Páginas

quinta-feira, 20 de março de 2014

A consagração dos sacerdotes




Nota do autor: É aconselhável ao leitor acompanhar as linhas seguintes com uma bíblia, conferindo as referências exaustivamente aqui citadas, pois o meu maior cuidado é não ir além daquilo que Deus estabeleceu (Provérbios 30:5,6).

INTRODUÇÃO

Consagrar é o ato de dedicar a Deus, separar, santificar, tornar sagrado. No caso de Arão e seus filhos, Deus os estava separando para um ofício exclusivo que era administrar o sacerdócio em Israel, onde estes receberiam a responsabilidade de como mediadores, apresentar o homem pecador a Deus oferecendo dons e sacrifícios como expiação pelos pecados da nação.
Como expliquei no post anterior, era a vontade de Deus que toda a nação de Israel fosse um reino sacerdotal.  "E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel."  (Êxodo 19:6). Mas como Israel quebrou a aliança na qual se comprometeu obedecer e guardar, Deus transferiu essa responsabilidade para uma de suas tribos que foi a tribo de Levi. Quando o povo pecou oferecendo culto ao bezerro de ouro, provocaram a ira do Senhor. O Senhor não dá sua glória a ninguém e nem divide o seu louvor com as imagens de escultura (Isaías 42:8). Por este pecado, Deus iria exterminar toda a nação de Israel e também a Arão, não fosse a intercessão de Moisés (Êxodo 32:11-14; Deuteronômio 9:20). Deus atendeu sua mediação, contudo, algo deveria ser feito para aplacar a sua ira. Foi aí que os levitas entraram em cena, quando Moisés convocou ficar ao seu lado aquele que era de Deus (Êxodo 32:26). Nenhuma outra tribo, com exceção da tribo de Leví se prontificou a zelar pela santidade do Senhor. Então Moisés ordenou que eles desembainhassem a espada e exterminassem aqueles que haviam provocado a ira do Senhor. “E disse-lhes: Assim diz o SENHOR Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho.  E os filhos de Levi fizeram conforme à palavra de Moisés; e caíram do povo aquele dia uns três mil homens.” (Êxodo 32:27,28). Matando os transgressores, os levitas fizeram seu primeiro ato de expiação, o que os qualificou para o sacerdócio.

Mas uma vez quero falar da onisciência e da misericórdia de Deus, que sabendo que o povo iria pecar não obedecendo o pacto feito no pé do monte Sinai, de antemão ordenou Moisés separar a tribo de Levi, sabendo também que eles, apesar de pecarem, se arrependeriam e se comprometeriam a reparar aquele mal. Como exemplo temos o próprio Arão que foi o que construiu o bezerro e ainda edificou um altar, mas ordenou ao povo que no outro dia se oferecesse sacrifício ao Senhor, como de fato aconteceu (Êxodo 32:3-8). Isso mostra o quanto Arão era pecador e ignorante no tocante as coisas de Deus e sua escolha para o sacerdócio mostra que Deus não leva em conta os tempos da ignorância quando há disposição para se reconhecer as faltas (Êxodo 32:22; Atos 17:30).

DEUS DÁ AS INSTRUÇÕES PARA A CONSAGRAÇÃO DOS SACERDOTES

No capítulo 29 do livro de Êxodo, vemos as instruções do Senhor a Moisés quanto a consagração do sacerdócio Araônico, o que somente aconteceu após a conclusão do tabernáculo, conforme está registrado em Êxodo 40:12 a 16. Essa consagração se daria mediante a realização de um ritual que deveria ser executado nos seus mínimos detalhes, envolvendo vários elementos, como a lavagem com água; unção com azeite; imolação de animais, etc.

Lavagem com água. Era a primeira coisa a ser feita antes de Arão e seus filhos entrarem no santuário. Este rito seria feito a porta da tenda da congregação (Êxodo 29:4: 40:12). Após a consagração, Arão e seus filhos deveriam lavar as mãos e os pés todas as vezes que fosse preciso entrar no santuário na pia de bronze que ali foi posta. Se não fizessem isso morreriam (Êxodo 30:18-21). A água era considerada como elemento de purificação entre os judeus. Todo aquele que se contaminasse com alguma coisa, deveria se lavar com água  segundo a lei dada a Moisés (Levítico 14;8; 15;17); sendo usada para este fim até nos tempos de Jesus (João 2:6). Jesus falou que Sua Palavra é que nos purifica (João 15:3) e Paulo completa dizendo que Jesus amou a igreja que se entregou por ela para a  santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,  (Efésios 5;26). Após o rito de lavagem os sacerdotes deveriam se vestir com as roupas que foram especialmente preparadas para depois receberem o azeite da unção (Êxodo 29:5-7). Da mesma forma, só receberemos poder do alto se estivermos devidamente lavados e vestidos com as vestes de louvor, de justiça e de salvação (Isaías 61:3-10).

Unção com azeite: Unção significa: transferência de poder. No ato da consagração dos sacerdotes, Deus os estava capacitando a exercerem responsabilidades específicas, ou seja, Deus estava lhes dando poder e autoridade para agirem em Seu nome. Esta unção, ou transferência de poder seria simbolizada no derramar de azeite sobre a cabeça (Salmo 133:2). No antigo concerto apenas sacerdotes, profetas e reis recebiam a unção com azeite (1Samuel 16:12; 1Reis 19:15). Esse azeite deveria ser preparado com o que de mais especial havia e pelas mãos de pessoas hábeis. Se alguém tentasse copiar a fórmula para uso próprio morreria (Êxodo 30:25-33). Deveria ser assim, pois esse azeite era uma representação do Espírito Santo que hoje habita em cada crente. Hoje, todos os crentes em Jesus tem recebido poder do alto (Atos 1:8) e a unção do santo. E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo."  (1João 2:20). "E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis."  (1João 2:2).

Animais são imolados como sacrifício: Por ocasião da consagração, Arão e seus filhos deveriam levar alguns animais para serem imolados. No total foram três animais, sendo um novilho e dois carneiros“Isto é o que lhes hás de fazer, para os santificar, para que me administrem o sacerdócio: Toma um novilho e dois carneiros sem mácula” (Êxodo 29:1).
   

a) O primeiro animal - um novilho (Êxodo 29:10-14): Este deveria ser levado a porta da tenda da congregação e ali, Arão e seus filhos imporiam as mãos sobre sua cabeça. Em seguida o animal era imolado e Moisés pegaria seu sangue e com o dedo molharia as quatro pontas do altar; o restante do sangue derramaria na base do altar. Depois as gorduras deste animal seriam queimadas no altar, mas a carne, a pele e o esterco eram levados para fora do arraial, onde seria totalmente queimada como sacrifício pelo pecado. Este novilho era uma representação de Cristo que foi sacrificado por nós fora das portas de Jerusalém. “E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hebreus 13:12,13).

b) O segundo animal – o primeiro carneiro (Êxodo 29:15-18): Após o rito com o novilho, Arão e seus filhos repetiriam o mesmo ato, impondo as mãos sobre a cabeça do primeiro carneiro. O animal seria imolado e o sangue espalhado sobre o altar ao redor. Esse carneiro seria partido e após lavada as suas partes com água, seria posto sobre o altar do holocausto para ser totalmente queimado. Este era o sacrifício de cheiro suave ao Senhor. Este primeiro carneiro também representava Cristo que se entregou como oferta de sacrifício e cheiro suave por nós. E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave."  (Efésios 5:2).

c) O terceiro animal – o segundo carneiro (Êxodo 29:19-28): Este era o carneiro das consagrações. Arão e seus filhos repetiriam o mesmo ritual de imposição de mãos. Em seguida o animal era imolado e do sangue deste era posto um pouco sobre as pontas das orelhas direita de Arão e seus filhos, bem como nos polegares direito e nos dedões dos pés direito. O restante do sangue seria espalhado pelo altar, depois, Moisés pegaria do sangue espalhado, misturaria com o azeite da unção e os espargiria sobre Arão e seus filhos e suas vestes. Era um rito para santificação. Em seguida este carneiro era partido e separada a gordura e o ombro direito. Juntar-se-ia a esta parte um pão, um bolo de pão azeitado e um coscorão do cesto dos pães ázimos. Arão e seus filhos pegariam essas partes e ofereceriam ao Senhor com movimento. Em seguida, Moisés pegaria das mãos deles e os queimaria no altar sobre o holocausto como oferta de cheiro suave ao Senhor. O peito e o ombro do carneiro das consagrações seria oferecido ao Senhor com movimentos. Estes pedaços do carneiro eram a oferta alçada do Senhor, que os deu a Arão e seus filhos por estatuto perpétuo como salário pelo serviço no santuário (Números 18:19). A carne desse carneiro deveria ser cozida dentro do santuário e comida por Arão e seus filhos junto com os pães e o que sobrasse deveria ser queimado. Sete dias foi o tempo que durou a cerimônia de consagração dos sacerdotes (Êxodo 29:35).

Este carneiro que era o das consagrações também fez alusão Cristo que é o alimento de todo sacerdote da nova aliança. "Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim" (João 6:57).

Sacrificios diários: após o cerimonial de consagração, o Senhor determinou que a cada dia fossem imolados dois cordeiros, um pela manhã e outro à tardinha que deveriam ser oferecidos ao Senhor com flor de farinha e azeite batido (Êxodo 29:38-40). Isto era necessário por duas razões:

a) o povo era pecador e precisava ser remido, pois segundo a lei, sem derramamento de sangue não há remissão (Hebreus 9:22). O sangue daqueles animais não tiravam os pecados, mas apenas cobriam, livrando assim o povo da ira de Deus. Era um símbolo do sangue de Jesus, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo e que nos purifica, nos fazendo aceitáveis a Deus (1João 1:7).

b) o sacerdote que ministrava sobre o altar precisava ter o seu sustento (1Corintios 9:13). Arão e seus filhos e os demais levitas foram proibidos de possuírem herdades, pois a chamada destes os responsabilizava a viverem no santuário. Não podiam se ausentar de lá, pois somente eles poderiam apresentar o pecador diante de Deus, oferecendo dons e sacrifícios (Hebreus 5:1). Eles deveriam comer das ofertas que no altar eram levados diariamente e ninguém que não fosse sacerdote poderia comer deles, pois eram santos (Êxodo 29:33). Isso durou até Cristo que ofereceu-se a sí mesmo como sacrifício e oferta agradável a Deus, se tornando sumo-sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque e nos fazendo seus sacerdotes (Hebreus 5:10; apocalipse 1;6). O altar do holocausto não mais existe, pois a lei que ordenou o sacerdócio Arônico foi mudado por Jesus (Hebreus 7:12). "Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo."  (Hebreus 13:10)  .

Responsabilidade dos sacerdotes: No tabernáculo tudo devia estar preparado, a fim de que o culto diário nunca fosse interrompido. Dentre as responsabilidades que Deus outorgou aos filhos de Arão era não deixar o fogo do altar apagar. "O fogo que está sobre o altar arderá nele, não se apagará; mas o sacerdote acenderá lenha nele cada manhã, e sobre ele porá em ordem o holocausto e sobre ele queimará a gordura das ofertas pacíficas. O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará."  (Levítico 6:12,13). Do fogo desse altar que nunca deveria se apagar, os filhos de Arão deveriam tirar brasas para acenderem seus incensários e se apresentarem a Deus (Levítico 16:12). Mas Deus os matou por oferecerem fogo estranho perante o Senhor (Levítico 10:1-3). Que seria esse fogo estranho? Alguns estudiosos defendem que Nadabe e Abiú estavam embriagados quando se apresentaram diante do Senhor, mas a lei dizia que nenhum sacerdote deveria ingerir bebida forte (Levítico 10:9). Se foi assim, então eles como sacerdotes não prezaram pela lei que deveriam guardar. Mas o texto de Levitico 10: 1 a 3 diz que eles tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o SENHOR, o que não lhes ordenara. Nadabe e Abiú não atentaram para a recomendação divina de tomar brasas do altar, mas colocaram fogo no incensário que eles mesmos acenderam.

Hoje, como sacerdotes reais precisamos entender que não temos o direito de alterar aquilo que Deus designou em Sua Palavra (Provérbios 30:5,6). No livro do Apocalipse que encerra o cânone sagrado, o próprio Cristo nos dá um alerta: “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro;  E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro” (Apocalipse 22:18, 19).

JESUS CRISTO, NOSSO SUMO SACERDOTE ETERNO

"Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei."  (Hebreus 7:12).

O sacerdócio levitico não poderia continuar na Nova Aliança, pois ele era imperfeito, onde o próprio sumo sacerdote deveria oferecer sacrifícios pelos seus pecados. O que não foi assim com Jesus. “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus;  Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo” (Hebreus 7: 26,27).
O autor aos hebreus ao se referir sobre o sacerdócio de Cristo diz que ele é: a) é perfeito, pois, salva aqueles que a Ele se chegam vivendo sempre para interceder por estes (Hebreus 7:25); b) é superior, pois está baseado em superiores promessas (Hebreus 8:6). O sacrifício de Cristo é superior porque removeu o pecado, enquanto que o Arônico apenas os cobria temporariamente, sendo necessário repeti-los constantemente; c) o sacerdócio de Cristo é eterno, pois é segundo a ordem de Melquisedeque que não teve princípios e nem fim de dias e foi anterior ao de Levi (Hebreus 7:21).

Com a mudança da lei sacerdotal não há mais necessidade de se sacrificar animais pela expiação dos pecados, visto que o sacrifício de Cristo foi eficaz e perpétuo (Hebreus 9:24-28). Também não há mais a necessidade de um mediador humano, pois Cristo é nosso mediador eterno e único (1Timóteo 2:5).

CONCLUSÃO

O sacerdócio levitico foi sombra daquele que seria um sacerdócio perfeito, imutável superior e eterno que dispensa a figura de sacerdotes humanos que possa representar o homem perante Deus. Jesus, como nosso sumo sacerdote fez e faz isso por cada um de nós hoje. O altar do holocausto não mais existe, pois o último altar foi a cruz, onde foi imolado o sacrifício perfeito em resgate do homem. Na cruz Jesus derramou o seu sangue no cumprimento da lei que dizia que sem derramamento de sangue não há remissão (Hebreus 9:15;22). Aleluia.


"Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado."  (Hebreus 10:18).

Em Cristo,

Reginaldo Barbosa
Sta. Bárbara do Pará

Um comentário:

  1. Excelente, como é bom contar com explicações sensatas,é uma luz para o nosso entendimento.

    ResponderExcluir

Todos os comentários são liberados e publicados automaticamente. Porém, serão excluidos se houver falta de respeito ou palavras obscenas