Durante
25 anos ininterruptos fui (segundo a visão denominacional) um “dizimista fiel”.
Por causa dessa prática assumi muitos cargos na igreja, sendo honrado pelos
lideres e admirado por muitos irmãos. Apesar de ser “fiel”, aconteceu de eu
ficar um mês sem receber meu salário. E, não o recebendo, não pude dar os 10%
obrigatórios que até então eu acreditava ser o dízimo (fui ensinado assim, como
todos o são). Fui afastado das minhas funções e passei a ser tratado de ladrão
e infiel. Como na igreja todos (ou quase todos) acreditam que quem não dizima é
ladrão, por está roubando a Deus, não recebi defesa e nem a compaixão de nenhum
irmão. Diante dos fatos, eu tinha razões de sobra para me desviar ou mudar de
igreja, mas não fiz. Procurei defender a minha honra, e, para isso, dediquei-me
a estudar exaustivamente a Bíblia no intuito de saber se a acusação infame que
pesava sobre mim de “ladrão e infiel” tinha fundamento.
Comecei
pesquisando sobre o termo “dízimo” e descobri que esta palavra é mencionada 34
vezes em toda a Bíblia, sendo 25 no antigo testamento e 09 no novo testamento.
Anotei as referências e então passei a estudar cuidadosamente uma a uma nos
seus textos e contextos. Aquilo que descobri me trouxe ainda maiores problemas,
pois além de “ladrão” e “infiel”, agora eu passaria a ser tratado também de
“herege”, “anticristo”, “apóstata” e até de “filho do diabo”. Eu descobri que
dízimo nunca foi dinheiro.
Por
causa de tudo isso eu deixei de pagar definitivamente os 10% a que chamam de
dízimo (mas continuei contribuindo). Fui ameaçado de disciplina, mas não
encontraram justificativa coerente para tal. Entretanto, eu, minha família
fomos proibidos de ter qualquer oportunidade nos cultos e às vezes, quando
vamos a convite de um irmão participar de alguma reunião nas congregações,
causamos desconforto às lideranças com nossas presenças. Muitos dos que se
diziam meus irmãos na fé, quando passam por mim, viram o rosto, pois pra eles
eu sou um ladrão, por estar roubando a Deus não entregando meus 10% a
tesouraria da igreja.
Diante
de tal situação, volto novamente a escrever sobre isso, agora com o tema: Roubará o Homem a Deus?
Como um
ser divino, criador e dono de todas as coisas, onipotente e transcendental como
Deus poderá ser roubado pela sua mortal criatura? Ainda que possa parecer
impossível, tal ação acontece.
Geralmente
quando alguém faz essa pergunta, muitos logo têm a reposta na ponta da língua,
citando o que Malaquias prescreveu: Sim,
nos dízimos e nas ofertas! (Malaquias
3 : 8). Mas, o que a grande maioria desconhece ou ignora é que o roubo
a Deus não está restrito somente a questão dos dízimos e das ofertas, como
aconteceu no período pós-exílio no ministério de Malaquias. Deus é também
roubado (e muito roubado) quando Sua palavra é desviada dos princípios a qual
foi designada para atender os interesses daqueles que a interpretam. Deus foi
roubado muito tempo antes do período de Malaquias, no período do pré-exílio
babilônico, justamente por aqueles que tinham a responsabilidade de falar a
palavra de Deus com verdade – os profetas. Eles, por interesses pessoais,
querendo agradar os reis e as pessoas, passaram a usar falsamente o Nome de
Deus e em vão, dizendo ao povo que Deus falava por intermédio deles, quando a vontade
de Deus era outra.
“Portanto,
eis que eu sou contra os profetas, diz o SENHOR, que FURTAM as minhas palavras,
cada um ao seu próximo. Eis que eu sou contra os profetas, diz o SENHOR, que
usam de sua PRÓPRIA LINGUAGEM, e dizem: Ele disse” (Jeremias 23 : 30 , 31).
Não
falar a Palavra de Deus com verdade, da forma como Ele a estabeleceu, consiste
em furtá-la. Ah, mas FURTAR e ROUBAR não é a mesma coisa! FURTO vem do hebraico
“ganab” (ga-nab) (גנב / גָּנַב) e este
verbo ocorre cerca de 39 vezes no Antigo Testamento é relativo a “furtar”,
“roubar” e implica até em “enganar”. Em ambos os casos quem pratica tais
crimes, seja furto, seja roubo é considerado LADRÃO.
Assim
como Deus foi “furtado”, “roubado” e “enganado” naqueles tempos, da mesma
maneira o é nos dias atuais e, principalmente também por aqueles que se julgam
responsáveis em falar a Palavra de Deus às massas. Muitos dos que na atualidade
se autodenominam “ungidos”, como profetas, apóstolos, bispos e pastores, estão
a furtar e a roubar a Deus, quando deixam de falar a Palavra na sua essência e
pureza. São os que não suportam a sã doutrina e desviam os ouvidos da verdade e
aplicam-se as fábulas (2Timóteo 4 : 3 , 4). Como
exemplo disso, temos a lenda do “CORTADOR”, “MIGRADOR”, “DEVORADOR” e “DESTRUIDOR”,
que na bíblia são meros gafanhotos, mas que os pseudos-mestres da atualidade
ensinam serem “DEMÔNIOS” e usam desta mentira para impor o medo e o terror
sobre os fiéis, para que estes, de maneira nenhuma deixem de pagar aquilo que
ensinam ser o dízimo.
Quando
se trata do assunto de roubar a Deus, logo acusam aqueles que não pagam “seus
dízimos”. Afirmam ainda que os tais “roubadores” não herdarão o reino dos céus
(1Corintios 6 : 10). Mas estes não ensinam que o
roubo em relação aos dízimos e ofertas iniciou com os sacerdotes, responsáveis
em ensinar e conduzir o povo de Deus (Malaquias 2 : 8). O
dízimo como um princípio sagrado e de justiça foi estabelecido em Israel para
atender uma determinada classe de pessoas. Desviá-lo desse princípio consistia
em roubar a Deus (Neemias 13 : 10 - 12). Os que acusam os não
dizimistas de “ladrões” esquecem ou ignoram que também os mentirosos ficarão de
fora do reino dos céus e ainda serão jogados no lago de fogo (Apocalipse
21 : 8 ; 22 : 15). E a doutrina do dízimo conforme ensinam nas igrejas é uma
mentira, pois esta não se harmoniza com os princípios pelos quais Deus o
estabeleceu em Sua Palavra (Deuteronômio 12 : 32). E,
por não se harmonizar com os princípios divinos estabelecidos, tal doutrina se
constitui numa doutrina de homens e de demônios, por fazer acepção de pessoas,
onde, aqueles que o pagam são aceitos e os que não pagam são excluídos e
tratados com desprezo e ignomínia por aqueles que dizem viver no amor de Deus.
Deus condenou os sacerdotes no tempo de Malaquias por causa dessa iniquidade (Malaquias
2 : 9).
Os que
incentivam o povo a praticarem esse dízimo mentem quando dizem que aquele que
for fiel prosperará financeiramente, quando na bíblia, Deus nunca fez tal
promessa. Isso é furto, roubo e engano. Deus só prometeu abençoar o dizimista,
se ele obedecesse em tudo o que Ele havia estabelecido sobre o ato de entregar
o dízimo. E um desses mandamentos era que, a cada três anos, o dizimista
deveria levar o levita, o órfão, a viúva e o estrangeiro para dentro de sua
própria casa e alí, repartir o seu dízimo, onde eles comeriam até se fartarem (Deuteronômio
14 : 28 , 29 ; 26 : 12 - 16). Os que atualmente cobram dízimos não
ensinam esses princípios, por isso roubam e furtam ao Senhor. E ainda, aqueles
que cobram dízimos em dinheiro, usam o Nome de Deus em vão e mentem ao povo
quando dizem que o dízimo é para aplicação na obra de Deus, como ação social e
missões e outras, mas nada do que é arrecadado em cada culto se aplicam nestas
áreas.
Também
mentem, quando afirmam que os que não pagam o dízimo receberão a maldição
prometida em Malaquias, que diz: "Com
maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta
nação." (Malaquias
3 : 9). Ora, essa maldição estava condicionada ao fato justamente de
não dar o dizimo para quem Deus determinou entregar, que, além dos levitas,
eram os necessitados como órfãos, viúvas e estrangeiros. Isso Deus mesmo
estabeleceu em lei. Veja: "Maldito
aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva. E todo o
povo dirá: Amém." (Deuteronômio 27 : 19). No mesmo capítulo de
Malaquias onde Deus cobra os sacerdotes pelo roubo aos dízimos e ofertas, Ele os
avisa que será uma testemunha contra os que o roubariam: "E chegar-me-ei a vós para juízo; e serei
uma testemunha veloz contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que
juram falsamente, contra os que defraudam o diarista em seu salário, e a viúva,
e o órfão, e que pervertem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o
SENHOR dos Exércitos." (Malaquias 3 : 5). Esse era o roubo que Deus
estava se sentindo lesado. Os que distorcem os textos sagrados, mentindo para
alimentar seus deleites carnais e materiais, deveriam meditar com o que
aconteceu com Ananias e Safira em plena era da graça. Eles morreram por mentir
ao Espírito Santo. No início da era igreja Deus matou aquele casal para deixar
o exemplo às gerações futuras que aqueles que mentem nas coisas divinas terão
sua devida punição. (Atos 5 : 1 – 10).
O que a
bíblia ensina sobre o dízimo?
O dízimo
é bíblico? Sim, mas não era dinheiro, como se exige! Não era dado mensalmente
ou a cada culto, mas uma única vez ao ano (Deuteronômio 14 : 22).
Dízimo era alimento retirado das lavouras e do rebanho dos israelitas e
destinava-se ao sustento dos levitas que não receberam herança nas terras de
Israel e principalmente dos necessitados, como órfãos, viúvas e estrangeiros (Números
18 : 24 ; Deuteronômio 26 : 12).
Dízimo,
por ser uma doutrina veterotestamentária constituía-se em uma obra da lei que
na cruz teve seu cabal cumprimento, onde Jesus pagou todas as nossas dívidas,
abolindo a lição do antigo testamento (Colossenses 2 : 14 – 17 ;
2Coríntios 3 : 14). Ensinar a igreja a praticar alguma obra da lei como o dizimo, é
furtar as Palavras de Deus é expor os que acreditam nessa doutrina à maldição: "Todos aqueles, pois, que são
das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo
aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da
lei, para fazê-las." (Gálatas
3 : 10).
Também
furtam e roubam a Deus todos aqueles que se omitem de ensinar o povo tais
verdades divinas, da maneira como Deus a estabeleceu. Fazendo assim privam os
fiéis de serem verdadeiramente abençoados e de servirem a Deus por amor e
gratidão e não por barganha ou por medo do suposto “devorador”. Mas o juízo
virá sobre os que tais coisas praticam.
"Meus
irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro
juízo." (Tiago 3 : 1).
Reginaldo
Barbosa
Santa Bárbara do Pará