cristãos nas suas contribuições (In Num. Hom. 11).

Rei Católico Carlos Magno - Criador do Dízimo em dinheiro
Porém, quem definitivamente fez essa mudança, impondo essa obrigação aos cristãos foi a Igreja Católica Romana no sec. VII da era cristã. Essa igreja inicialmente introduziu a prática do dízimo, como maneira de sustentar seus clérigos. Pra isso, ela usou passagens do Novo Testamento, tais como: Mateus 10 : 1 0 ; Lucas 10 : 7 e 1Corintios 9 ; 3 – 4 e outras, mas isso numa ação voluntaria por parte dos fiéis.  Como não conseguiu o sucesso desejado, precisou recorrer ao poder da lei civil, para impor aquilo que a instrução não conseguiu levar a efeito. Então, entra em ação o famoso decreto do rei católico Carlos Magno (785 dC). O decreto do rei obrigou a todos os fieis tributarem 10% de suas rendas para o sustento da igreja e seus clérigos, quer gostassem ou não.

Assim, essa igreja mudou a doutrina do dizimo de Deus, impondo no seu lugar a que ela mesma criou. Ela não apenas mudou a lei do dizimo que era MANTIMENTO, como também introduziu o costume de construir templos em honra às suas divindades, como criou o modelo de hierarquia para ministrar nesses (modelo de hierarquia também adotado pelas igrejas evangélicas). E para manter seus templos, bem como seus ministros, seria necessário cobrar dízimo em dinheiro dos fiéis e, como o povo não tinha acesso às escrituras, foi fácil modificar as Escrituras e introduzir essa tradição que a maioria das igrejas evangélicas e protestantes aceitam como Divina, mas não é.

CONCLUSÃO

O Novo Testamento em parte alguma ensina sobre a prática de dar e/ou pagar dízimos. Ensina sim, com vastas referências o contribuir e seus propósitos. No próximo artigo falarei sobre a Contribuição no Novo testamento. Mas como vimos, o dizimo é bíblico, mas não é cristão. Foi praticado antes da Lei, incorporado na Lei, mas não sobreviveu na Graça, porque Cristo cumpriu a Lei. O dízimo atual é uma herança que a igreja católica romana legou as demais igrejas, mesmo depois da Reforma no Sec. XV. Todos os que dão a décima parte de seus rendimentos às instituições religiosas pensando estar obedecendo a uma doutrina bíblica, estão na verdade obedecendo ao ensinamento de uma igreja que eles mesmos condenam. Mas estão a beber do mesmo cálice (Apocalipse 17 : 4). O testemunho que mostra que o dizimo atual não é uma doutrina divina, é a dissenção, a divisão e exclusão de pessoas das igrejas que ele proporciona. Por ele, alguns enriquecem em detrimento da ignorância de outros.

O dizimo bíblico era um principio de Justiça, Misericórdia e Fé (Mateus 23 : 23). Mas o dizimo atual imposto pela religião é a medida aferidora que delimita quem tem valor e quem não tem; quem é bandido e quem é o mocinho; quem presta e quem não presta e, que vai para o céu e quem vai para o inferno.

"Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?" (Gálatas 4 : 16).

Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará

Fontes: Bíblia Sagrada Almeida Corrigida Fiel ao texto original (ACF)
                      Dicionário Internacional de Teologia.