Nota do autor: É aconselhável ao leitor acompanhar as linhas seguintes com uma bíblia, conferindo as referências exaustivamente aqui citadas, pois o meu maior cuidado é não ir além daquilo que Deus estabeleceu (Provérbios 30:5,6).
INTRODUÇÃO
Consagrar
é o ato de dedicar a Deus, separar, santificar, tornar sagrado. No caso de Arão
e seus filhos, Deus os estava separando para um ofício exclusivo que era
administrar o sacerdócio em Israel, onde estes receberiam a responsabilidade de
como mediadores, apresentar o homem pecador a Deus oferecendo dons e
sacrifícios como expiação pelos pecados da nação.
Como expliquei no post anterior, era a vontade de Deus que toda a
nação de Israel fosse um reino sacerdotal. "E vós me sereis um
reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos
de Israel." (Êxodo 19:6). Mas como Israel quebrou a aliança na qual se comprometeu obedecer e
guardar, Deus transferiu essa responsabilidade para uma de suas tribos que foi
a tribo de Levi. Quando o povo pecou oferecendo culto ao bezerro de ouro,
provocaram a ira do Senhor. O Senhor não dá sua glória a ninguém e nem divide o
seu louvor com as imagens de escultura (Isaías 42:8). Por este pecado, Deus
iria exterminar toda a nação de Israel e também a Arão, não fosse a intercessão
de Moisés (Êxodo 32:11-14; Deuteronômio 9:20). Deus atendeu sua mediação,
contudo, algo deveria ser feito para aplacar a sua ira. Foi aí que os levitas
entraram em cena, quando Moisés convocou ficar ao seu lado aquele que era de
Deus (Êxodo 32:26). Nenhuma outra tribo, com exceção da tribo de Leví
se prontificou a zelar pela santidade do Senhor. Então Moisés ordenou que eles
desembainhassem a espada e exterminassem aqueles que haviam provocado a ira do
Senhor. “E disse-lhes: Assim diz o SENHOR Deus de Israel: Cada um ponha a sua
espada sobre a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e
mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho. E os filhos de Levi fizeram
conforme à palavra de Moisés; e caíram do povo aquele dia uns três mil homens.” (Êxodo 32:27,28). Matando os transgressores, os levitas fizeram
seu primeiro ato de expiação, o que os qualificou para o sacerdócio.
Mas uma vez quero falar da onisciência e da misericórdia de Deus, que
sabendo que o povo iria pecar não obedecendo o pacto feito no pé do monte
Sinai, de antemão ordenou Moisés separar a tribo de Levi, sabendo também que eles,
apesar de pecarem, se arrependeriam e se comprometeriam a reparar aquele mal. Como
exemplo temos o próprio Arão que foi o que construiu o bezerro e ainda edificou
um altar, mas ordenou ao povo que no outro dia se oferecesse sacrifício ao
Senhor, como de fato aconteceu (Êxodo 32:3-8). Isso mostra o quanto
Arão era pecador e ignorante no tocante as coisas de Deus e sua escolha para o
sacerdócio mostra que Deus não leva em conta os tempos da ignorância quando há disposição
para se reconhecer as faltas (Êxodo 32:22; Atos 17:30).
DEUS DÁ AS INSTRUÇÕES PARA A
CONSAGRAÇÃO DOS SACERDOTES
No capítulo 29 do livro de Êxodo, vemos as instruções do Senhor a Moisés
quanto a consagração do sacerdócio Araônico, o que somente aconteceu após a
conclusão do tabernáculo, conforme está registrado em Êxodo 40:12 a 16. Essa
consagração se daria mediante a realização de um ritual que deveria ser
executado nos seus mínimos detalhes, envolvendo vários elementos, como a
lavagem com água; unção com azeite; imolação de animais, etc.
Lavagem com água. Era a primeira coisa a ser feita antes de Arão e
seus filhos entrarem no santuário. Este rito seria feito a porta da tenda da
congregação (Êxodo 29:4: 40:12). Após a consagração, Arão e seus filhos
deveriam lavar as mãos e os pés todas as vezes que fosse preciso entrar no
santuário na pia de bronze que ali foi posta. Se não fizessem isso morreriam (Êxodo
30:18-21). A água era considerada como elemento de purificação entre os
judeus. Todo aquele que se contaminasse com alguma coisa, deveria se lavar com
água segundo a lei dada a Moisés (Levítico
14;8; 15;17); sendo usada para este fim até nos tempos de Jesus (João
2:6). Jesus falou que Sua Palavra é que nos purifica (João
15:3) e Paulo completa dizendo que Jesus amou a igreja que se entregou
por ela para a santificar, purificando-a
com a lavagem da água, pela palavra, (Efésios 5;26). Após o rito de lavagem os sacerdotes deveriam se vestir com as roupas
que foram especialmente preparadas para depois receberem o azeite da unção (Êxodo
29:5-7). Da mesma forma, só receberemos poder do alto se estivermos devidamente
lavados e vestidos com as vestes de louvor, de justiça e de salvação (Isaías
61:3-10).
Unção com azeite: Unção significa: transferência de poder. No ato da consagração dos
sacerdotes, Deus os estava capacitando a exercerem responsabilidades específicas,
ou seja, Deus estava lhes dando poder e autoridade para agirem em Seu nome.
Esta unção, ou transferência de poder seria simbolizada no derramar de azeite
sobre a cabeça (Salmo 133:2). No antigo concerto
apenas sacerdotes, profetas e reis recebiam a unção com azeite (1Samuel
16:12; 1Reis 19:15). Esse azeite deveria ser preparado com o que de
mais especial havia e pelas mãos de pessoas hábeis. Se alguém tentasse copiar a
fórmula para uso próprio morreria (Êxodo 30:25-33). Deveria ser assim,
pois esse azeite era uma representação do Espírito Santo que hoje habita em
cada crente. Hoje, todos os crentes em Jesus tem recebido poder do alto (Atos
1:8) e a unção do santo. “E vós tendes a
unção do Santo, e sabeis tudo." (1João
2:20). "E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes
necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as
coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele
permanecereis." (1João 2:2).
Animais são imolados como
sacrifício: Por ocasião da consagração, Arão e seus filhos
deveriam levar alguns animais para serem imolados. No total foram três animais,
sendo um novilho e dois carneiros. “Isto é o que lhes hás de fazer, para os
santificar, para que me administrem o sacerdócio: Toma um novilho e dois
carneiros sem mácula” (Êxodo 29:1).
a) O primeiro animal - um novilho (Êxodo 29:10-14): Este deveria ser levado a porta da tenda da congregação e ali, Arão e seus filhos imporiam as mãos sobre sua cabeça. Em seguida o animal era imolado e Moisés pegaria seu sangue e com o dedo molharia as quatro pontas do altar; o restante do sangue derramaria na base do altar. Depois as gorduras deste animal seriam queimadas no altar, mas a carne, a pele e o esterco eram levados para fora do arraial, onde seria totalmente queimada como sacrifício pelo pecado. Este novilho era uma representação de Cristo que foi sacrificado por nós fora das portas de Jerusalém. “E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hebreus 13:12,13).
b) O segundo animal – o
primeiro carneiro (Êxodo 29:15-18): Após o rito com o novilho, Arão e seus filhos
repetiriam o mesmo ato, impondo as mãos sobre a cabeça do primeiro carneiro. O
animal seria imolado e o sangue espalhado sobre o altar ao redor. Esse carneiro
seria partido e após lavada as suas partes com água, seria posto sobre o altar
do holocausto para ser totalmente queimado. Este era o sacrifício de cheiro suave
ao Senhor. Este primeiro carneiro também representava Cristo que se entregou
como oferta de sacrifício e cheiro suave por nós. “E andai em amor, como também
Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a
Deus, em cheiro suave." (Efésios
5:2).
c) O terceiro animal – o
segundo carneiro (Êxodo 29:19-28): Este era o carneiro das consagrações. Arão e seus filhos repetiriam o
mesmo ritual de imposição de mãos. Em seguida o animal era imolado e do sangue
deste era posto um pouco sobre as pontas das orelhas direita de Arão e seus
filhos, bem como nos polegares direito e nos dedões dos pés direito. O restante
do sangue seria espalhado pelo altar, depois, Moisés pegaria do sangue
espalhado, misturaria com o azeite da unção e os espargiria sobre Arão e seus
filhos e suas vestes. Era um rito para santificação. Em seguida este carneiro
era partido e separada a gordura e o ombro direito. Juntar-se-ia a esta parte
um pão, um bolo de pão azeitado e um coscorão do cesto dos pães ázimos. Arão e
seus filhos pegariam essas partes e ofereceriam ao Senhor com movimento. Em
seguida, Moisés pegaria das mãos deles e os queimaria no altar sobre o
holocausto como oferta de cheiro suave ao Senhor. O peito e o ombro do carneiro
das consagrações seria oferecido ao Senhor com movimentos. Estes pedaços do
carneiro eram a oferta alçada do Senhor,
que os deu a Arão e seus filhos por estatuto perpétuo como salário pelo serviço
no santuário (Números 18:19). A carne desse carneiro deveria ser cozida
dentro do santuário e comida por Arão e seus filhos junto com os pães e o que
sobrasse deveria ser queimado. Sete dias foi o tempo que durou a cerimônia de
consagração dos sacerdotes (Êxodo 29:35).
Este carneiro
que era o das consagrações também fez alusão Cristo que é o alimento de todo
sacerdote da nova aliança. "Assim como o
Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se
alimenta, também viverá por mim" (João 6:57).
Sacrificios
diários: após o cerimonial de consagração, o
Senhor determinou que a cada dia fossem imolados dois cordeiros, um pela manhã
e outro à tardinha que deveriam ser oferecidos ao Senhor com flor de farinha e
azeite batido (Êxodo 29:38-40). Isto era necessário por duas razões:
a) o povo era pecador e precisava ser
remido, pois segundo a lei, sem derramamento de sangue não há remissão (Hebreus
9:22). O sangue daqueles animais não tiravam os pecados, mas apenas
cobriam, livrando assim o povo da ira de Deus. Era um símbolo do sangue de
Jesus, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo e que nos purifica, nos
fazendo aceitáveis a Deus (1João 1:7).
b) o sacerdote que ministrava sobre o
altar precisava ter o seu sustento (1Corintios 9:13). Arão e seus filhos
e os demais levitas foram proibidos de possuírem herdades, pois a chamada destes
os responsabilizava a viverem no santuário. Não podiam se ausentar de lá, pois
somente eles poderiam apresentar o pecador diante de Deus, oferecendo dons e
sacrifícios (Hebreus 5:1). Eles deveriam comer das ofertas que no altar eram
levados diariamente e ninguém que não fosse sacerdote poderia comer deles, pois
eram santos (Êxodo 29:33). Isso durou até Cristo que ofereceu-se a sí mesmo
como sacrifício e oferta agradável a Deus, se tornando sumo-sacerdote segundo a
ordem de Melquisedeque e nos fazendo seus sacerdotes (Hebreus 5:10; apocalipse 1;6).
O altar do holocausto não mais existe, pois a lei que ordenou o sacerdócio
Arônico foi mudado por Jesus (Hebreus 7:12). "Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao
tabernáculo." (Hebreus 13:10) .
Responsabilidade dos
sacerdotes: No tabernáculo tudo devia estar preparado, a fim de
que o culto diário nunca fosse interrompido. Dentre as responsabilidades que
Deus outorgou aos filhos de Arão era não deixar o fogo do altar apagar. "O
fogo que está sobre o altar arderá nele, não se apagará; mas o sacerdote
acenderá lenha nele cada manhã, e sobre ele porá em ordem o holocausto e sobre
ele queimará a gordura das ofertas pacíficas. O fogo arderá continuamente sobre
o altar; não se apagará." (Levítico
6:12,13). Do fogo desse altar que nunca deveria se apagar, os filhos de
Arão deveriam tirar brasas para acenderem seus incensários e se apresentarem a
Deus (Levítico 16:12). Mas Deus os matou por oferecerem fogo estranho
perante o Senhor (Levítico 10:1-3). Que seria esse fogo estranho? Alguns
estudiosos defendem que Nadabe e Abiú estavam embriagados quando se
apresentaram diante do Senhor, mas a lei dizia que nenhum sacerdote deveria
ingerir bebida forte (Levítico 10:9). Se foi assim, então
eles como sacerdotes não prezaram pela lei que deveriam guardar. Mas o texto de
Levitico 10: 1 a 3 diz que eles tomaram
cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e
ofereceram fogo estranho perante o SENHOR, o que não lhes ordenara. Nadabe e Abiú não atentaram para a
recomendação divina de tomar brasas do altar, mas colocaram fogo no incensário que
eles mesmos acenderam.
Hoje, como sacerdotes reais precisamos entender que não temos o direito
de alterar aquilo que Deus designou em Sua Palavra (Provérbios 30:5,6). No
livro do Apocalipse que encerra o cânone sagrado, o próprio Cristo nos dá um
alerta: “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia
deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre
ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se
alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua
parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas
neste livro” (Apocalipse 22:18, 19).
JESUS CRISTO, NOSSO SUMO
SACERDOTE ETERNO
"Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também
mudança da lei." (Hebreus 7:12).
O sacerdócio levitico não poderia continuar na Nova Aliança, pois ele
era imperfeito, onde o próprio sumo sacerdote deveria oferecer sacrifícios
pelos seus pecados. O que não foi assim com Jesus. “Porque nos convinha tal
sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito
mais sublime do que os céus; Que não necessitasse, como
os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus
próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez,
oferecendo-se a si mesmo” (Hebreus
7: 26,27).
O autor aos hebreus ao se referir sobre o sacerdócio de Cristo diz que
ele é: a) é perfeito, pois, salva
aqueles que a Ele se chegam vivendo sempre para interceder por estes (Hebreus
7:25); b) é superior, pois
está baseado em superiores promessas (Hebreus 8:6). O sacrifício de Cristo
é superior porque removeu o pecado, enquanto que o Arônico apenas os cobria
temporariamente, sendo necessário repeti-los constantemente; c) o sacerdócio de
Cristo é eterno, pois é segundo a
ordem de Melquisedeque que não teve princípios e nem fim de dias e foi anterior
ao de Levi (Hebreus 7:21).
Com a mudança da lei sacerdotal não há mais necessidade de se sacrificar
animais pela expiação dos pecados, visto que o sacrifício de Cristo foi eficaz
e perpétuo (Hebreus 9:24-28). Também não há mais a necessidade de um
mediador humano, pois Cristo é nosso mediador eterno e único (1Timóteo
2:5).
CONCLUSÃO
O sacerdócio levitico foi sombra daquele que seria um sacerdócio
perfeito, imutável superior e eterno que dispensa a figura de sacerdotes
humanos que possa representar o homem perante Deus. Jesus, como nosso sumo
sacerdote fez e faz isso por cada um de nós hoje. O altar do holocausto não
mais existe, pois o último altar foi a cruz, onde foi imolado o sacrifício
perfeito em resgate do homem. Na cruz Jesus derramou o seu sangue no
cumprimento da lei que dizia que sem derramamento de sangue não há remissão (Hebreus
9:15;22). Aleluia.
"Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo
pecado." (Hebreus 10:18).
Em Cristo,
Reginaldo Barbosa
Sta. Bárbara do Pará
Excelente, como é bom contar com explicações sensatas,é uma luz para o nosso entendimento.
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