Páginas

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Dízimo - Herança dos Levitas e um Direito dos Necessitados


INTRODUÇÃO

Quando comecei a defender a doutrina do dízimo conforme está revelado nas Escrituras, passei a sofrer retaliação e a rejeição daqueles que se diziam serem meus irmãos e amigos na fé. A instituição religiosa na qual fui obreiro por 25 anos não me aceitou mais em seu rol de membros e alguns pastores, obreiros e irmãos até me bloquearam nas redes sociais. Alguns deles me acusam de causar dissensão e divisão entre os crentes e até de querer destruir as igrejas por pregar contra o dizimo. Porém, eu oro a Deus para que eles, igual a mim, também alcancem a graça e o entendimento dessa doutrina conforme Deus a estabeleceu em Sua imutável Palavra. Por isso, tenho procurado diligentemente ensinar o que a bíblia fala sobre o dizimo e não a pregar contra ele como me acusam.

Qual seria sua reação diante de alguém que se apossou de uma herança que recebeu, ou de quem lhe privou de algo que lhe foi dado como um direito? Nesse artigo irei falar do dizimo como a herança dada aos levitas e um direito dos necessitados.

O DÍZIMO ERA SANTO PARA  DEUS E IMUTÁVEL.

Quando Deus orientou o seu povo quanto ao cuidado na observância de diversas leis, entre elas o dizimo, orientou que nada do que Ele ordenou pudesse ser aumentado ou diminuído, como diz: “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás” (Deuteronômio 12 : 32 ACF). No cumprimento dessa Lei, Jesus advertiu: "Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus."  (Mateus 5 : 19 ACF).
 
No último capítulo do livro de Levítico, encontramos a primeira menção de dízimo na Lei. Nele vemos Deus requerer para si os dízimos de tudo o que a terra de Canaã produzia e dos rebanhos dos animais (Levitico 27 : 30 – 33). De fato, tudo pertence a Deus como o salmista disse: “Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Salmo 24 : 1 ACF). Porém, o dizimo era apenas a décima parte de toda produção anual da terra, bem como a décima cabeça do gado, quando este passasse debaixo da vara do pastor, não podendo ser substituído ou resgatado (Levítico 27 : 32). Apenas o dizimo da produção anual do campo poderia ser resgatado, caso o dizimista precisasse dele, sendo que ao entrega-lo deveria acrescer a quinta parte sobre ele (Levítico 27 : 31). E esse dízimo que era santo (consagrado/separado) para Deus, Ele os deu primeiramente como herança aos levitas, como veremos a seguir.

O DÍZIMO, HERANÇA DOS LEVITAS.

Os levitas eram assim chamados por serem descendentes de Levi, o terceiro filho de Jacó com Lia (Gênesis 29 : 34). Levi gerou três filhos, a saber: Gerson, Coate e Merari, formando assim a tribo de Levi (Gênesis 46 : 11). No deserto, após saírem do Egito e a caminho da terra prometida Deus escolheu essa tribo para exercer o ofício sacerdotal em Israel. Esta escolha se deu quando os levitas se puseram ao lado de Moisés para extirpar de Israel aqueles que adoraram o bezerro de ouro, realizando assim um ato de expiação e aplacando a ira de Deus sobre Israel (Êxodo 32 : 26 – 28). Doravante, eles exerceriam o sacerdócio em Israel e dedicar-se-iam exclusivamente aos serviços sagrados no tabernáculo e mais tarde no templo. Somente eles poderiam armar e desarmar o tabernáculo e guardá-lo a fim de que ninguém que não fosse da tribo de Levi pudesse entrar nele e morrer (Números 1 : 53). Eles realizariam o serviço de sacrificar animais em oferta pela expiação dos pecados, cuidar dos utensílios, carregar a arca do concerto e tudo o mais que se relacionasse ao santuário (Números 1 : 50 , 51).

Quando Israel tomasse posse da terra de Canaã, os levitas não receberiam nenhuma herança nela, pois não poderiam sequer se afastar do santuário para lavrar a terra e assim ter o seu ganho. "Porém, à tribo de Levi, Moisés não deu herança; o SENHOR Deus de Israel é a sua herança, como já lhe tinha falado." (Josué 13 : 33 ACF). Então o Senhor que os escolheu os recompensa ordenando que as demais tribos que receberiam lotes de terra em Israel, levasse à tribo de Levi a décima parte (dízimo) de toda a produção anual, bem como o gado, conforme expliquei acima. O capítulo 18 de Números nos mostra com detalhes Deus outorgando aos levitas como herança todos os dízimos que a Ele era consagrado em Israel.

“E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério da tenda da congregação” (Números 18 ; 21 ACF).

Observe o leitor que não foi apenas uma parte dos dízimos, mas TODOS os dízimos em Israel. Deus os deu aos levitas por herança e em recompensa pelo trabalho que exerciam no santuário, o que convém dizer, era um trabalho muito árduo. Deus sendo o dono de tudo deu os dízimos como herança aos levitas e ninguém que não fosse da tribo de Levi poderia usurpar para si essa bênção. Nem mesmo os sacerdotes, que apesar de serem da tribo de Levi poderiam requerer para si esse direito. É comum ouvirmos ensinos defendendo que os dízimos eram dos sacerdotes, como maneira de justificar os atuais pastores cobrarem dízimos dos crentes. Mas isso é mais uma mentira condenável, pois os mentirosos não herdarão o reino dos céus, sendo que a bíblia diz que a parte dos mentirosos será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.  (Apocalipse 21 : 8).

O QUE DEUS DEU AOS SACERDOTES.

Arão foi escolhido para ser o sumo sacerdote e seus filhos sacerdotes com ele (Êxodo 28 : 1). Todos eram da tibo de Levi, mas não tinham o direito de receber dízimos do povo. Na tribo de Levi somente os descendentes diretos de Arão poderia exercer o sacerdócio e eles seriam auxiliados no seu oficio sacerdotal pelos demais levitas como está escrito: “E eu, eis que tenho tomado vossos irmãos, os levitas, do meio dos filhos de Israel; são dados a vós em dádiva pelo SENHOR, para que sirvam ao ministério da tenda da congregação. Mas tu e teus filhos contigo cumprireis o vosso sacerdócio no tocante a tudo o que é do altar, e a tudo o que está dentro do véu, nisso servireis; eu vos tenho dado o vosso sacerdócio em dádiva ministerial e o estranho que se chegar morrerá.” (Números 18 : 6 , 7 ACF).

Dos sacerdotes eram as ofertas alçadas, as ofertas movidas, as primícias e todas as coisas consagradas, inclusive as ofertas em dinheiro, conforme a Lei ordenava (Números 18 : 8 – 19). Mas todos os dízimos eram dos levitas como herança. E dos dízimos dados aos levitas, os sacerdotes receberiam apenas a décima parte deles, na forma de uma oferta alçada chamada de dízimo dos dízimos, como está escrito: “Também falarás aos levitas, e dir-lhes-ás: Quando receberdes os dízimos dos filhos de Israel, que eu deles vos tenho dado por vossa herança, deles oferecereis uma oferta alçada ao SENHOR, os dízimos dos dízimos. E contar-se-vos-á a vossa oferta alçada, como grão da eira, e como plenitude do lagar. Assim também oferecereis ao SENHOR uma oferta alçada de todos os vossos dízimos, que receberdes dos filhos de Israel, e deles dareis a oferta alçada do SENHOR a Arão, o sacerdote” (Números 18 : 26 – 28). Convém salientar que os sacerdotes os receberiam das mãos dos levitas e não do povo.

USURPAR A HERANÇA DOS LEVITAS ERA ROUBAR A DEUS.

Quando entendemos que os dízimos sendo de Deus, mas que Ele os deu aos levitas como herança, então, passamos a compreender o primeiro motivo pelo qual Deus se sentiu roubado no tempo de Malaquias (o segundo motivo explicarei mais a frente).
 "Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas." (Malaquias 3 : 8 ACF).
Pode Deus, um ser sublime, santo, onipotente, onipresente, onisciente, conhecedor do passado, presente e futuro e que habita na luz inacessível ser roubado por um simples mortal? Sim, e com a seguinte condição: Deus é roubado quando seus filhos são roubados e privados de seus direitos. Em relação a esse roubo encontramos a resposta no livro de Neemias que foi contemporâneo de Malaquias. Neemias cita o sumo sacerdote Eliasibe que presidia a câmara da casa de Deus que era a casa do tesouro. Ele como sumo sacerdote e líder espiritual deveria ensinar a Lei ao povo, mas foi o primeiro a violá-la quando se aparentou com Tobias, o amonita. (Neemias 13 : 5).  Seu péssimo exemplo de liderança foi seguido pelo filho, também sacerdote. Este, igual ao pai foi infiel aos votos matrimoniais e trocou sua esposa pela filha de Sambalate o horonita e companheiro de Tobias (Neemias 13 : 28). Assim, o povo veio a imitar os passos de seus líderes. Veja que Malaquias denuncia essa infidelidade em seu livro, dizendo: “Judá tem sido desleal, e abominação se cometeu em Israel e em Jerusalém; porque Judá profanou o santuário do SENHOR, o qual ele ama, e se casou com a filha de deus estranho”. (Malaquias 2 : 11 ACF). Esse foi apenas um dos males que fez Judá mergulhar na apostasia.

E, como um abismo chama outro abismo (Salmo 42 : 7),  o sumo sacerdote Eliasibe foi mais além pondo Tobias para morar dentro da casa do tesouro (Neemias 13 : 7). Assim, os dízimos e as ofertas que eram mantimentos na casa de Deus e destinado aos levitas e aos que faziam a obra tiveram um destino diferente. Por não receberem a herança que Deus os havia dado que eram os dízimos, os levitas foram forçados a abandonar o templo e os serviços dos cultos a fim de procurarem sustentos em outros lugares (Neemias 13 : 10).

Tal ação irresponsável por parte de um sumo sacerdote fez com que o povo deixasse de levar à casa do tesouro suas bênçãos como a Lei ordenava. Por intermédio de Malaquias o Senhor censura os sacerdotes com está escrito: “Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei; corrompestes a aliança de Levi, diz o SENHOR dos Exércitos” (Malaquias 2 : 8 ACF). Porém, Neemias restaurou a ordem em Judá trazendo de volta os levitas e ordenando o povo a voltar a trazer seus dízimos (Neemias 13 : 11). Neemias destituiu Eliasibe do sacerdócio e pôs a Selemias em seu lugar e com ele três levitas auxiliando-o porquê foram achados fiéis, a fim de distribuírem os dízimos entre os irmãos (Neemias 13 : 13). Esse foi o primeiro motivo de Deus se sentir roubado nos dízimos.

DÍZIMO, UM DIREITO DOS NECESSITADOS.

Vimos que a principio Deus destinou todos os dízimos aos levitas como herança por causa do serviço que executavam no santuário (Números 18 : 21 – 26). Mas, quando os hebreus tomaram posse da terra prometida, Deus estendeu o benefício do dizimo aos necessitados como órfãos, viúvas e até estrangeiros. Em Deuteronômio 14 : 28 , 29 se diz:

“28 Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas;
29  Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos fizerem”.

Os dízimos em Israel eram entregues uma vez ao ano aos levitas. E essa entrega não era em qualquer lugar, mas no lugar que Deus escolheu para esse fim que foi Jerusalém (Deuteronômio 12 : 5 – 14). Porém, na sua justiça e no cuidado que tem para com os necessitados, o Senhor ordenou em Sua Palavra que de três em três anos os dízimos deveriam ser recolhidos na própria casa do dizimista. No tempo da entrega, o dizimista deveria levar à sua própria casa o levita, o órfão, a viúva e o estrangeiro que habitavam em sua cidade. Apesar de Deus estender essa bênção aos necessitados, contudo o levita não deveria ficar de fora, pois, como vimos, os dízimos eram sua herança, e Deus havia ordenado a Israel o seguinte: "Guarda-te, que não desampares ao levita todos os teus dias na terra." (Deuteronômio 12 : 19 ACF). Ali na casa e na mesa do dizimista eram postos os dízimos e todos deveriam comer até fartarem-se. Em Deuteronômio 26, o Senhor ordena o dizimista fazer uma oração confessando que fez tudo conforme o Senhor ordenou fazer em relação ao levita e ao necessitado, pois somente assim a bênção de Deus viria sobre seus negócios (Deuteronômio 26 : 12 – 19).

No cuidado para com os necessitados o Senhor estabeleceu em Lei o direito inerente a eles: "E, quando fizerdes a colheita da vossa terra, não acabarás de segar os cantos do teu campo, nem colherás as espigas caídas da tua sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixarás. Eu sou o SENHOR vosso Deus." (Levítico 23 : 22 ACF). Pela Lei, Deus fez o povo jurar compromisso com os necessitados, dizendo: "Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva. E todo o povo dirá: Amém." (Deuteronômio 27 : 19 ACF). Aqui vemos o segundo motivo pelo qual Deus se sentiu roubado em relação aos dízimos. No capítulo 3 de Malaquias e verso 5, Deus declara aos sacerdotes que o roubavam dizendo: “E chegar-me-ei a vós para juízo; e serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que juram falsamente, contra os que defraudam o diarista em seu salário, e a viúva, e o órfão, e que pervertem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o SENHOR dos Exércitos”.

Sendo os dízimos um direito dos necessitados estabelecidos em Lei, privá-los desse direito era roubar a Deus e isso ocasionaria em atrair maldição contra si, pois Deus fez o povo jurar dizendo o amém, isto é, os hebreus estavam conscientes que se pervertessem o direito dos necessitados a maldição cairia sobre eles, como Deus determinou na Lei (Deuteronômio 27 : 19). E como de fato os necessitados também foram privados desse direito, Deus falou por Malaquias aos que o roubavam dizendo: "Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação." (Malaquias 3 : 9). E qual foi a maldição senão a retenção das chuvas nos céus e a praga dos gafanhotos nas lavouras dos hebreus? Gafanhotos esses que a teologia da prosperidade transformou em demônios com o fim de extorquir o incauto e sendo mais uma diabólica mentira ensinada em muitas igrejas e que levará a quem ensina à perdição.

CONCLUSÃO

Como vimos, o dízimo era uma herança dos levitas e um direito dos necessitados. A princípio, os dízimos foram dados como herança aos levitas e fora deles, ninguém tinha o direito de receber ou cobrar os dízimos do povo. Mas os levitas encerraram o seu ministério com a queda do templo judeu no ano 70 dC. Somente nele os dízimos deveriam ser levados, pois Deus não os recebia em outro lugar. Se alguém cobra e recebe dízimos do povo não sendo levita (da tribo de Levi) está roubando a Deus, pois Ele não delegou esta herança a terceiros, muito menos aos gentios. Principalmente se cobram em dinheiro, uma vez que dizimo na bíblia era MANTIMENTO e Deus não mudou isso.

Quanto aos pobres, Jesus disse que eles estarão sempre conosco (João 12 : 8). A igreja primitiva não cobrava dízimos, sabendo que Jesus na cruz cumpriu toda a Lei e pagou toda a nossa dívida (Mateus 5 : 17 ; Colossenses 2 ; 14). Mas usava as contribuições dos que tinham para abençoar os que nada tinham (Atos 4 : 34). E muito embora esse princípio de ajuda aos necessitados tenha sido largamente difundido no novo testamento por Jesus e pelos apóstolos, sabemos que na atualidade estes não vislumbram desse direito. E pior, eles ainda são coagidos por ameaça de maldição e exclusão das instituições se não entregarem 10% de suas rendas aos líderes dessas instituições como se fossem dízimos a Deus.

Oro a Deus para que Ele abra o entendimento de muitos de seus filhos quanto a Sua verdade sobre o que era o dizimo revelado em Sua santa Palavra, antes que seja tarde demais.

"Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?" (Gálatas 4 : 16).

Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará


Fonte: Bíblia Sagrada Almeida Corrigida Fiel ao texto original (ACF)

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Quem é o ladrão que veio para roubar, matar e destruir?

“O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10 : 10).

INTRODUÇÃO

No capítulo 10 do evangelho de João encontramos uma linda narrativa de Jesus a respeito do ministério pastoral, mostrando o cuidado do pastor para com as ovelhas. Infelizmente, a grande maioria dos pregadores e ensinadores quando se relacionam a essa passagem fogem da verdadeira lição que Jesus deixou nesta passagem. Como exemplo, temos o verso 10 deste capítulo que é o preferido de muitos que o usam para enaltecer a pessoa e a missão de Jesus em relação a figura do ladrão que veio para roubar, matar e destruir, qual afirmam ser o diabo. Seria o diabo esse ladrão como muitos pregam? Para sabermos quem de fato é, se faz necessários analisar o texto a partir do primeiro verso do capítulo 10.

Do verso 1 ao 6 Jesus conta aos ouvintes uma parábola falando sobre o ladrão e salteador, o curral das ovelhas, a porta, o porteiro e aquele que entra no curral pela porta. A parábola não foi entendida pelos ouvintes da época, assim como também ainda não é compreendida por muitos crentes. Neste artigo, vamos estudar detalhadamente esse ensino, da forma como Jesus desejou nos passar e assim vamos saber quem era ou quem é o ladrão.

O CURRAL DAS OVELHAS: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador” (João 10 : 1).

O que viria a ser o curral das ovelhas? Podemos interpretar que quando Jesus falou sobre o curral estava falando de Israel com sua religião e suas leis dadas por Moisés. É interessante entender que as ovelhas em primeiro plano eram os judeus e não a igreja. Jesus vai falar sobre a igreja somente no verso 16, conforme explicarei depois. Sabemos que Jesus veio primeiramente para os judeus. Em João 1. 11 está dito que Jesus veio para o que era seu (judeus), e os seus não o receberam. Quando enviou pela primeira vez seus discípulos em missão de pregar as boas novas do reino, ordenou: "Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel;" (Mateus 10 : 6). E Ele mesmo testificou dessa missão: "E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel." (Mateus 15 : 24). Por aí vemos que as ovelhas que estavam no curral (Israel) eram os judeus.

Mas também Jesus deixa claro que havia aqueles que entravam no curral sem passar pela porta, aos quais Ele chama de ladrões e salteadores. Mas adiante quando Jesus passa a explicar a parábola Ele explica: “Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas” (Verso 7). Em seguida, mais uma vez Ele enfatiza que os ladrões e salteadores foram os que vieram antes Dele. “Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram” (verso 8). Sendo Jesus a porta, no período veterotestamentário, esta porta era a Palavra revelada pelos profetas (Hebreus 1 : 1). Palavra que na plenitude dos tempos se fez carne e habitou entre os homens (João 1 : 14).

Mas quem eram estes ladrões e salteadores? Jesus foi claro afirmando que eles haviam vindo antes dEle. Quando estudamos cuidadosamente as Escrituras, vamos entender que Ele estava se referindo aos pastores de Israel no antigo concerto. Pastores que não obedeceram a Palavra, isto é não entraram no curral pela porta, mas usavam de seus privilégios para extorquirem e se aproveitarem das ovelhas, como vaticinou o profeta Ezequiel: “Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do SENHOR: Assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu estou contra os pastores; das suas mãos demandarei as minhas ovelhas, e eles deixarão de apascentar as ovelhas; os pastores não se apascentarão mais a si mesmos; e livrarei as minhas ovelhas da sua boca, e não lhes servirão mais de pasto”. (Ezequiel 34 : 9 , 10). Os textos não deixam dúvidas de que esses ladrões e salteadores eram os maus pastores que por ganancia e avareza faziam o povo errar, dispersando as ovelhas, como profetizou também Jeremias: "Ovelhas perdidas têm sido o meu povo, os seus pastores as fizeram errar, para os montes as desviaram; de monte para outeiro andaram, esqueceram-se do lugar do seu repouso." (Jeremias 50 : 6).

A PORTA E O PORTEIRO: “Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora” (João 10 : 2 , 3).

Sabemos que a porta do curral das ovelhas é o próprio Jesus. Mas Ele não é somente a porta, como também o pastor, afinal, Ele é o verbo vivo de Deus, a Palavra encarnada. Sobre Ele como fiel pastor, os profetas também falaram: “E suscitarei sobre elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor” (Ezequiel 34 : 23). Mas o pastor só entra no curral das ovelhas porque o porteiro lhe abre a porta. Quem seria este porteiro? Foi a Lei! A Lei guardou as ovelhas até a chegada daquele que seria o autor e o consumador da fé (Hebreus 12 : 2). Paulo, um judeu conhecedor da Lei nos explica sobre isso: "Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” (Gálatas 3 : 23). Sim, a Lei exerceu a sua função disciplinadora, guardando e protegendo as ovelhas até a vinda do sumo pastor que chamaria suas ovelhas pelo nome, pois Ele conhece Suas ovelhas. As que ouvem a sua voz saem do curral e são conduzidas para os montes, onde o pastor as apascentará e dará a elas bons pastos. "Em bons pastos as apascentarei, e nos altos montes de Israel será o seu aprisco; ali se deitarão num bom redil, e pastarão em pastos gordos nos montes de Israel."  (Ezequiel 34 : 14). É bem certo que essa profecia só ocorrerá no milênio, quando o restante dos judeus reconhecerem a Jesus como o verdadeiro pastor.

“E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (João 10 : 4). É interessante observar que o sumo-pastor veio para tirar as suas ovelhas para fora do curral e não para metê-las para dentro. Qual o motivo? Dentro do curral que também pode ser subentendido como a religião, não existe alimento sadio para as ovelhas. Por isso Ele as tira para fora e vai adiante delas conduzindo-as a bons pastos e segurança. Além do mais, dentro do curral as ovelhas ficam a mercê do ladrão e dos lobos, que estão infiltrados no meio das ovelhas (Mateus 7 : 15). A religião agia assim no tempo em que Cristo veio ao mundo. Observe que na parábola das cem ovelhas há o mesmo principio, onde o pastor deixa as noventa e nove seguras no deserto para ir a busca da que se perdeu: "Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la?"  (Lucas 15 : 4). Porque não no curral? Em contraste com a religião que aprisionava e aprisiona as pessoas, Jesus disse que edificaria Sua igreja (Mateus 16 : 18). E Igreja do grego “Ecklesia” quer dizer “tirados para fora”.

“Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos” (João 10 : 5). Certamente aqui Jesus estava se referindo aos falsos Cristos e falsos profetas que nos dias anteriores à sua vinda surgiriam e enganaria a muitos (Mateus 24 : 24). Mas as ovelhas de Jesus conhecem a sua voz e não se deixam enganar. Infelizmente nos dias atuais os estranhos tem agido de forma inversa a de Jesus. Eles têm levado de volta as ovelhas para os currais da religião e gozado da atenção e companhia destas, enquanto que Jesus está sendo deixado do lado de fora (Apocalipse 3 : 20).

“O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10 : 10). Como sabemos, o ladrão é aquele que se apropria dos bens alheios. O ladrão também é aquele que age na surdina e sem que sua ação seja percebida. E, como foi explicado, o ladrão dentro do contexto da parábola é o falso ou mau pastor. Então, não é o diabo como muito se prega nas igrejas. Há pregadores que chegam até mesmo a mudar o título “ladrão” por “diabo” em suas pregações, mudando totalmente o sentido do texto. Todo pastor que distorce a Palavra é o que não entra pela porta que é Jesus (a palavra fiel). E quando ele modifica o que está escrito, acaba por furtar (roubar) as palavras de Deus: "Portanto, eis que eu sou contra os profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu próximo." (Jeremias 23 : 30). Fazendo assim acabam por matar e destruir as ovelhas de Jesus, como os pastores citados em Ezequiel 34.

Nos versos 12 e 13, Jesus deixa bem claro que o ladrão é o mercenário, isto é, o falso pastor de quem não são as ovelhas. Este é o que se aproxima das ovelhas travestido de pastor por interesse no dinheiro ou nos bens que as ovelhas podem lhe proporcionar. É aqueles que come a gordura, se veste da lã, mata o cevado, mas não apascenta as ovelhas do Senhor (Ezequiel 34 : 3). Ele não fortalece as fracas, não cura as doentes, não liga a quebrada, não traz a desgarrada e nem busca a que se perdeu. Pelo contrário, age como um nicolaíta dominando sobre o rebanho que não lhe pertence (Ezequiel 34 : 5). Por essa razão que Jesus foi enfático quando disse que o ladrão veio para a roubar, a matar, e a destruir. O ladrão se apropria de algo que não lhe pertence: “Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas,..” (João 10 : 12a). Mas Jesus veio para que as Suas ovelhas tenham vida, e a tenham com abundância.
O BOM PASTOR: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (João 10 : 11). Em contraste com o ladrão que é o mau pastor, que é o ladrão que rouba, mata e destrói; Jesus é o bom pastor que dá Sua vida pelas ovelhas. Ao morrer na cruz, Jesus se deu pelos judeus que eram as ovelhas perdidas da casa de Israel e também pelos gentios, aqueles que haveriam de aceita-lo pela fé.

“Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” (João 10 : 16). As outras ovelhas somos nós gentios que hoje formamos a Sua Igreja. Os gentios não faziam parte do aprisco (Israel), mas aprouve a Deus nos tornar seus filhos, pela fé que temos em Seu filho Jesus. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome” (João 10 : 12). Em Cristo Judeus e gentios foram unidos formando um só corpo – a Igreja (João 11 : 52 ; Efésios 2 : 15).

CONCLUSÃO

Como vimos, Jesus falou que o ladrão e salteador foram aqueles que vieram antes dEle, que eram os pastores de Israel que dispersaram as ovelhas do Senhor. Vimos também que Jesus deixou claro que o ladrão que veio para roubar, matar e destruir não é o diabo como se acredita, mas o mercenário que não é pastor. Em contraste com o ladrão Jesus se apresentou como o bom pastor que dá a vida pelas ovelhas; com sua morte expiatória Ele agregou outras ovelhas que a princípio não faziam parte do aprisco, qual é a Sua igreja.

A igreja de Jesus são as suas ovelhas que Ele as tirou para fora do curral da religião. Jesus veio para livrar Suas ovelhas do poder do ladrão. Mas, estaria ainda o ladrão, ou ladrões e salteadores agindo na igreja roubando e matando as ovelhas do Senhor?

Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará.