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terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Reforma Protestante e as 95 Teses de Martinho Lutero

Amanhã, 31 de outubro de 2012, comemora-se 495 anos da reforma protestante, cujo movimento mudou o rumo da igreja no mundo. Como protestante, desejo expor a história deste feito, trazendo a memória a luta e o sangue daqueles que, inconformados com o rumo que a igreja tomou, precisaram se levantar e alçar a voz de protesto, ainda que isso fosse lhes custar caro.

Martinho Lutero
A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão iniciado no início do século XVI pelo monge agostiniano Martinho Lutero, quando através da publicação de suas  95 Teses, em 31 de Outubro de 1517 na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco Solas. 

Lutero para uns foi um herege e apóstata, mas para outros um herói da fé, que com certeza receberá seu galardão por batalhar e defender a fé que uma vez foi entregue aos santos. Contudo, não podemos esquecer que para a reforma acontecer, outros com o mesmos ideais de Lutero tiveram de preparar o caminho, quais são:  e John Huss. Este pagou com a própria vida, condenado como herege.

John Wycliffe
John Wycliffe Nascido na cidade de Yorkshire, Inglaterra, em 1329. Atendeu à Universidade de Oxford e terminou o doutorado de Teologia em 1372. Também foi um dos mestres da Universidade de Balliol. Por ser o mais eminente teólogo de seus dias, teve a oportunidade de ser o capelão do rei Ricardo II com acesso ao Parlamento, e de traduzir a Bíblia, junto com seus associados, do Latim para o Inglês. As habilidades de Wycliff influenciaram na preparação do caminho para a reforma na Inglaterra. Em 1384, ele morre de derrame. 

John Huss
John Huss nasceu por volta de 1370 de uma família camponesa que vivia na pequena aldeia de Hussinek, e ingressou na universidade de Praga quando tinha uns dezessete anos. A partir de então toda a vida transcorreu na capital de seu país, excetuados seus dois anos de exílio e encarceramento de Constança. Em 1402 ele foi nomeado reitor e pregador da capela de Belém. Ali ele pregou com dedicação a reforma que tantos outros checos propugnaram desde os tempos de Carlos IV. Sua eloquência e favor eram tamanhos que aquela capela em pouco se transformou no centro do movimento reformador. Vesceslau e sua esposa Sofia o escolheram por seu confessor, e lhe deram seu apoio. Alguns dos membros mais destacados da hierarquia começaram a encará-lo com receio, mas boa parte do povo e da nobreza parecia segui-lo, e o apoio dos reis ainda era suficiente importante para que os prelados não se atravessem a tomar medidas contra o pregador entusiasmado. Influenciado pelos ensinos de Wycliff, foi tido como herege e queimado na estaca no dia 06 de julho de 1415 pelo Concílio de Constança. 
Morte de John Huss - 06 de julho de 1415
Como não seria diferente, Wycliff depois de morto, também foi condenado como herege pelo mesmo Concílio, e 45 de seus ensinamentos foram tidos como heresias. Por causa disso, a Igreja Romana deu ordem para cavar sua sepultura, queimar os seus ossos, e lançar suas cinzas no rio Swift em 1428. John Wycliff foi o principal expoente de medidas reformadoras, e por isso é chamado de “Estrela d'Alva da Reforma”.
    
Abaixo, a transcrição das 95 Teses de Lutero que culminaram na Reforma Protestante:
95 Teses de Martinho Lutero

1ª Tese
Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos...., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.
2ª Tese
E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo do ofício dos sacerdotes.
3ª Tese
Todavia não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de modificações da carne.
4ª Tese
Assim sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência, perdura enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até a entrada desta para a vida eterna.
5ª Tese
O papa não quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao seu alvitre ou em acordo com os cânones, que são estatutos papais.
6ª Tese
O papa não pode perdoar divida senão declarar e confirmar aquilo que Já foi perdoado por Deus; ou então faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes casos, se desprezados, a dívida deixaria de ser em absoluto anulada ou perdoada.
7ª Tese
Deus a ninguém perdoa a dívida sem que ao mesmo tempo o subordine, em sincera humildade, ao sacerdote, seu vigário.
8ª Tese
Canones poenitendiales, que não as ordenanças de prescrição da maneira em que se deve confessar e expiar, apenas aio Impostas aos vivos, e, de acordo com as mesmas ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.
9ª Tese
Eis porque o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluído este de todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema
10ª Tese
 Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõem aos moribundos poenitentias canonicas ou penitências para o purgatório a fim de ali serem cumpridas.
11ª Tese    
 Este joio, que é o de se transformar a penitência e satisfação, Previstas pelos cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi semeado quando os bispos se achavam dormindo.
12ª Tese
 Outrora canonicae poenae, ou sejam penitência e satisfação por pecadores cometidos eram impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidade de provar a sinceridade do arrependimento e do pesar.
13ª Tese
 Os moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o direito canônico, sendo, portanto, dispensados, com justiça, de sua imposição.
14ª Tese 
 Piedade ou amor Imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menor o amor, tanto maior o temor.
15ª Tese
 Este temor e espanto em si tão só, sem falar de outras cousas, bastam para causar o tormento e o horror do purgatório, pois que se avizinham da angústia do desespero.
16ª Tese
 Inferno, purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.
17ª Tese    
 Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, nelas também deve crescer e aumentar o amor.
18ª Tese
 Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas ações e nem pela Escritura, que as almas no purgatório se encontram fora da possibilidade do mérito ou do crescimento no amor.
19ª Tese
 Ainda parece não ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham certeza de sua salvação e não receiem por ela, não obstante nós termos absoluta certeza disto.
20ª Tese
 Por isso o papa não quer dizer e nem compreende com as palavras perdão plenário de todas as penas que todo o tormento é perdoado, mas as penas por ele impostas.
21ª Tese
 Eis porque erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa.
22ª Tese
 Pensa com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas no purgatório das que segundo os cânones da Igreja deviam ter expiado e pago na presente vida.
23ª Tese
 Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos mais perfeitos, que são muito poucos.
24ª Tese    
 Assim sendo, a maioria do povo é ludibriada com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.
25ª Tese
 Exatamente o mesmo poder geral, que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura d'almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer para com os seus em particular.
26ª Tese
 O papa faz muito bem em não conceder às almas o perdão em virtude do poder das chaves (ao qual não possui), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.
27ª Tese 
 Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.
28ª Tese
 Certo é que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao dinheiro cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da Igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.
29ª Tese
 E quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem diga o que sucedeu com Santo Severino e Pascoal.
30ª Tese
 Ninguém tem certeza da suficiência do seu arrependimento e pesar verdadeiros; muito menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus pecados.
31ª Tese
 Tão raro como existe alguém que possui arrependimento e, pesar verdadeiros, tão raro também é aquele que verdadeiramente alcança indulgência, sendo bem poucos os que se encontram.
32ª Tese
 Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.
33ª Tese
 Há que acautelasse muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dadiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus.
34ª Tese
 Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens.
35ª Tese
 Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.
36ª Tese
 Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.
37ª Tese
 Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.
38ª Tese   
 Entretanto se não deve desprezar o perdão e a distribuição por parte do papa. Pois, conforme declarei, o seu perdão constitui uma declaração do perdão divino.
39ª Tese
 É extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e ao contrário o verdadeiro arrependimento e pesar.
40ª Tese
 O verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo: mas a profusão da indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça, pelo menos quando há oportunidade para isso.
41ª Tese
 É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal para que o homem singelo não julgue erroneamente ser a indulgência preferível às demais obras de caridade ou melhor do que elas.
42ª Tese
 Deve-se ensinar aos cristãos, não ser pensamento e opinião do papa que a aquisição de indulgência de alguma maneira possa ser comparada com qualquer obra de caridade.
43ª Tese
 Deve-se ensinar aos cristãos proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta aos necessitados do que os que compram indulgências.
44ª Tese
 Ê que pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se mais piedoso; pelas indulgências, porém, não se torna melhor senão mais seguro e livre da pena.
45ª Tese
 Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgências do papa. mas provoca a ira de Deus.
46ª Tese
 Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem fartura , fiquem com o necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.
47ª Tese 
 Deve-se ensinar aos cristãos, ser a compra de indulgências livre e não ordenada
48ª Tese
 Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa precisa conceder mais indulgências, mais necessita de uma oração fervorosa do que de dinheiro.
49ª Tese
 Deve-se ensinar aos cristãos, serem muito boas as indulgências do papa enquanto o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em conseqüência delas, se perde o temor de Deus.
50ª Tese
 Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa tivesse conhecimento da traficância dos apregoadores de indulgências, preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
51ª Tese
 Deve-se ensinar aos cristãos que o papa, por dever seu, preferiria distribuir o seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de indulgências, vendendo, se necessário fosse, a própria catedral de São Pedro.
52º Tese
 Comete-se injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da Palavra do Senhor.
53ª Tese 
 São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de indulgências proíbem a Palavra de Deus nas demais igrejas.
54ª Tese
 Esperar ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências, mesmo se o próprio papa oferecesse sua alma como garantia.
55ª Tese
 A intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é a causa menor, com um sino, uma pompa e uma cerimônia, enquanto o Evangelho, que é o essencial, importa ser anunciado mediante cem sinos, centenas de pompas e solenidades.
56ª Tese
 Os tesouros da Igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não são bastante mencionados e nem suficientemente conhecido na Igreja de Cristo.
57ª Tese
 Que não são bens temporais, é evidente, porquanto muitos pregadores a estes não distribuem com facilidade, antes os ajuntam.
58ª Tese
Tão pouco são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto estes sempre são eficientes e, independentemente do papa, operam salvação do homem interior e a cruz, a morte e o inferno para o homem exterior.
59ª Tese
 São Lourenço aos pobres chamava tesouros da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época.
60ª Tese
 Afirmamos com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que estes tesouros são as chaves da Igreja, a ela dado pelo merecimento de Cristo.
61ª Tese
 Evidente é que para o perdão de penas e para a absolvição em determinados casos o poder do papa por si só basta.
62ª Tese
 O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
63ª Tese
 Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os primeiros sejam os últimos.
64ª Tese
 Enquanto isso o tesouro das indulgências é sabiamente o mais apreciado, porquanto faz com que os últimos sejam os primeiros.
65ª Tese
 Por essa razão os tesouros evangélicos outrora foram as redes com que se apanhavam os ricos e abastados.
66ª Tese
 Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.
67ª Tese
 As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como a mais sublime graça decerto assim são consideradas porque lhes trazem grandes proventos.
68ª Tese
 Nem por isso semelhante indigência não deixa de ser a mais Intima graça comparada com a graça de Deus e a piedade da cruz.
69ª Tese
 Os bispos e os sacerdotes são obrigados a receber os comissários das indulgências apostólicas com toda a reverência-
70ª Tese
 Entretanto têm muito maior dever de conservar abertos olhos e ouvidos, para que estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não preguem os seus próprios sonhos.
71ª Tese
 Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.
72ª Tese  
 Quem levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e maldito.
73ª Tese
 Da mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem astuciosamente.
74ª Tese  
 Muito mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob o pretexto de indulgência, prejudiquem a santa caridade e a verdade pela sua maneira de agir.
75ª Tese
 Considerar as indulgências do papa tão poderosas, a ponto de poderem absolver alguém dos pecados, mesmo que (cousa impossível) tivesse desonrado a mãe de Deus, significa ser demente.
78 ª Tese
Bem ao contrario, afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo o menor pecado venial pode anular o que diz respeito à culpa que constitui.
77ª Tese
Dizer que mesmo São Pedro, se agora fosse papa, não poderia dispensar maior indulgência, significa blasfemar S. Pedro e o papa.
78ª Tese
Em contrario dizemos que o atual papa, e todos os que o sucederam, é detentor de muito maior indulgência, isto é, o Evangelho, as virtudes o dom de curar, etc., de acordo com o que diz 1Coríntios 12.
79ª Tese
Afirmar ter a cruz de indulgências adornada com as armas do papa e colocada na igreja tanto valor como a própria cruz de Cristo, é blasfêmia.
80ª Tese
Os bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do povo, terão de prestar contas deste procedimento.
81ª Tese
Semelhante pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a Indulgência, faz com que mesmo a homens doutos é difícil proteger a devida reverência ao papa contra a maledicência e as fortes objeções dos leigos.
82 ª Tese
Eis um exemplo: Por que o papa não tira duma só vez todas as almas do purgatório, movido por santíssima' caridade e em face da mais premente necessidade das almas, que seria justíssimo motivo para tanto, quando em troca de vil dinheiro para a construção da catedral de S. Pedro, livra um sem número de almas, logo por motivo bastante Insignificante?
83ª Tese
Outrossim: Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para o mesmo fim ou não se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou pretendas oferecidos em favor dos mortos, visto' ser Injusto continuar a rezar pelos já resgatados?
84ª Tese
Ainda: Que nova piedade de Deus e dó papa é esta, que permite a um ímpio e inimigo resgatar uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e não resgatar esta mesma alma piedosa e querida de sua grande necessidade por livre amor e sem paga?
85ª Tese
Ainda: Por que os cânones de penitencia, que, de fato, faz muito caducaram e morreram pelo desuso, tornam a ser resgatados mediante dinheiro em forma de indulgência como se continuassem bem vivos e em vigor?
86ª Tese
Ainda: Por que o papa, cuja fortuna hoje é mais principesca do que a de qualquer Credo, não prefere edificar a catedral de S. Pedro de seu próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de fiéis pobres?
87ª Tese
Ainda: Quê ou que parte concede o papa do dinheiro proveniente de indulgências aos que pela penitência completa assiste o direito à indulgência plenária?
88ª Tese
Afinal: Que maior bem poderia receber a Igreja, se o papa, como Já O faz, cem vezes ao dia, concedesse a cada fiel semelhante dispensa e participação da indulgência a título gratuito.
89ª Tese
Visto o papa visar mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que revoga os breves de indulgência outrora por ele concedidos, aos quais atribuía as mesmas virtudes?
90ª Tese
Refutar estes argumentos sagazes dos leigos pelo uso da força e não mediante argumentos da lógica, significa entregar a Igreja e o papa a zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.
91ª Tese
Se a Indulgência fosse apregoada segundo o espírito e sentido do papa, aqueles receios seriam facilmente desfeitos, nem mesmo teriam surgido.
92ª Tese
Fora, pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz! Paz! e não há Paz.
93ª Tese
Abençoados sejam, porém, todos os profetas que dizem à grei de Cristo: Cruz! Cruz! e não há cruz.
94ª Tese
Admoestem-se os cristãos a que se empenhem em seguir sua Cabeça Cristo através do padecimento, morte e inferno.
95ª Tese
E assim esperem mais entrar no Reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados diante de consolações infundadas. 
                            
John Wycliffe, John Huss e Martinho Lutero fizeram a sua parte e não podemos esquecer que também somos protestantes.

Reginaldo Barbosa

Sta. Bárbara do Pará
Fontes:
http://wilsonporte.blogspot.com.br/2012/07/ha-597-anos-morria-john-huss.html
http://in-formatio.com/?p=3782
http://solascriptura-tt.org/PessoasNosSeculos/JoaoHuss-Desconhecido.htm
http://www.sepoangol.org/wycliffe.htm
http://www.monergismo.com/textos/credos/lutero_teses.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Protestante

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dízimo - O que era e o que não é




Dízimo é uma doutrina Bíblica? Sim!
É um mandamento de Deus? Sim
É para todos os filhos de Deus obedecerem? Não!
E por que não? Apesar de ser uma doutrina e um mandamento de Deus, o dízimo não é para o crente salvo em Cristo praticar, pois este foi uma obra da lei dada aos judeus exclusivamente. Assim como as demais ordenanças do velho testamento que totalizavam 613 preceitos, o dízimo como lei teve o seu cabal cumprimento por Cristo na cruz que "Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz," (Efésios 2:15).

É notório que quase por unanimidade os líderes das instituições religiosas defendem essa prática como necessária, alegando que o dizimo é essencial à manutenção do reino de Deus e que sem ele a igreja pararia sua missão. Por outro lado, há os que contestam, pois, pela Bíblia, entendem e crêem que o dizimo, como sendo uma obra da lei, foi por Cristo cumprida e conseqüentemente anulada (2Cor 3:14; Hb 8:13).

Tais discussões e alguns fatos que aconteceram em minha vida de cristão obrigaram-me a buscar conhecimentos sobre esse assunto e, por isso passei a pesquisar aprofundadamente sobre esta doutrina, a qual posso dizer que não é polêmica, mas sim mal ensinada. Na verdade, quando se fala de dízimos, não há um ensino aprofundado sobre isso nas igrejas, e quando o tem, são parciais, não levando em conta o que realmente a Bíblia diz sobre o tema. Alguns líderes até se abstém de falar sobre isso e, por essa omissão, abrem precedentes para o questionamento desse ensino.


A Bíblia, nossa única regra de fé e prática nos ensina de forma bem clara e elucidativa sobre este assunto, contudo, é de vital importância que conheçamos o assunto em suas raízes, para não corrermos o risco de estarmos combatendo contra a Palavra de Deus, sabendo que se assim o fizermos, prestaremos contas diante do justo juiz e poderemos até mesmo ser condenados vindo a ser vetada nossa entrada no reino dos céus (Apoc. 22:18,19).

O Dízimo tem como origem a palavra hebraica ESSER, que quer dizer dez. Do latim decimu (a décima parte), veio para o português com o nome de dízimo.  

O DIZIMO NA HISTÓRIA

Enganam-se os que pensam que o ato de dizimar começou com o patriarca Abraão, pois estudos sobre o assunto revelam que o ato de dizimar era um costume entre as nações pagãs. Abraão quando foi chamado por Deus era pagão (gentio), e como tal, certamente havia aprendido determinadas práticas como o ato de dizimar que já era um costume entre os povos da antiguidade, como os gregos e os chineses, onde os reis se utilizavam dessa prática para aumentarem seus rebanhos e fazendas. O dízimo era uma forma de imposto cobrado pelos monarcas antigos.

Na Grécia, por exemplo, vemos os dízimos incluídos nos escritos de Heródoto. Esse homem, conhecido como o pai da história, foi um historiador grego que viveu de 484 AC até 420 AC. Em seus escritos, Heródoto narrou acontecimentos envolvendo povos como gregos, egípcios, fenícios entre muitos outros. O dízimo citado por Heródoto era muito semelhante ao de Abraão, visto que se tratava de despojos de guerra. 

Logo abaixo estão dois trechos dos escritos desse historiador:

Heródoto 1.89- “... exijam de tuas tropas os despojos, sob o pretexto de que é preciso consagrar a décima parte a Júpiter.Heródoto 9-80 Calíope- "A décima parte desses despojos foi destinada aos deuses... Separada a décima parte dos despojos, foi o resto distribuído aos guerreiros, a cada um segundo o seu merecimento... As Pausânias coube também uma décima parte dos despojos, incluindo mulheres, cavalos, dinheiro (talentos), camelos e várias outras preciosidades."

Os Fenícios e cartagineses também tinham a prática de dizimar e na antiga Grécia, mercadores, davam os dízimos de seus lucros a Hércules. Hércules era um deus da mitologia grega, suposto filho de Zeus e da humana Alcmena.

Persas e babilónios também davam dízimos. Fenícios do século 14 A.C, também dizimavam, pois em Ungarit na Felícia foi achado relatos dessa prática. Na Mesopotâmia no período sumério, dizimistas davam dízimos nos templos.

Egípcios e romanos também davam dízimos. Os dízimos dos egípcios, não tem a ver com a quinta parte exigida em Gênesis 47.24: ”Das colheitas dareis o quinto a Faraó, e as quatro partes serão vossas, para semente do campo, e para o vosso mantimento e dos que estão em vossas casas, e para que comam as vossas crianças”.
Estela Famine
A estela famine (estela da fome), é um monumento egípcio em pedra, datada de 380 A.C. (foto ao lado). Composta de 32 colunas gravadas, nela está registrado o dízimo sendo cobrado na cidade portuária de Naukratis. Dois dos textos escritos revelam o seguinte:
"Todos os pescadores, os caçadores, que capturam pássaros, peixes e armadilhas e todos os tipos de jogo, e todos os que Iions armadilha no deserto, deu-lhes exata de um décimo do exame de todos estes, e todos os animais jovens nascidos do fêmeas nestas milhas [em sua totalidade].
"Um dará os animais marcados para todos os holocaustos e sacrifícios diários, e um deles deve dar um décimo de ouro, marfim, ébano, madeira alfarrobeira, ocre... todos os tipos de madeira..."

Evidências dos dízimos entre povos antigos são inquestionáveis. Quase em toda sua totalidade de relatos, sempre se tratando de alimentos e produções agrícolas, mas nunca em dinheiro como é também em toda a Bíblia Sagrada.


O DÍZIMO NA BÍBLIA

Na história bíblica sabemos que foi Abraão quem iniciou a prática de dar dízimos, e como vimos acima, ele o fez por ser uma prática comum nas nações gentias, de onde ele também saiu ao ser  chamado por Deus (Gn 12:1). Contudo, o dizimo que Abraão deu não é um exemplo para que nós, que pela fé somos seus descendentes, possamos imitá-lo, pois ele deu um dizimo de sangue, ou seja; Abraão matou cinco reis e dos despojos espoliados destes reis, deu a décima parte a Melquisedeque e o restante os deu ao rei de Sodoma, não ficando com nada (Gn 14:20-24). Apesar de Abraão ser muito rico, proprietário de fazendas e tendo muitos empregados, ele não deu os dízimos do que possuía. Também, não podemos dizer que Abraão foi dizimista, pois ele praticou esse ato uma única vez, quando cruzava os domínios de Melquisedeque que além de sacerdote era rei. Naquela época era costume ou até mesmo uma regra para um estrangeiro ter de pagar pedágio ou imposto ao rei, quando fosse preciso passar pelos seus domínios; fato que levou Abraão a fazê-lo sem ser mandado por Deus.

O DÍZIMO NA LEI – SEU PROPÓSITO

Ao estabelecer as leis ao povo de Israel, o Senhor JEOVÁ determinou a este povo que somente após tomarem posse da terra que haviam de conquistar é que eles haveriam de dar os dízimos daquilo que a terra produziria na forma de cereais e das primícias dos rebanhos.

Na instituição do dízimo como Lei, observamos três objetivos principais, pelos quais Deus o constituiu como regra para os Israelitas:

SUSTENTO DOS LEVITAS: 

Os levitas (descendentes de Levi) foram os únicos que não receberam herança em Israel, quando na repartição da terra conquistada. Isto porque, o Senhor, muito tempo antes, quando ainda eles peregrinavam no deserto, os separou para um serviço especial que era cuidar do Tabernáculo e de tudo quanto pertencesse a esse (Números 1:50). Mas adiante, vemos Deus separando essa tribo para o serviço sacerdotal e essa escolha se deu quando Finéias, filho de Eleazar que era filho de Arão o sacerdote, tomou uma atitude radical, quando exterminou a Zimri que havia profanado o arraial dos israelitas com Cosbi a midianita. Essa atitude agradou sobremaneira ao Senhor que prometeu que ele e sua descendência teriam a aliança do sacerdócio perpétuo (Números 25:7-13). Em Êxodo 6:25 Arão, Eleazar e Finéias são mencionados como os cabeças dos pais dos levitas, segundo suas famílias. Porém, tal responsabilidade os impedia de possuir qualquer tipo de patrimônio ou exercer qualquer outro tipo de atividade que não fosse o cuidado pelo lugar de adoração que era o tabernáculo e a intercessão em favor do povo de Israel. Assim, pelo fato de eles dedicarem a vida e o tempo integral nas coisas sagradas, o Senhor determinou que o sustento deles adviria das demais tribos (seus irmãos) sob a forma de dízimos, que seria justamente a décima parte (10%) de toda a colheita produzida e também e do gado.


O SUSTENTO DOS SACERDOTES:  

Como vimos, os levitas eram os responsáveis por receber todos os dízimos de seus irmãos, pelo fato de realizarem, praticamente todo o serviço pesado na casa do Senhor (Números 4:1-49). Como superintendente dos levitas estava o sacerdote, filhos de Arão (que também eram levitas). De igual modo, estes deveriam ser participantes destas dádivas, uma vez que eles também não poderiam ter bens e/ou propriedades. Estes deveriam dedicar-se integralmente na obra de Deus, dando atendimento espiritual e também material ao povo.

Os sacerdotes deveriam receber o sustento dos levitas que ao receberem os dízimos do povo, deveriam separar a décima parte de todo o dízimo recebido. A décima parte do dízimo chamava-se dízimo dos dízimos (também conhecido como ofertas alçadas). Esta era a parte que cabia ao sacerdote. "Também falarás aos levitas, e dir-lhes-ás: Quando receberdes os dízimos dos filhos de Israel, que eu deles vos tenho dado por vossa herança, deles oferecereis uma oferta alçada ao SENHOR, os dízimos dos dízimos." (Números 18.26). O judeu não deveria entregar seus dízimos aos sacerdotes, mas aos levitas unicamente, pois somente a eles Deus determinou entregarem os dízimos. "Assim também oferecereis ao SENHOR uma oferta alçada de todos os vossos dízimos, que receberdes dos filhos de Israel, e deles dareis a oferta alçada do SENHOR a Arão, o sacerdote."  (Números 18: 28).

O CUIDADO COM OS NECESSITADOS: 

Embora hoje, poucos ousem falar nesse assunto, os dízimos foram estabelecidos como regra aos hebreus como uma forma de também cuidar dos necessitados, como: órfãos, viúvas e até os estrangeiros. O dízimo foi estabelecido como um princípio de igualdade entre os hebreus. Quem tinha posses dizimava e o que nada tinha e nem dizimava participava das bênçãos dos dízimos. Isso só nos mostra o grande amor de Deus e o cuidado pelos menos favorecidos na antiga aliança. Por essa razão é que Jesus censurou os escribas e fariseus (Mt 23:23), quando estes tentavam se justificar diante de Deus somente por dar o dizimo da hortelã, do endro e do cominho, mais não cumpriam o principal da lei, que era exercer a justiça, a misericórdia e a fé. 

Lendo o Antigo Testamento atentamente, vemos que Deus mostra um cuidado todo especial com essa classe de pessoas: Não perverterás o direito do teu pobre na sua demanda... Também não oprimirás o estrangeiro; pois vós conheceis o coração do estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito. Também seis anos semearás tua terra, e recolherás os seus frutos; Mas ao sétimo a dispensarás e deixarás descansar, para que possam comer os pobres do teu povo, e da sobra comam os animais do campo. Assim farás com a tua vinha e com o teu olival” (Êxodo 23.6; 9-11).

"E, quando teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então sustentá-lo-ás, como estrangeiro e peregrino viverá contigo."  (Levítico 25 : 35).

Quando entre ti houver algum pobre, de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na terra que o SENHOR teu Deus te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; Antes lhe abrirás de todo a tua mão, e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade. Guarda-te, que não haja palavra perversa no teu coração, dizendo: Vai-se aproximando o sétimo ano, o ano da remissão; e que o teu olho seja maligno para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada; e que ele clame contra ti ao SENHOR, e que haja em ti pecado. Livremente lhe darás, e que o teu coração não seja maligno, quando lhe deres; pois por esta causa te abençoará o SENHOR teu Deus em toda a tua obra, e em tudo o que puseres a tua mão. Pois nunca deixará de haver pobre na terra; pelo que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre na tua terra”. (Deuteronômio 15.7-11).

O SENHOR ao inspirar o profeta Malaquias a falar sobre a questão do roubo que estava acontecendo em relação aos dízimos, primeiramente ele acusa os sacerdotes de haverem se desviado do caminho, profanado e violado a aliança e, por não guardarem o mandamento do SENHOR, fizeram que também outros tropeçassem na lei (Ml 2:1-9). Eles passaram a ser desprezíveis e um mau exemplo para toda a nação. Por essa razão que Israel passou a reter os dízimos, justamente pela má administração dos sacerdotes, pois eles se apossaram de algo que não lhes pertencia, pois os dízimos eram para serem administrados pelos levitas, a fim de que não faltasse mantimento na casa de Deus, pois o dízimo como alimento que era, deveria ser repartido com os necessitados. Por isso, diz o SENHOR aos sacerdotes: E chegar-me-ei a vós para juízo; e serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que juram falsamente, contra os que defraudam o diarista em seu salário, e a viúva, e o órfão, e que pervertem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o SENHOR dos Exércitos” (Ml 3:5).

O roubo pelo qual Deus se sentia lesado era justamente pelo motivo de os dízimos e as ofertas não estarem sendo administrados para o fim os quais Deus os havia destinados, que era o sustento dos levitas e dos necessitados. Lendo Neemias capítulo 13, compreendemos a razão desse roubo, onde o sacerdote Eliasibe, aquele que deveria zelar pela lei e pela casa do SENHOR, profanou-a ao ceder uma câmara do templo para servir de aposento para seu genro o amonita Tobias que se casara com sua filha. Este casamento foi outra violação da lei do SENHOR, pois Tobias não pertencia a linhagem santa e foi aquele que quis a todo custo atrapalhar os trabalhos de Neemias nas reconstruções dos muros de Jerusalém; e que na ausência deste, junto com seu sogro sacerdote, se aproveitou para usufruir daquilo que era de direito dos levitas e necessitados – o dízimo e as ofertas. Uma vez morando no templo, não custou nada para Tobias e seu sogro, o sacerdote Eliasibe roubarem a Deus, apossando-se dos dízimos e das ofertas. Sem terem o que comer, os levitas tiveram de abandonar o templo e sair a procura de trabalho para seus sustentos, o que pela lei eram proibidos, pois Deus os havia separado para assistir continuamente na casa de Deus e por esse ofício, serem mantidos pelos dízimos e ofertas, que convém dizer não era dinheiro, mas mantimento - comida (Deut 14:22-29).

Na defesa do dizimo como dinheiro na era atual, alguns tentam se justificar alegando que o povo de Israel não dizimava com dinheiro pelo fato de serem nômades, a caminho da terra prometida. E, como tais, não possuíam dinheiro, porém usavam seus bens (no caso o rebanho e a própria comida) como moeda de troca. A luz da bíblia, essa tese é lançada por terra, pois por determinação do próprio Deus, os israelitas só deveriam começar a dizimar quando já estivessem de posse da terra (Dt 12:1-12). E, também o dinheiro não era aceito como dizimo, conforme preceitua o Senhor em Deuteronômio 14:22-26: “Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que cada ano se recolher do campo. E, perante o SENHOR teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao SENHOR teu Deus todos os dias. E, quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que escolher o SENHOR teu Deus para ali pôr o seu nome, quando o SENHOR teu Deus te tiver abençoado;  Então vende-os, e ata o DINHEIRO na tua mão, e vai ao lugar que escolher o SENHOR teu Deus;  E aquele DINHEIRO darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa”;

Convém ressaltar que os dízimos eram entregues uma vez por ano e não todos os meses (Deut 14:22). E a cada três anos, havia o ano dos dízimos, pois neste ano havia uma solenidade especial, onde o próprio dizimista administrava o seu dizimo como segue: “Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas; Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos fizerem” (Deuteronômio 14:28,29).

 “Quando acabares de separar todos os dízimos da tua colheita no ano terceiro, que é o ano dos dízimos, então os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas portas, e se fartem” (Deuteronômio 26:12).

Também, a cada sete anos, que era o ano da remissão, o povo ficava isento de dizimar, pois, uma vez que os dizimo se referiam ao fruto da terra, eles não poderiam colher para dá-los, pois no sétimo ano a terra deveria descansar. O que a terra produzisse deliberadamente deveria servir de alimento para seu proprietário, empregado, órfãos, viúvas e estrangeiros, mas os dízimos deste não deveriam ser tirados (Lv 25:6).

Repartir o dízimo com o necessitado era um ato tão nobre que o Senhor ordenou aos judeus fazerem uma oração após haverem repartido-os com eles. Vejam a linda oração do dizimista e no que ela consistia: Deuteronômio 26:12-15: Quando acabares de separar todos os dízimos da tua colheita no ano terceiro, que é o ano dos dízimos, então os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas portas, e se fartem;  E dirás perante o SENHOR teu Deus: Tirei da minha casa as coisas consagradas e as dei também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão e à viúva, conforme a todos os teus mandamentos que me tens ordenado; não transgredi os teus mandamentos, nem deles me esqueci;  Delas não comi no meu luto, nem delas nada tirei quando imundo, nem delas dei para os mortos; obedeci à voz do SENHOR meu Deus; conforme a tudo o que me ordenaste, tenho feito.  Olha desde a tua santa habitação, desde o céu, e abençoa o teu povo, a Israel, e a terra que nos deste, como juraste a nossos pais, terra que mana leite e mel”.

Não encontramos promessas de bênçãos de prosperidade na Bíblia para quem fosse “dizimista fiel”. Aliás, nem mesmo o termo “dizimista” encontramos na Bíblia e muito menos “fiel”, pois o judeu levava o dízimo uma vez ao ano, ao lugar que Deus determinava. Para ser um “dizimista fiel”, a luz da Bíblia, precisaríamos ser judeus, pois esta ordenança foi para eles e, além do mais, precisaríamos levar os frutos de nossas produções agrícolas e as primícias do rebanho e a grande maioria dos crentes não são judeus e vivem do salário de seus trabalhos e o dízimo não era aceito em dinheiro. A prosperidade de fato sempre esteve relacionada ao ato de se ajudar o necessitado e isso tanto no Velho como no Novo Testamento (Sl 41:1-3; Sl 112; 2Cor 9:6-10). Também, as maldições prometidas para quem não era fiel nos dízimos e nas ofertas estava exclusivamente vinculada ao povo judeu que vivia da agropecuária e cujo devorador que era uma espécie de gafanhoto, assolava as plantações destes. 

Vale ressaltar que esse devorador nunca foi demônio, como muitos acreditam e que se tornou mais poderoso que Jesus, pois segundo alguns defendem, não existe oração, jejum, campanha e muito menos o Nome de Jesus pode expulsá-lo da vida do infiel nos dízimos. Isso é heresia e eu, por falta de entendimento muito preguei isso, mas sei que Deus não levou em conta o tempo da minha ignorância (At 17:30). Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rom 8:1). A igreja de Cristo está isenta das práticas verotestamentária, pois ela já foi abençoada com toda a sorte de bênçãos nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Ef 1:3).

DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO?

Alguns mestres defendem e ensinam que Jesus aprovou a prática do dízimo no Novo Testamento, pelo que está escrito em Mt 23:23: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas”

Se nos apegarmos isoladamente ao texto em voga, somos tentados a concordar que de fato Jesus está dando seu aval a prática do dizimo na Nova Aliança. Contudo, a Bíblia não se contradiz, e ela mesma nos ensina que Jesus não veio ab-rogar a lei, mas cumpri-la (Mt 5:17). Embora os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João façam parte do cânone do Novo Testamento, devemos entender que nesse tempo a lei ainda vigorava, pois o Novo Testamento de fato só teve início com a morte de Jesus. Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador. Porque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?” (Hb 9:16,17)

Em todo o seu ministério terreno Jesus cumpriu toda a lei, pois para isso Ele veio (Gl 4:4). A sua morte foi o cumprimento dessa lei, pois, Jesus foi condenado à morte de Cruz como um malfeitor sem o ser. Jesus se fez maldito por mim, morrendo em meu lugar e a lei que Ele veio cumprir determinava que todo maldito deveria ser pregado no madeiro. "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;" (Gálatas 3:13). O sangue dEle derramado também foi o cumprimento da lei. "E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão." (Hebreus 9:22).

Voltando a Mateus 23:23, vemos Jesus censurando os escribas e fariseus por tentarem se justificar diante de Deus pela prática do dízimo, mas não observando o principal da lei que era exercer a justiça, a misericórdia e a fé. Jesus ainda disse que eles deveriam primeiramente exercer estas últimas (justiça, misericórdia e fé) e não omitir aquelas (dízimo), pois eles eram judeus que estavam debaixo da lei e, como tais obrigados a cumpri-la. Notemos que Jesus estava falando com fariseus e a Sua igreja ainda não havia sido inaugurada, o que se deu após a sua morte e ressurreição já no tempo da graça (At 2:1-4). Infelizmente, aquilo que para Jesus é mais importante na lei continua não sendo praticado hoje, pois por causa desse costume, muitas ovelhas estão feridas e fora do redil sem ter quem as busque e as sare (Jo 10:12,13; Ez 34:4,5).

Por isso, nós, como igreja, o rebanho do sumo-pastor precisamos entender que o dízimo como lei deixou de existir na cruz, mas seus valores e princípios permaneceram, ou pelo menos deveriam permanecer em nós que somos hoje a IGREJA - o Israel espiritual de Deus. É notório que a igreja recém-inaugurada por Jesus não dava dízimos nos moldes da lei. Não encontramos registros dessa prática no Novo Testamento. Contudo vê-mo-la sim, cumprindo e observando sem legalismos os princípios pelos quais Deus o estabeleceu na lei, conforme lemos em Atos 2:44,45; 4:34: “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister” ... Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos”.

Devemos lembrar que Jesus falou que quando Ele vier para julgar os justos e os injustos, o Seu julgamento será justamente pelo principio acima estabelecido: “Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;   Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;  Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.  Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?  E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?  E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?  E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.  Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;  Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.  Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?  Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.  E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna” (Mateus 25:34-46).


Muitos que por conhecerem a Verdade, conforme ela está escrita, não dão dízimos por saberem que tal prática não é mais aceitável na Nova Aliança que Cristo estabeleceu por Seu sangue. Aqueles que por ignorância por um tempo praticaram e deixaram de fazê-lo após descobrirem que estavam errados perderam amigos e hoje são classificados de hereges, apóstatas e/ou seguidores do demônio, assim como Lutero o foi por ter rompido com o romanismo. Contudo, esses continuam a contribuir voluntariamente e com alegria (2Cor 9:7), segundo sentem no coração, pois assim a lei da liberdade em Cristo que nos resgatou da maldição da Lei nos ensina (Tg 1:25). Ainda assim, estes sofrem represálias e são impiedosamente julgados de ladrões e infiéis,  por aqueles que deveriam ser observadores da lei, mas que se colocaram como juízes neste particular e não usam de misericórdia (Tg 4:11)

“Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós (Mt 5:11,12).

Nós como igreja salva pelo sacrifício perfeito de Cristo que se entregou por nós, estamos libertos do jugo da lei, tais como: a circuncisão que foi um mandamento para Abraão e sua descendência antes da lei (Gn 17); o sábado que também foi um mandamento e, por conseguinte, livres de praticarmos o dízimo que também sendo uma obra da lei foi abolido por Jesus com as demais ordenanças (Col 2:14).

Aqueles que foram libertos por Cristo, não mais estão presos no jugo de uma regra de porcentagem fixa estabelecida por lei, como era na Antiga Aliança; mas pela graça, estão livres para contribuir com prontidão de vontade e com aquilo que podem (2Cor 8:12). E, essa contribuição pode ser igual ou até superior aos 10%. Vejam que Zaqueu ao aceitar a Jesus RESOLVEU voluntariamente dar metade de seus bens aos pobres e devolver quatro vezes mais o que havia tirado dos outros. Interessante é que Jesus não lhe pediu dízimos do que ele possuia e nem o forçou a fazer o que fez, mas o amor que nasceu no coração de Zaqueu por Jesus e seu reino o motivou a tomar aquela decisão que resultou na sua salvação (Lc 19:8). Ao jovem rico que queria saber como herdar a vida eterna, Jesus pediu que este vendesse seus bens e os distribuísse com os pobres e depois o seguisse para que este pudesse ter um tesouro no céu (Lc 18:22), mas também não pediu dízimos dele e nem impôs essa prática como condição para ele herdar a vida eterna. Infelizmente ele não quis, pois foi difícil aceitar o que Jesus lhe pediu.

É certo que não seremos julgados pelo fato de darmos ou retermos o que se classificaram de dízimo, mas pelo que fazemos ou deixamos de fazer para Jesus na pessoa do necessitado, pois o maior mandamento que Jesus deixou para observarmos é o amor e muitos já se esqueceram disso, como a igreja de Éfeso que abandonou a caridade que Jesus havia ordenado Sua igreja praticar (Apoc 2:4). Leiam com cuidado esta carta e vejam que apesar das obras e do trabalho que essa igreja exercia Jesus exorta que ela volte a essa primeira prática, pois certamente disto dependerá nossa salvação, pois é nesse critério que Ele mesmo vai fazer a separação no grande dia (Mt 25:35).

Eu decidi e estou lutando para estar à sua direita ainda que não esteja sendo fácil.

E você?  De que lado você quer está?

Pense nisso e Deus te abençoe como me tem abençoado!

Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará