Páginas

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Pastor – Dom Divino ou Cargo Episcopal


INTRODUÇÃO

“Procura conhecer o estado das tuas ovelhas; põe o teu coração sobre os teus rebanhos” (Provérbios 27.23).

Este é o primeiro artigo que escrevo neste ano de 2018, e nele irei falar sobre o dom ministerial de pastor, dado por Cristo à Igreja (Efésios 4.11). Não é meu objetivo contestar, me opor ou ofender quem exerce o cargo de pastor, até porque, tenho muitos amigos que exercem cargos de pastores em algumas igrejas e tenho por eles muita consideração e respeito. Um amigo me disse que para alguém exercer o cargo de pastor, primeiro precisa receber esse dom, o que concordo plenamente. E uma das razões pela qual escrevo este artigo, é porque não sou mais membro de nenhuma denominação religiosa, por motivos que não citarei aqui, mas que já esclareci em artigos anteriores. E por isso, tenho recebido criticas e até ofensas pessoais de alguns que me conheceram na igreja e, por não saberem o que aconteceu comigo, me consideram “desviado”, “desigrejado”, e entre outras, “rebelde e ovelha sem pastor”, por não estar submisso a nenhuma “autoridade espiritual”, como dizem. Por isso, achei conveniente elaborar um pequeno estudo sobre o dom divino pastoral e quem é apto a exercer esta dádiva.

O QUE É UM PASTOR?

A bíblia versão Almeida Corrigida Fiel (ACF) cita o termo pastor 95 vezes, sendo 75 no Antigo Testamento e apenas 20 no Novo Testamento. A primeira informação que a bíblia nos dá sobre os pastores é que estes eram nômades que viviam peregrinando na terra em busca de pastos para o rebanho. Habitavam em tendas e não tinham moradia fixa. Abraão, o patriarca que deu origem ao povo hebreu era nômade nas terras de Arã (Deuteronômio 26.5). Nos tempos bíblicos havia muito perigo para o rebanho por causa das feras que habitavam no campo como hienas, leões, chacais e ursos, além de ladrões que ficavam em derredor. Por isso, o rebanho precisava de proteção constante, o que exigia a presença do pastor dia e noite no meio do rebanho. A ovelha tinha um valor inestimável para o pastor, por isso, quando uma ovelha era atacada, o pastor não media esforço para salvá-la, mesmo com o perigo da própria vida. O profeta Amós chega a usar este exemplo de bravura de um pastor, para ilustrar o cuidado de Deus para com o seu povo Israel. “Assim diz o SENHOR: Como o pastor livra da boca do leão as duas pernas, ou um pedaço da orelha, assim serão livrados os filhos de Israel que habitam em Samaria, no canto da cama, e em Damasco, num leito” (Amós 3.12). Por isso, nosso Mestre se identificou como sendo o bom pastor que deu a vida pelas Suas ovelhas. "Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas." (João 10.11).

AS FERRAMENTAS DO PASTOR

Era dever de o pastor guiar as ovelhas a lugares onde havia pastos verdes em abundância e águas cristalinas (Salmo 23.1,2). Geralmente ele possuía uma vara, uma funda e um cajado. A vara é citada no Salmo 23.4, e servia como uma espécie de arma de defesa. A vara, também conhecida como um bastão era instrumento para atacar e ferir ou até matar a fera que viesse atacar uma ovelha. A funda, feita de duas tiras de couro que lançava pedras, também era usada para afugentar animais a distancia, ou mesmo para fazer voltar uma ovelha que estivesse saindo do bando. A pedra era lançada pela funda a frente da ovelha para assustá-la e fazê-la voltar ao bando. E o cajado era uma vara com mais ou menos dois metros de comprimento e uma curvatura na extremidade em forma de gancho. Servia para o pastor se apoiar no terreno pedregoso e quando subisse os montes, bem como para guiar as ovelhas e facilitar a contagem quando estas entravam no aprisco. Eis o que diz Ezequiel se referindo a tempos futuros: “Também vos farei passar debaixo da vara, e vos farei entrar no vínculo da aliança” (Ezequiel 20.37).

O SUSTENTO DO PASTOR.

Era direito de o pastor usufruir do melhor que a ovelha tinha para fornecer como carne, gordura e leite para sua alimentação e lã e pele para as suas vestimentas; conquanto, ele provesse o sustento diário, com ração, bons pastos, aguas límpidas, zelo e proteção das ovelhas. Por isso, quando uma se perdia do rebanho, ele deixava as demais em um lugar seguro, livre dos predadores que era no deserto e ia à busca da que se perdeu, não importando os obstáculos que pudesse enfrentar. "Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la?" (Lucas 15.4). E ao encontra-la, se tivesse cansada ou doente, ele a punha sobre os ombros e a carregava a distancia que fosse preciso até chegar a sua casa para cuidar dela. “E achando-a, a põe sobre os seus ombros, gostoso” (Lucas 15.5).

Assim, a maioria das vezes que a bíblia se refere a Pastor, a faz se referindo a profissão que alguns exerciam de cuidar de rebanho de ovelhas, como Abel que é citado como primeiro pastor na bíblia (Gênesis 4.2); e o grande monarca Davi que foi chamado de detrás das ovelhas para dirigir a nação de Israel (2Samuel 7.8).

OS PASTORES (GUIAS) DE ISRAEL

Os pastores de Israel como povo de Deus eram os reis ungidos pelos sacerdotes e pelos profetas (1Samuel 16.12 ; 1Reis 19.15). Aos reis Deus deu a unção (autoridade) para governar, guiar e cuidar de seu povo escolhido. Não era desejo de Deus de que Israel tivesse sobre sí reis, pois Ele mesmo é quem reinava sobre o seu povo (1Samuel 8.7). No entanto, o povo de Israel invejou o sistema de governo das nações pagãs e desejou ser guiada por um monarca humano e Deus assim o permitiu (1Samuel 8.22). O primeiro rei – Saul – escolhido por vontade do povo não atendeu os conselhos do Soberano Deus e então, Ele escolhe um rei segundo o desejo de seu coração para substituí-lo no trono e guiar seu povo. Este foi Daví, o filho de Jessé, da tribo de Judá. Quem era Daví, senão um pastor de ovelhas que vivia nos campos cuidando do rebanho de seu pai. O cuidado que Daví tinha pelas ovelhas foi o motivo principal de ele ser escolhido por Deus para governar Israel: “Então disse Davi a Saul: Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai; e quando vinha um leão e um urso, e tomava uma ovelha do rebanho,  Eu saía após ele e o feria, e livrava-a da sua boca; e, quando ele se levantava contra mim, lançava-lhe mão da barba, e o feria e o matava”. (1Samuel 17.34,35). Daví não era um mercenário, mas ele amava tanto as ovelhas que não lhe pertenciam, a ponto de enfrentar as feras para defende-las com o perigo da própria vida. “Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas” (João 10.12).

Desse modo, aqueles que doravante passaram a dirigir o rebanho de Deus passaram a serem chamados de pastores. Para essa nobre tarefa, os reis (pastores) contavam com os conselhos dos profetas e com a instrução dada pelos sacerdotes. Quando um rei não cuidava do povo seguindo o conselho Divino e passava a se aproveitar do rebanho e a maltratar e a dispersar as ovelhas, Deus levantava profetas para os adverti de suas más ações, como Elias, Ezequiel, Jeremias, João Batista e muitos outros. Profetas esses que geralmente eram hostilizados, perseguidos, presos e até mortos.

Depois da morte de Salomão, Israel se dividiu em dois reinos (Norte e Sul), sendo os dois reinos guiados por diversos reis (pastores). Em ambos os reinos, com pouca exceção, os reis (pastores) se tornaram ímpios e não seguiram os desígnios divinos no devido cuidado para com o Seu povo. A esses reis (pastores) quando se tornavam ímpios (injustos), Deus os tratava como “bodes”, sujeitos ao castigo divino.  “Ora, é justamente contra os pastores que a minha ira se inflama; eis que Eu punirei os bodes, os líderes do povo...”. (Zacarias 10.3a KJA). E são esses os “bodes” (pastores injustos), que ficarão a esquerda do Senhor e não entrarão no reino, quando Ele vier na Sua glória e no seu reino (Mateus 25.31-46). Muitos bons reis (pastores) existiriam em Israel que levaram a nação a um quebrantamento e a um renovo espiritual como foi o caso de Josias que assumiu o reino de Judá com apenas oito anos (2Reis 22.1). Outros no entanto, não seguiram os propósitos divinos, agiram com injustiça contra o povo e foram destruídos, como foi o caso de Acabe, rei de Israel que, segundo as Escrituras, foi o pior de todos reis que vieram antes dele (1Reis 16.30).

Muito se tem ainda que falar e exemplos a citar de reis (pastores) que agiram com justiça e outros com injustiça. Mas o objetivo é falar a respeito do pastor no Novo Testamento e quem são eles.

O PASTOR NA IGREJA NO NOVO TESTAMENTO

Ser pastor de igreja nos dias atuais tem se tornado uma posição eclesiástica bastante concorrida. Em algumas denominações, para ser um pastor reconhecido e apto a presidir igrejas e realizar cerimônias religiosas como casamento, batismo e outros, é necessário que o candidato, entre outros, seja formado em teologia e seja afiliado a uma Convenção de Ministros Evangélicos, seguindo o mesmo principio da igreja romana que escolhe seus clérigos por meio de um conclave. Embora o ministério pastoral seja um dom, geralmente é escolhido alguém que seja filho de um pastor membro da organização, o que se caracteriza por cargo de carreira. Mas há casos em que a escolha é feita para atender interesses específicos das lideranças das instituições que os escolhem, ignorando as atribuições necessárias exigidas nas Escrituras para quem almeja o episcopado (1Timóteo 3.1-7). E esses que são escolhidos assim, quando recebem uma igreja para governar, não exercem um ministério com base na ética divina e passam a dominar sobre o rebanho agindo como verdadeiros ditadores sobre a Igreja de Deus. Por não possuírem o dom pastoral, passam a tratar as ovelhas como mero produto comercial, barganhando com elas, como profetizou Pedro: "E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita." (2 Pedro 2.3). Agem assim, pois os tais se vêem na obrigação de retribuir àqueles que os colocaram no devido cargo.

No entanto, nesse meio há pastores sérios, comprometidos com a Palavra e que exercem muito bem a chamada Divina e combatem pela fé que uma vez foi dada aos santos (Judas 1.3). E pra defender essa fé, às vezes é preciso ir contra o regime institucional. Assim, muitos sofrem retaliações de suas lideranças majoritárias e de seus companheiros de ministério, ao ponto de serem excluídos do órgão que os nomeou. Mas porque são homens a quem Deus deu o dom ministerial de guiar o Seu rebanho, estes exercerão suas chamadas e farão a obra de Deus, seja onde for e custe o que custar, como fez Paulo:  "Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus."  (Atos 20.24).

E outros, porém há que a si mesmos se fazem pastores, fundam uma pequena igreja e gostam de serem chamados pelo devido título - “pastor” (Mateus 23.6,7).

CRISTO, O BOM E SUMO PASTOR

Como citei no inicio deste artigo, o termo pastor aparece no Novo Testamento apenas vinte vezes. Dessas vinte, sete se referem a Cristo como o Pastor que é o sumo e o bom pastor. Na língua original em que o Novo Testamento foi escrito, o termo pastor é “poymen”, que significa: “Aquele que guia”. O termo se aplica a pessoa de Cristo que é o bom e o sumo pastor que veio para tirar Suas ovelhas do aprisco (religião) e para guiá-las a verdes pastos e às águas cristalinas (João 10.1-9 ; Salmo 23.1-3). Quando Cristo veio ao mundo, seu envio foi para resgatar as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mateus 15.24). Convém salientar que as ovelhas criam em Deus e aguardavam a vinda do Messias para redimi-los. Mas eram ovelhas que estavam presas no aprisco, sem liberdade, pois não tinham pastor para guiá-las. Isto porque, os pastores que foram dados a elas não cumpriram com fidelidade o seu papel de guias e ao invés de as apascentarem, as devoravam e as faziam desviar. Por meio de Jeremias, o Senhor diz isso: "Ovelhas perdidas têm sido o meu povo, os seus pastores as fizeram errar, para os montes as desviaram; de monte para outeiro andaram, esqueceram-se do lugar do seu repouso." (Jeremias 50.6).

Os pastores que Deus colocou sobre o seu rebanho se deixaram levar pela avareza e ganancia e então, passaram a apascentar a sí próprios, devorando as ovelhas que não lhes pertenciam. Por eles não cuidarem como deviam do rebanho, Deus mesmo se levanta contra esses pastores e promete resgatar Suas ovelhas e tirá-las de seus domínios. “Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do SENHOR: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que, porquanto as minhas ovelhas foram entregues à rapina, e as minhas ovelhas vieram a servir de pasto a todas as feras do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não procuraram as minhas ovelhas; e os pastores apascentaram a si mesmos, e não apascentaram as minhas ovelhas;  Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do SENHOR:  Assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu estou contra os pastores; das suas mãos demandarei as minhas ovelhas, e eles deixarão de apascentar as ovelhas; os pastores não se apascentarão mais a si mesmos; e livrarei as minhas ovelhas da sua boca, e não lhes servirão mais de pasto.  Porque assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu, eu mesmo, procurarei pelas minhas ovelhas, e as buscarei” (Ezequiel 34.7-11). Esta promessa se cumpriu quando Cristo veio e entrou no aprisco e tirou Suas ovelhas para fora as chamando pelos seus nomes, pois Ele conhece as Suas ovelhas e elas também o conhecem e o seguem: “Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz... Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” (João 10.2-4 ; 14).


Pelas Suas ovelhas Cristo deu a sua própria vida. Por elas morreu e ressuscitou. Ele voltou aos céus, mas prometeu que estaria todo o tempo com Suas ovelhas, como um pastor que ama o seu rebanho (Mateus 28.20). Por isso, depois de Sua ida aos céus, enviou o Consolador, o Espírito Santo que veio para convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo e guiar a Sua igreja no caminho da verdade e da justiça (João 16.8 – 13).

O PASTOR COMO DOM DIVINO

Quando o Espírito Santo veio, passou a habitar naqueles que creem e amam a Cristo (João 14.23). E, habitando nos crentes, passou a dotá-los com dons para serem usados nas diversas áreas que são necessárias a edificação do Corpo de Cristo. Para guiar a Igreja como rebanho de Deus, capacitou homens com dons ministeriais para o exercício episcopal.  Pastor no sentido episcopal só é citado três vezes no Novo Testamento. Mas não como um cargo ou função, mas como um DOM, conforme encontramos na carta de Paulo aos Efésios. "Mas a graça foi DADA a cada um de nós segundo a medida do DOM de Cristo. Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, E DEU DONS aos homens... E ele mesmo DEU uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores," (Efésios 4.7,8 e 11). Se pastor fosse um cargo eclesiástico e seguisse uma linha de hierarquia organizada como a igreja romana criou e foi seguida pelos evangélicos, ele ocuparia o penúltimo lugar de importância atrás do evangelista, do profeta e do apóstolo que seria o primeiro da lista. No entanto, nenhum desses mencionados são cargos ou títulos, mas, como já foi dito, são DONS. Dons que devem ser usados na igreja para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério e da edificação do corpo de Cristo (Efésios 4.12). Os dons são dados pela graça de Cristo e de acordo com a capacidade que cada um tem de administrá-los (Efésios 4.7). Cristo dá dons aos homens, não para que o que recebe se exalte e se coloque acima dos demais. Os dons são dados para que sejam administrados em favor do bem comum de toda a igreja, como ensina Pedro. “Cada um administre aos outros o DOM como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém” (1Pedro 4.10,11).

Aquele que recebe o DOM segundo a graça divina de pastorear é também chamado de “mordomo” ou “despenseiro”. Como mordomo ou despenseiro, sua responsabilidade é cuidar bem do rebanho que não lhe pertence e alimentá-lo com a ração diária, que é a Palavra de Deus pura e sem mistura. "E disse o SENHOR: Qual é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração?" (Lucas 12.42); "Que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus." (1Coríntios 4.1).

Não quero com esse artigo desmerecer quem hoje tem um cargo de pastor e lidera um rebanho. No entanto, procurei enfatizar que acima de tudo pastor é um DOM DIVINO. E conheço alguns que realmente tem esse dom. Mas, é necessário entender que o dom não procede da escolha humana e nem segue uma linha sucessória como foram os sacerdotes descendentes de Arão no antigo concerto, cujo ministério era passado de pai para filho.  O dom é dado por Deus e Ele dá a quem quer segundo a sua soberana vontade e para aquilo que for útil (1Corintios 12.7). Mas infelizmente, alguns se tornam vaidosos e exigem serem reconhecidos publicamente pelos títulos eclesiásticos, dentro e fora de suas igrejas. Esquecem-se do ensino de Jesus em Mateus 23.8, que diz: Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos”. Mas não fica só nisso. Alguns outros querem dominar sobre o rebanho, esquecendo que as ovelhas têm um dono e por isso exigem que as ovelhas os sustentem com tudo o que há de melhor nessa terra, pois que se julgam os “ungidos” de Deus ou os “anjos das igrejas”. E, se as ovelhas não atendem suas necessidades, chegam a chamá-las de “bodes”, “ovelhas negras” e ameaçam-nas de disciplina e até exclusão. Para justificar sua pretensa autoridade, se valem de textos isolados como está em Hebreus 13.7 e 17, conforme veremos a seguir.

QUEM ERAM OS PASTORES DE HEBREUS 13?

Muito embora o mesmo conselho possa ser seguido pela igreja atual em relação aos que presidem sobre o rebanho, se faz necessário entender quem eram os pastores citados pelo escrito aos hebreus, bem como quem eram os hebreus.

Os hebreus eram crentes judeus que pela fé na pessoa de Cristo passaram a ser perseguidos por outros judeus, como foram os apóstolos Pedro, Thiago, Paulo, Silas e muitos outros. Os hebreus que criam em Jesus viviam fugindo por causa da perseguição dos próprios irmãos, mas não abandonavam sua fé. Foram crentes que perderam a liberdade em sua nação por causa do Nome de Jesus e que, para cultuar e adorar a Deus se reuniam nos mais inóspitos lugares, como cavernas e até catacumbas. Eram crentes que escolhiam seus próprios líderes, que eram anciãos (presbíteros), idôneos, de vida e caráter moral ilibados e por serem fiéis aos princípios divinos. Estes eram os pastores que lhes ensinavam as palavras de Cristo, conforme o dom que recebera dEle. Muitos desses líderes (presbíteros/pastores), quando aprisionados sofriam represálias dos próprios irmãos judeus e eram torturados até a morte como maneira de fazê-los negarem a Cristo e voltarem ao judaísmo. No entanto, esses homens permaneciam fiéis na sua fé a ponto de morrerem por ela. Por isso, o escritor aos Hebreus aconselha-os a lembrarem deles, das palavras de Deus que falaram e imitar a fé que tiveram enquanto vivos. "Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver." (Hebreus 13.7).

No entanto, no verso 17 do mesmo capítulo treze, o sacro escritor dá-lhes outro conselho, dizendo: "Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil." (Hebreus 13.17). Esse texto tem sido muito usado por alguns pastores mal intencionados, com o fim de exigirem submissão das ovelhas, no entanto, ele tem um significado que muitos desconhecem. Ao contrário dos pastores do verso 7 que não mais viviam, estes ainda viviam e estavam na liderança do rebanho. Quem eram eles?

JUDEUS E GENTIOS, UMA SÓ FÉ, MAS COSTUMES E LEIS DIFERENTES

Bem pouco é ensinado que a igreja no seu início era formada de dois povos distintos – Judeus e Gentios (Circuncisos e Incircuncisos). O povo judeu era comprometido com a Lei de Moisés nos seus ritos, cerimônias, preceitos, ordenanças e estatutos. Mesmo crendo em Cristo, os crentes judeus não se desobrigaram da Lei de Moisés que foi dado como um concerto a eles no monte Sinai perpetuamente (Deuteronômio 6.24). Por isso, costumeiramente eles iam ao templo fazer suas orações, além de observarem outros costumes como a observância do dia de sábado e a circuncisão. Eis o motivo que Paulo precisou circuncidar a Timóteo em plena Nova Aliança, pois Timóteo era um crente judeu (Atos 16.1-3).  Porém, os gentios (não-judeus) que aceitavam a fé no Senhor, não deveriam se por debaixo da lei e dos costumes dos judeus. Nem mesmo no templo eles eram aceitos, sob o risco de profanarem aquele lugar que era santo para os judeus (Atos 21.28). Para que isso não fosse um problema e que não houvesse confusão sobre quem deveria ou não deveria estar debaixo da Lei de Moisés, Deus constitui líderes distintos para ambos os povos que formavam a igreja – Judeus e Gentios.

Para cuidar da igreja formada por judeus comprometidos com a lei, Deus separou a Pedro, Tiago e João, consideradas como as colunas dessa igreja (Gálatas 2.9). A igreja romana defende que Pedro foi o primeiro Papa, enquanto evangélicos e protestantes alegam que ele foi o primeiro pastor da igreja, pelo fato de Cristo tê-lo escolhido pessoalmente, como está no evangelho de João 21.15-17. No entanto, nessa passagem o Senhor o designa a ser o pastor das Suas ovelhas de Israel (judeus) que Ele veio resgatar (Mateus 15.24). Os gentios, no entanto, só passariam a ser parte da igreja após a conversão de Paulo (Atos 9.15). Na carta aos Gálatas, Paulo explica detalhadamente essas escolhas, mostrando que assim como Deus operou eficazmente em Pedro para ser apóstolo dos judeus, chamados “circuncisos”; também operou nele para ser apóstolo dos gentios chamados “incircuncisos” (Gálatas 2.7-9). Assim, fica esclarecido que os pastores a quem os Hebreus deviam ser submissos eram Pedro, Tiago e João ou algum outro judeu ancião que presidisse sobre eles.

E quanto a nós gentios, pode se dizer que o primeiro pastor foi Paulo a quem ele se denominava apóstolo dos gentios (1Timóteo 2.7). No entanto, em nenhuma parte das Escrituras ele se denomina pastor, muito embora tenha sido ele o fundador das igrejas dos gentios por todos os lugares por onde passou pregando o Evangelho da graça. Paulo foi um homem que não explorou a igreja, pois trabalhou com as próprias mãos, para que assim servisse de exemplo para todos quantos viessem a receber o dom pastoral de cuidar da igreja: “Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós, Nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes. Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também” (2Tessalonicenses 3.7-10). É claro que isso não desobriga o cristão gentio de honrar, respeitar e até cuidar daquele a quem Deus pôs para guiá-los, conquanto o mesmo proceda de acordo com o que Deus estabeleceu. "E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam;"  (1Tessalonicenses 5.12). Ainda mais se o pastor é um homem ancião (presbítero) como era no inicio da igreja e não tem condições físicas de trabalhar para ter o seu sustento e é dedicado a ensinar a Palavra como Deus requer daquele que preside. “E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui” (Gálatas 6.6).

CONCLUSÃO

Àqueles que receberam dons para presidir o rebanho, Deus os trata como servos. Esses, não receberam apenas dons, mas também talentos. Talentos que eles precisam cuidar e fazer multiplicar para devolvê-los com juros quando o Senhor voltar e os requerer de suas mãos. Saliento que talentos não são dons e nem qualidades. Talentos são uma representação de valor e se referem as ovelhas de Cristo, que muito valor tem para o Senhor e que precisam ser tratadas com muito amor e zelo, pois elas lhes custaram um alto preço. O pastor servo que cuidar e multiplicar os talentos (ovelhas) será bem recompensado. Mas o que enterrar um talento, o menor que seja, será punido rigorosamente (Mateus 25.14-30).

Pelo fato de eu não mais fazer parte de nenhuma instituição religiosa, não estou sob a direção de nenhum pastor humano. Mas tenho respeito e consideração por aqueles que lideram rebanhos, conforme a vontade de Deus (1Pedro 5.1-4). Todavia, não sou uma ovelha sem pastor, pois o Senhor que me resgatou, tem sido o meu pastor e nada me tem faltado e nem a minha família. Tenho me congregado regularmente com meus irmãos, cultuando a Deus nas casas e levado o Evangelho nas ruas e nas praças, fazendo o ide que o Senhor ordenou aos que creem no Seu Nome (Marcos 16.15).

Encerro este artigo, dedicando aos meus irmãos que receberam o Dom ministerial de pastor e que presidem sobre o rebanho, uma frase que aprendi na Escola Dominical, quando ainda estava na igreja, que diz: “Deus deu pastores à Igreja e não a Igreja aos pastores”!

Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará.

Fontes: Bíblia Almeida Corrigida Fiel (ACF)
             Bíblia King James Atualizada.