Era só o que faltava! Na tentativa de defender a herança deixada por
Lutero, Zwinglio e Calvino, já surgiu quem afirme (acredite se quiser)
que “Jesus era evangélico”. Isso mesmo! E não somente ele, mas também os
apóstolos modernos – como se o termo evangélico, que hoje está denegrido, fosse
inventado por eles.
Tamanha incoerência foi publicada no blog de
um famoso jornalista e escritor, que se diz cristão. Segundo o autor do
texto, somente os “apóstatas” já abandonaram o termo evangélico. E
acrescenta: “Não fujamos como covardes. Fiquemos e defendamos o que é
nosso por herança espiritual. Somos sim evangélicos, como Jesus o
foi...”
Mas o problema é que Jesus não foi evangélico. Nunca foi e
jamais seria! Afirmar o contrário não somente é uma mentira, mas também
um absurdo. Digo isso não apenas por causa desse termo, que só começou a
ser usado há poucos séculos atrás, após a reforma protestante. Mas,
digo isso, principalmente, porque a prática evangélica, desde sua
origem, é muitíssimo parecida com a prática religiosa que o próprio
Jesus combatia em seus dias.
Se você duvida, vejamos como são os
evangélicos, em sua maioria (sejam eles reformados, renovados,
pentecostais, ou neo-pentecostais) e perceba como se parecem com aqueles
contra os quais Jesus redarguia.
Assim como os oponentes de Cristo, a maioria dos evangélicos:
- Amam os primeiros assentos nas igrejas, sobretudo os do altar;
- Fazem questão de ser chamados por seus títulos;
- Procuram vestir-se com suntuosidade, ao invés de simplicidade (algumas igrejas evangélicas mais parecem um desfile de moda);
- Pregam o amor, o perdão e a humildade que não vivem;
- Acrescentam doutrinas de homens ao puro e simples ensino de Cristo;
- Fazem propaganda de suas raras boas obras (aliás, raríssimas boas obras);
- Gostam (muito) de receber aplauso dos homens;
- Lutam por conquistar autoridade sobre os demais, para depois tratá-los como subalternos.
- Preferem investir tempo e dinheiro em seus templos, a investir tempo e dinheiro para socorrer irmãos necessitados.
- Amam as tradições mais do que a própria verdade.
Essa
lista não é exaustiva. Mas ela nos basta para lembrar o quanto essa
religiosidade evangélica, em todas as suas instâncias, se parece (e
muito) com a mesma religiosidade hipócrita que Jesus abominava em seus
dias sobre a terra. E o pior é que os evangélicos nada fazem para mudar!
E quando alguém tenta voltar ao genuíno evangelho - da verdade, da
igualdade e da simplicidade - logo é chamado de apóstata.
Sendo assim, como pode alguém pensar que Jesus faria parte desse cristianismo hipócrita que inventamos?
Mas,
suponhamos que Jesus tentasse fazer parte do arraial evangélico. Caso
isso ocorresse, não demoraria muito e ele seria excluído de qualquer
denominação a que tentasse ser membro. E mais: os próprios evangélicos o
recrucificariam! Por quê? Ora, porque a massa evangélica não tolera
alguém que não se enquadre no sistema, mas que tenha coragem para
denunciar abertamente suas hipocrisias. Assim como aqueles fariseus e
saduceus, que não quiseram tolerar Jesus, a ponto de se unirem para o
crucificar.
Portanto, lamento dizer, mas Jesus não seria
evangélico. Ele está muito acima do cristianismo que inventamos. Basta
uma simples releitura do Novo Testamento para se enxergar isso. Lutero,
Zwinglio e Calvino que me perdoem, mas a reforma que eles fizeram não
foi completa. Porque faltou a principal reforma: a reforma do coração.
“Bem
profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito:
Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.”
(Jesus Cristo – Mc 7:6)
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